Já aqui o dissemos e repetimo-lo agora: um blogue destina-se a imagem e a textos curtos. Ler textos longos no ecrã é cansativo e deve evitar-se. Porém, já abrimos algumas excepções e esta é mais uma. Primeiro, porque o texto é bom, se situa dentro dos interesses do Pd'B e, ao que parece, é inédito; segundo, porque o Viriato de Barros (grande e interessantíssimo conversador) foi nosso amigo e ainda por cima vizinho durante muito tempo; terceiro, porque o texto nos foi enviado pelo Arsénio, seu irmão e igualmente nosso amigo e longo colega de letras no jornal "Terra Nova"; e quarto, porque os manos Barros, Arsénio, Carlota e Viriato são sempre bem-vindos a este local de encontro de cabo-verdianos e aderentes. Segundo o Arsénio nos confiou, o próprio Viriato e Nhô Roque Gonçalves, entre outros, são personagens do conto.
Aqui fica pois, a suculenta prosa. Em breve, outra virá, pois de duas se trata.
ELOS DE LIGAÇÃO (1)
Há muitos anos que João Mendes vivia afastado da mulher. Não que estivessem divorciados, ou coisa parecida. A mulher vivia noutra ilha, onde ele tinha uma casa, a que de longe em longe regressava por alguns meses, para depois voltar para o cubículo que alugara em São Vicente, onde tinha montado o seu escritório. O cubículo tinha duas divisões, uma que era o quarto de dormir e outra que funcionava como sala de estar, escritório, cozinha (um fogão Primus, uma frigideira, duas panelas e uma cafeteira). Tinha duas estantes com livros, alguns muito antigos, e uns poucos novos, mas bem manuseados. Sobre a mesa de sala havia sempre algumas revistas e um ou outro jornal. Um sofá e três cadeiras completavam a mobília. A um canto uma cortina separava a sala do espaço onde funcionava a casa de banho. Era uma daquelas casas antigas de um só piso muito comuns no Mindelo.
João Mendes vivia só. Uma rapariga dos seus vinte e seis anos aparecia a certas horas para lhe preparar as refeições e tratar-lhe das roupas, da arrumação e limpeza da casa. Falava muito pouco e não dava confiança, deixando muito claro que não estava lá para outra coisa senão trabalhar e receber o seu dinheiro no fim do mês. João Mendes era um homem de idade e tinha mau feitio, muito difícil por vezes de aturar. Os seus amigos constantes e de longa data conheciam-lhe o feitio e davam-lhe o devido desconto, porque, apesar da sua má catadura, João Mendes era um homem de valor e amigo dos seus amigos. Era normalmente verrinoso nas suas críticas pessoais, mas com o tempo poucos levavam a sério as suas tiradas contra os que tinham a infelicidade momentânea de lhe cair na alçada maldizente, a que raros escapavam. Se não era por uma razão, era por outra.
Uma coisa era certa, ninguém o tratava por Nho Jon, ou se dirigia a ele dizendo-lhe “Ah nha Jon...”. Todos o conheciam por Senhor João. E assim se dirigiam a ele. Essa é, aliás, uma misteriosa distinção que em São Vicente se faz, difícil de analisar, mesmo pelos mais propensos a análises sociológicas. A começar pelas Senhoras, mas aí a distinção não é entre “Senhóra” e “Nha”, mas sim entre “Dona” e “Nha”. Há mulheres que são tratadas infalivelmente por Nha: Nha Rosa, Na Chica, Nha Bina, Nha Maria. Há outras às quais se cola definitivamente “Dona”. Dona Bibi, Dona Zizi, Dona Maria...Em certas situações a identificação com a camada social a que a pessoa pertence, ou em que se situa pela sua postura, é evidente. Sim, porque há uma postura de classe que corresponde a certos maneirismos ou conjunto de atitudes e posicionamentos que nem sempre correspondem à situação económica real da pessoa. A não ser talvez por mera herança nominal. Vai-se a situação económica e fica a postura, ou melhor talvez, a posição. Posição, aliás, um termo que entrou em decadência sob o efeito da liquidação revolucionária. Não que as posições tenham desaparecido. Ninguém diria “pessoa de posição” para se referir a alguém bem colocado na estrutura hierárquica da sociedade pelos cargos que exerce ou pelo seu poder económico. As posições, portanto, não deixaram de existir, nem tão pouco as suas vantagens relativas na escala social.
