segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

[7322] Post 1500 de 2022

Neste final de 2022, como acontece todos os anos, as solicitações para lançamentos de livros e inaugurações de exposições são mais que muitas. Com essas actividades em carteira (nem todas poderão ser cumpridas) e com vários textos para escrever, o "dono" do Pd'B retira-se... em retiro. 

As Boas Festas estão dadas e a missão mindelense, são-vicentina e cabo-verdiana está mais uma vez cumprida, pela vez primeira com 1500 posts lançados num só ano, divulgando-se notícias seleccionadas e momentos antigos e modernos da história e cultura das ilhas. Há outro blogue assim? Se houver, indiquem-no, para lhe darmos os parabéns. 

Um braça pertóde pa tude munde e até 2023.



[7321] Cabeçalhos antigos do Praia de Bote

[7320] Praia de Bote encerra o ano com a publicação de um texto publicado no jornal "Terra Nova", alusivos à relação do poeta José Lopes da Silva com o Brasil (ver post anterior)

CONTRIBUTOS PARA O ESTUDO DAS RELAÇÕES CULTURAIS ENTRE CABO VERDE E O BRASIL


Joaquim Saial, 

Jornal "Terra Nova" (CV), Fevereiro.2014


Pode ler-se no carioca Jornal do Brasil de 18 de Janeiro de 1933 um texto de crítica literária demonstrativo do interesse que as coisas cabo-verdianas já despertavam na altura entre a intelectualidade e a imprensa daquele país latino-americano de expressão portuguesa – no caso, associado ao poeta das ilhas, José Lopes da Silva [1]. Daí, a nossa crónica desta feita descer do Atlântico Norte ao Sul, em águas de igual gosto lusófono, sentido por irmãos brasileiros, cabo-verdianos e portugueses. Este é o primeiro de dois textos que escrevemos sobre o tema. O segundo figurará no próximo número deste jornal.

José Lopes da Silva, uma paixão pelo Brasil

O aludido texto, publicado no Rio de Janeiro pelas oficinas gráficas do Jornal do Brasil nesse mesmo ano, reproduzia o discurso de José Lopes da Silva na Câmara Municipal de São Vicente, escrito por ocasião da passagem pela ilha, a 24 de Maio do ano anterior, do cabo-verdiano Martinho Nobre de Melo, então embaixador de Portugal no Brasil, que se dirigia ao Rio [2]. Dizia o autor que se tratava de notável peça de oratória que convinha "ser conhecida de todos e principalmente dos que [sabiam] aquilatar da vernaculidade da língua portuguesa, tal [era] a expressão do tribuno erudito que se [revelava], nesse trabalho, um atleta da linguagem castiça, dos grande lances oratórios e do pensamento fecundo." Prosseguia o texto: "O discurso, que ocupa (2…) [3] páginas do folheto recebido é uma saudação ungida de afecto do venerando professor ao Dr. Martinho Nobre de Melo, seu discípulo na adolescência, aferindo as qualidades de carácter e talento do homenageado em todos os postos da sua vida pública, como as dos mais eminentes patrícios." Mais curiosa, pela inclusão de pedido local, era a referência à esposa do embaixador. Afirmando que pelo nome (Alexandra) ela era "defensora do homem", invocava o orador o seu auxílio em favor da mocidade escolar cabo-verdiana. Terminava o trecho com cumprimentos ao também ali presente antigo senador Augusto Vera-Cruz, então cônsul do Brasil em São Vicente. A representação brasileira no arquipélago iria ser detida pouco depois, como veremos, pelo próprio poeta José Lopes da Silva, por morte do senador Vera-Cruz, a 5 de Dezembro desse ano [4].

A 3 de Novembro, Lopes da Silva surge-nos em A Noite [5], outro jornal do Rio, a propósito do livro "Hesperitanas", saído em Lisboa em edição da Livraria J. Rodrigues [6]. Chamavam-lhe ali "notável poeta" diziam-no "festejado nos círculos da elite cultural brasileira" e consideravam-no "uma das mais pujantes cerebrações contemporâneas, sendo as suas obras difundidas em vários continentes". A notícia tem erros de impressão mas percebe-se que ali se fala em referências à mãe-pátria e em "hinos calorosos ao Brasil [7] com entusiasmo marcado em versos de doçura e espontaneidade indizíveis." Martinho Nobre de Melo retribuía agora as palavras produzidas pelo seu mestre no Mindelo, prefaciando as "Hesperitanas". Concluía o texto com a seguinte declaração: "Sua obra é de vulto e bem merece o alto conceito em que é tida no julgamento dos expoentes da literatura nas duas pátrias irmãs. 'Hesperitanas' está fazendo um grande sucesso pois os seus poemas instruem, encantam e deliciam."

A 29 de Outubro de 1934, ainda em A Noite [8], dava-se a conhecer a nomeação do poeta pela chancelaria brasileira para o cargo de vice-cônsul do país em São Vicente de Cabo Verde. E os elogios à sua figura continuavam: "O festejado homem de letras sempre se revelou grande amigo do Brasil, tendo dedicado ao nosso país diversas das lindas páginas do seu recente livro de poesias – 'Hesperitanas' – que teve larga aceitação entre nós." O jornal revelava ainda um aspecto que pode ter tido alguma influência na escolha do poeta para o cargo diplomático: o facto de seu filho, Francisco Lopes, prestigiado oficial da marinha mercante brasileira ser funcionário da Companhia Comércio e Navegação na qual exercia o cargo de administrador da ilha de Caju [9] e chefe dos serviços marítimos.

Esperaremos até Janeiro de 1938 [10] para vermos o poema "Osmologia" (reflexos do poeta inglês Richard Lovelace [11]) de José Lopes publicado no Jornal do Brasil. Mas no mês seguinte surge em A Noite a notícia da saída do seu ensaio sobre Getúlio Vargas [12]. Ali se reafirmava a ligação do poeta cabo-verdiano ao Brasil: "O autor desse opúsculo, que exerce actualmente o cargo de vice-cônsul sempre se revelou sincero amigo do Brasil ao qual está ligado não só por laços espirituais mas também por liames de família pois tem filhos que são cidadãos brasileiros. José Lopes, que é oficial da Academia Francesa e comendador da Ordem de Instrução de Portugal, não perde uma só oportunidade para elogiar o nosso país, como fez, com brilho, nos versos do seu livro 'Hersperitanas'. Seu novo ensaio, agora editado, vem demonstrar mais uma vez a carinhosa atenção que dispensa a quanto se relacione com a vida e o destino do Brasil."

Francisco Lopes da Silva, uma morte imprevista

Curiosa e ainda elucidativa do interesse dos Lopes da Silva pelo Brasil é a notícia sobre ambos em mais um exemplar de A Noite, de 20 de Fevereiro de 1941 [13]. Ao cabeçalho "Dois poetas de Cabo Verde – 'Recordações", de Francisco Lopes e 'Ombres Immortelles' [14], de José Lopes" sucedem-se algumas dezenas de linhas em que se conta que José Lopes enviara para a redacção do jornal uma plaquette com esse título, contendo vinte sonetos em francês, "demonstração do seu completo domínio na língua de Racine". Sombrios, os poemas aludiam a grandes figuras da história e das artes, como Napoleão, Frederico II, Beethoven, Mozart, Bellini, Goethe, Voltaire, Rousseau e outros. Quanto ao livro do filho Francisco, esse era publicado através das oficinas gráficas do Jornal do Brasil. Chamava-se-lhe "herdeiro do talento paterno, um legítimo e inspirado poeta". No mesmo local se contava que era frequente colaborador de jornais cariocas, como articulista cujos escritos sobretudo incidiam em questões de transportes marítimos. Era esta a sua estreia como poeta e a mesma considerada auspiciosa pela crítica que referia haver no livro "excelentes trabalhos que lhe asseguravam uma unidade perfeita". Terá sido no entanto obra única, pois Francisco José Lopes da Silva, português de origem cabo-verdiana mas naturalizado brasileiro, suicidar-se-ia pouco depois [15]. Por motivos de intrigas na sua actividade profissional consubstanciadas em invejas de superiores e companheiros, pôs fim à vida na ilha de Caju com um tiro na cabeça. Deixou viúva, quatro filhos… e três cartas de despedida: ao Secretário de Segurança Pública do Estado, ao almoxarifado da companhia onde prestava serviço e à esposa, Leonor. Na primeira, despedia-se do "pai e [de] todos da família de além-mar". Tinha 53 anos, quando foi enterrado a 19 de Junho de 1947 [16]. José Lopes sobreviver-lhe-ia 15.