A distinção entre nhô e senhor, nha e dona continua a não ser tão simples como parece. Pode ser que tenha a ver com o grau de familiaridade que as pessoas consentem aos outros. Há pessoas que não dão confiança. Nem um milímetro. Ninguém se lembra de as tratar por nhô ou nha. Senhor, ou nada.
João Mendes pertencia, portanto, a essa categoria de pessoas. Mateus cultivava a sua amizade como uma herança paterna, pois sempre fora um grande amigo do pai. Visitava-o religiosamente sempre que podia, e ultrapassava habilmente as suas manifestações de mau feitio com um certo humor, não as levando a sério, ou, então, respondendo-lhe taco a taco, quando isso se proporcionava.
Apesar da grande diferença de idades, não o tratava por Senhor, mas tão-somente por João Mendes, ou por Você, conforme os casos. Essa atitude parecia assegurar-lhe a necessária reciprocidade de respeito pela parte do seu amigo mais velho.
Uma outra visita assídua de João Mendes era o Professor, a quem ele tratava por Toi, seu contemporâneo de estudos e outras andanças e conterrâneo da mesma ilha. Era o período de transição para a independência e a situação política do momento vinha inevitável e frequentemente à baila nas conversas, entre dois grogues e os noticiários da rádio.
Mateus folheava uma das publicações que na altura circulavam. Entretanto, chamou-lhe a atenção um poema que, numa hiperbólica e retumbante metáfora, descrevia o partido recém-chegado, ainda que parcialmente, ao poder como um enorme vergalho que tinha penetrado as entranhas da terra cabo-verdiana, emprenhando-a num colossal coito telúrico, promissor de um parto auspicioso.
Mateus leu em voz alta os primeiros versos do poema. Levantou os olhos para fitar os dois interlocutores e ver o efeito da leitura, feita com a ênfase que a natureza dos versos requeria. Mas perante a mudez dos seus ouvintes, não resistiu ao impulso de os provocar.
– Quer dizer, estamos f...
– Estamos não, está você! Você é que anda com eles. – reagiu imediatamente o Professor.
A conversa ficou por ali, e a poesia também. Mateus teve a sensação de que o tiro lhe saíra pela culatra ao ser identificado com “eles” daquela forma pelo Professor. O pronome plural atirado assim tinha uma inconfundível carga negativa. Mas não desistiu. Achou que, para ser consistente com o que lhe parecia ser a verdade, devia separar o milho da monda, mas não adiantou muito. Ele próprio tinha consciência de que, qual erva daninha que invade o chão onde o milho cresce, o oportunismo e o entrismo galgavam as encostas do poder, aproveitando os socalcos já erguidos por outros. Era-lhe difícil não reconhecer a condescendência dos novos senhores, que faziam vista grossa às “tropelias” dos vanguardistas de ocasião, convictos de que, em última análise, iam jogando a seu favor, ao executarem um trabalho de sapa que não ficaria bem à sua imagem assumir. A parte suja da política assumida como inevitável na lógica de que os fins justificam os meios.
Como então separar o milho da monda?
A verdade é que à sombra do poder abrigavam-se os oportunistas na mira de obter vantagens, e o novo poder rodeava-se de uma certa aura que os seus detentores iam distribuindo de acordo com o seu próprio e exclusivo critério e a sua simpatia. O núcleo dirigente centralizou-se na capital e dali irradiava, com extrema e cautelosa parcimónia, directivas vagas, ao sabor das informações que lhes iam chegando da periferia e daqueles a que chamavam as bases, através dos seus informantes mais iluminados.
Espontaneamente foram-se formando subgrupos e grupúsculos entre os estudantes, funcionários e trabalhadores cujos líderes ganhavam por sua vez auras próprias, constituindo-se em pequenos feudos politicamente neo-iluminados. Não sendo possível transformar-se de um dia para o outro a estrutura económica e social do meio em que se desenvolviam esses grupos, optavam por começar pelo imediatamente possível, ultrapassando todas as formas de contenção e os constrangimentos que anteriormente inibiam a sua acção, quebrando barreiras e eliminando normas e padrões de conduta, entretanto rapidamente substituídas por valores de ocasião. O entusiasmo idealista de muitos sobrevivia através de actos de solidariedade e acções conjuntas empreendidas dentro de uma ordem nova que se consubstanciaria na criação de novas estruturas em que se constituía um Estado emergente, na remodelação de instituições antigas e edificação de outras segundo um novo projecto de sociedade.
O vazio de poder que se tinha instalado durante uma fase de transição e os seus efeitos anarquizantes foram a pouco e pouco sendo preenchidos pelas novas estruturas organizativas, enquanto paralelamente se instituíam os novos símbolos e marcas do poder, do que constituía agora o Estado, a República de Cabo Verde. Ainda que muitas dúvidas subsistissem numa considerável parte, se não na maioria da população, os receios maiores foram-se diluindo, no dia-a-dia, na luta pela vida e daquilo que cada trabalhador, cada funcionário, cada homem, cada mulher e cada criança em idade escolar considerava ser as suas obrigações, e a caminhada prosseguia, aderindo uns por convicção, acomodando-se outros por conformação com o que lhes parecia inelutável, responsabilizando-se outros, quer por dever de consciência cívica, quer pelo que consideravam dever de militância partidária. O Estado de Cabo Verde surgiu desse esforço e consentimento conjuntos, mau grado os constrangimentos e receios quanto à sua viabilidade, sentimentos justificados pela consciência da exiguidade dos recursos que sempre marcou a vida da população das ilhas.
Os que confiaram cegamente nos novos dirigentes diziam: “Mas eles sabem o que estão a fazer. Não são pessoas irresponsáveis!”. O benefício da dúvida. Sobretudo quando se tinha investido tanto em esforço humano, para muitos, com o risco da própria vida.
Para muitos agora era uma questão de nadar, uma vez atirados ao mar. Para outros, uma confiança total na viabilidade do projecto cuja execução exigia não só uma direcção segura e hábil, mas forçosamente também, o empenhamento de toda a população, o que implicava uma acção mobilizadora e pedagógica a todos os níveis.
Até onde era possível levar esse idealismo? Qual era o limiar de resistência ao desgaste provocado pelos insucessos, pela fadiga, pelas frustrações a que não escapam todos os projectos de longo prazo? Como evitar ou controlar os entrismos e o oportunismo das aves de rapina que rondam esses processos, sempre à espera da melhor altura para aterrar em voo picado.
Mateus associou-se a um grupo de trabalho porfiado em manter-se fora da aura do poder com que muitos se fizeram crismar junto dos novos portadores dessa carismática capacidade.
À mediada que se alargava a instalação das estruturas organizativas do partido único ou, como uma vez um militante comprometido em algumas acções significativas teve o cuidado de corrigir Mateus, do único partido.
Jogo de palavras ou não, de facto, depois da razia levada a efeito pelas extensivas tarefas de mobilização ou manipulação de massas conforme o ângulo de visão a partir do qual se aprecie o processo, acabou por ser o único partido. Pelo menos, o único visível, já que nenhum outro ousaria, nas circunstâncias, vir à tona para se expor. Criou-se uma nova entidade política chamada de “prisioneiros de consciência” e outra correlacionada designada como “auto-censura”.
Com o tempo, os prisioneiros de consciência e da auto-censura, abrigaram-se numa forma silenciosa de resistência ao novo regime, ou aos que nele se apoiavam para o exercício dos seus abusos pessoais, enquanto no silêncio político essa entidade indefinidamente referida como o povo, ia gerando em si uma espécie de fastio, uma forma de repugnância específica em relação aos que supostamente tinha elegido como sendo os seus legítimos representantes, bem como em relação a todos os símbolos do poder que representavam.
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Era uma dessa muitas “sessões” promovidas pelos comités locais, a que chamavam “de esclarecimento”.
– Hoje vieram outra vez falar para o resto dos burros que ainda não entenderam. – disse Marinela, que estava sentada ao lado de Mateus, no anfiteatro onde se realizava a sessão.
– Ou será antes de aviso para os que não querem entender.
– Acho que é as duas coisas.
Eram três os membros do comité que assumiam esse papel de esclarecedores junto desse sector da população.
– Se neste momento eu estivesse para ter um filho, saía com a cara desse fulano aí.
– Explica-me isso melhor...
– Não sabes que quando uma mulher está para parir, o filho sai com a cara da pessoa que lhe dá mais raiva. Já não posso olhar para aquele homem... E vejo-o em todo o lado a ditar sentenças ...
Marinela era, por feitio e natureza, propensa a utilizar a crítica, a maior parte das vezes sarcástica, em todas as situações que implicavam com os seus critérios de apreciação do comportamento do seu semelhante. Não controlava esse insaciável apetite por uma boa tirada sarcástica, quando a ocasião lhe aparecia. Sendo uma mulher culta por formação académica, e que as pessoas em geral consideravam inteligente e dessa espécie de inteligência atenta às contradições e fraquezas do homo sapiens, Marinela parecia demasiado silenciosa nos últimos tempos, silêncio que intrigava quem a conhecia. Como estaria ela a encarar todas estas transformações mais recentes na sociedade mindelense, no comportamento das pessoas, nas mudanças bruscas e diametrais de posição política em tantos, nos aproveitamentos súbitos da confusão e das indefinições do momento. Mas perante este seu desabafo, Mateus, tranquilizou-se, como se isso lhe garantisse uma daquelas permanências que não se querem perder, como a do imutável carácter de Marinela. Já não era a Marinela apenas, essa que intimidava os rapazes mantendo-se sempre a uma distância de defesa, distância que manipulava pela destreza agressiva com que esgrimia com palavras. Era, por tudo o que valia aos seus olhos, a lucidez analítica de alguém que não parecia deixar-se arrastar pela corrente do momento, mas antes a acompanhava pela margem seguindo em frente o seu rumo. Observava e comentava.
Terminada a sessão, Mateus, abandonou o edifício e seguiu por uma das ruas que o levava a casa. Quase maquinalmente encaminhou os passos até à casa dos seus parentes que moravam ali perto. Encostado à porta, no seu posto habitual de observação, Júlio ia acompanhando a sua aproximação.
– Agora não fazem outra coisa, não é? É só reuniões... disse, quando Mateus se aproximou.
– É. É isso mesmo. E tu daí a tomar nota.
– Não queres entrar um bocadinho? Queria falar contigo.
Mateus entrou, e mesmo sem lhe dar tempo para a troca costumeira de galhofas com a dona da casa, sua prima Gina, Júlio encaminhou-o para a sala de visitas onde nunca se sentavam a conversar. A sala era reservada apenas para certas ocasiões e situações.
– Senta-te aí – disse num tom e com uma expressão no rosto que não lhe eram habituais.
– O que é que se passa? – perguntou Mateus preocupado já com a estranha alteração no comportamento de Júlio.
– Vou-me embora desta terra.
– O que é que me estás a dizer?
– Vou-me embora com a minha família. Já não consigo viver cá.
– Mas porquê? E para onde é que vocês vão nesta altura?
– Sabes que a tua prima tem direito de entrada na América como imigrante por via do pai e dos irmãos que lá tem. Vamos embora para Boston. Já começámos a tratar dos papéis.
– De certeza que não se estão a precipitar? O que aconteceu para provocar uma decisão dessas, nesta altura da tua vida? Nunca quiseste sair de S. Vicente. Tu és como aquele passarão aí no cais da alfândega. Fazes parte disto. Sinceramente não consigo entender. Com essa é que eu não contava.
– Já vais entender. Tu ainda não estavas cá quando essas coisas se passaram. Não sei o que é que lhes subiu à cabeça com o 25 de Abril. Começaram a espalhar por aí que eu era informador da PIDE. Um bando de arruaceiros transformados em juízes populares abordou-me num daqueles dias, começaram a insultar-me, a chamar toda a espécie de nomes. Queriam levar-me preso à força. O que me salvou foi ter aparecido o professor Martins que ia a passar e começou a falar com eles. Disse-lhe se não tinham vergonha, passou-lhes um raspanete dos diabos e eles, por respeito ao professor deixaram-me em paz. O professor veio comigo até a casa.
– Mas porquê? Insistiu Mateus.
– Vou mostrar-te o porquê desta história toda da PIDE, etc.
Ao dizer isso, Júlio tirou do bolso uma carteira e daí um cartão verde meio estragado nos cantos e estendeu-o a Mateus.
Mateus tomou o cartão e observou-o. Tinha num canto esquerdo um emblema que lhe era familiar desde os primeiros anos de escola, o emblema da Mocidade Portuguesa.
– Há quanto tempo guardas isso?
– Desde os tempos em que andava no Liceu.
– Comandante de castelo?!
– Isso mesmo, comandante de castelo. Eu até tinha orgulho nisso…
– Mas o que é que tem esse cartão?
– O que tem é que, muitas vezes, mostrava-o a certos tipos para os impressionar, incluindo guardas de alfândega. Dizia-lhes que eu era da PIDE. Mas só lhes mostrava o cartão de longe e metia-o logo no bolso para não lhes dar a possibilidade de lerem com atenção. Sabes que eu tenho os meus negócios de bordo, e essas coisas.
– Mas que interesse é que isso tinha para ti?
– Às vezes, queriam chatear-me, e eu mostrava-lhes o cartão e dizia-lhes que era da PIDE. Impor respeito, estás a ver. E então?
– Agora andam a perseguir-me, dizendo que eu era da PIDE. Desde que se deu o 25 de Abril. Estás a ver a minha vida?
– Tiveste alguma coisa a ver com a PIDE?
– Eu?! Deus me livre! Dava-me com alguns deles, mas isso era nos meus negócios. Contava-lhes umas larachas e coisas. Convinha estar bem com essa gente. Sempre vivi de negócios. Não quero saber de política para nada. Isso é para vocês.
– Vocês, quem? – provocou Mateus.
– Vocês que tiraram cursos.
– Mas eu não ando na política.
– Sabes o que quero dizer. Não te faças agora desentendido.
A conversa continuou nessa toada e Mateus ficou a saber que o marido da sua parente tinha estado quase a ser preso como informador da PIDE. Foi salvo de ir para a cadeia in extremis pelo dito professor, que, tirando partido do respeito que tinham por ele, falou aos representantes da autoridade improvisados na refrega do vazio de poder que se tinha instalado no momento num tom suficientemente convincente para dissuadir o grupo dos seus propósitos. Passou o braço pelo ombro do amigo e acompanhou-o no caminho que o levava até a casa. Dado o respeito que tinham pelo professor, os autoproclamados representantes do poder popular deixaram-nos ir em paz, ainda não totalmente convencidos da inocência do seu arguido.
A certo passo Júlio interrompeu o seu relato.
– Vês por que não posso continuar nesta terra?
Viriato de Barros Fermino de Pina
Texto adaptado da Wikipedia
Viriato de Barros nasceu em Vila Nova Sintra, na ilha Brava, Cabo Verde. É autor dos livros "Identidade" (2001) e "Para Lá de Alcatraz" (2005). Depois de ter trabalhado como professor do ensino secundário em Portugal, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Moçambique (Quelimane) regressou a Cabo Verde em 1975, tendo entre 1975 e 1985 exercido sucessivamente os cargos de Director do Ensino Secundário e responsável pelos Assuntos Culturais e de Cooperação do Ministério da Educação, Conselheiro de Embaixada e Chefe do Departamente de África, Ásia e Oceania do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e como membro do Quadro Diplomático foi Encarregado de Negócios de Cabo Verde em Washington (1978-1980) e Embaixador de Cabo Verde no Senegal e mais tarde Embaixador na Santa Sé, não residente (1984-1985), cargo que exerceu acumulativamente com o de Conselheiro do Presidente da República. Em 1985 deixou Cabo Verde, após ter sido seleccionado mediante concurso, para o lugar de jornalista da Voz da America, tendo trabalhado como jornalista daquele órgão de comunicação social em Washington de 1986 a 1988, ano em que regressou a Portugal, tendo-se então reintegrado na função pública portuguesa, novamente como professor do ensino secundário. Foi membro do Conselho Científico e investigador do Centro de Estudos Multiculturais, associado à Universidade Internacional de Lisboa. Faleceu em 7 de Fevereiro de 2018. Ver AQUI
Tenho uma vaga ideia de já ter lido este conto do Viriato de Barros. Se sim ou se não, apreciei relê-lo. Aqueles tempos revolucionários tiveram o seu lado pitoresco, como é dado ver neste conto, em meio à indiscutível gravidade das decisões que então se tomaram relativamente ao destino do povo das ilhas.
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