[1] José Lopes da Silva (São Nicolau, 1872 – São Vicente, 1962). Entre outras actividades profissionais que desenvolveu, foi professor primário na ilha da Boavista e depois no Mindelo, de Latim, Português, Francês e Inglês no Liceu Infante D. Henrique, antecessor do Liceu Gil Eanes.

[2] Um outro discurso, feito durante o banquete de homenagem ao embaixador, este pelo Dr. João Gomes da Fonseca, teve publicação em São Vicente (ed. Sociedade de Tipografia e Publicidade), também em 1933. Existe, na Biblioteca Nacional de Lisboa.

[3] O cardinal é de difícil leitura, talvez 21 ou 24.

[4] O senador Augusto Vera-Cruz representou os interesses de Cabo Verde no parlamento lisboeta desde 1912 a 1926, quando a ditadura substituiu a I República em Portugal.

[5] P. 2.

[6] Supomos que se tratará da 2.ª edição da obra que teve 1.ª em 1929, pela mesma editora lisboeta.

[7] Por exemplo, o famoso poema "Ao Brasil", escrito anos antes, em 1919.

[8] P. 2.

[9] A ilha situa-se no delta do rio Parnaíba, no estado do Maranhão.

[10] 30.01.1938, p. 7.

[11] Poeta inglês do século XVII.

[12] 09.02.1938, p. 4. Getúlio Vargas (1882-1954) foi Presidente da República do Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, tendo terminado o seu segundo mandato por suicídio do político.

[13] P. 2.

[14] Ed. J. Rodrigues e Ca., Lisboa, 1940. Existe na Biblioteca Nacional de Lisboa.

[15] Posteriormente à saída deste artigo no Terra Nova verificámos que Francisco Lopes da Silva publicou pelo menos outro livro, "Recordações", Rio de Janeiro, Brasil, 1940, e um pequeno opúsculo, "José Luís de Melo", Rio de Janeiro, Brasil, 1939. A indicação foi-nos dada verbalmente por João Manuel Nobre de Oliveira e depois confirmada no seu monumental livro "A Imprensa Cabo-Verdiana, 1820-1975", ed. Fundação Macau, Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1998.

[16] Ver várias referências na imprensa brasileira desta data e de datas subsequentes próximas.

[7319] Homenagem ao poeta José Lopes da Silva

Ver AQUI

[7318] A riqueza das montanhas de Cabo Verde

Ver AQUI

Foto José Carlos Marques


[7317] Serenata no Mindelo, em memória de Cize

Ver AQUI

[7316] Material que chegou ao Mindelo, em Janeiro de 1933

 

[7315] Gente do Mindelo, gente de leituras (pelo menos, em 1932)

domingo, 18 de dezembro de 2022

[7314] Associação de Turismo de Santiago em audiência com o Presidente da República

Caras e caros membros do CD da Associação de Turismo de Santiago 

Queiram encontrar em anexo a síntese dos tópicos da exposição que uma delegação da Câmara de Turismo de Cabo Verde (CTCV) fez, em audiência, a Sua Excelência o Senhor Presidente da República, no passado dia 16 do corrente mês de Dezembro.

Esta delegação foi composta por mim próprio e pela nossa colega da ATS, Maria São Graça, enquanto vice presidentes da CTCV, mandatados para representar a Câmara, no âmbito da audição às organizações da sociedade civil, promovida pelo Senhor Presidente da República a propósito da promulgação do OE 2023.

No link a seguir podem ver uma peça inserta no Expresso das Ilhas sobre a referida audiência.

(Transportes: Câmara do Turismo de Cabo Verde propõe modelo diferente que estimula a mobilidade no país  https://ilhas.li/vLlp)

De facto, como relata o Expresso das Ilhas, um dos tópicos das abordagens da CTCV foi precisamente a disponibilidade da Câmara para se envolver na solução dos constrangimentos que afligem o país no tocante aos transportes interilhas.

Na última reunião do CD da CTCV foi deliberado este envolvimento da Câmara, nomeadamente utilizando a solução adotada pelo Governo dos Açores.

Outros pontos importantes para a atividade do nosso sector, conforme podem ver no anexo, foi a consideração do ano de 2023 como o ano da consolidação da retoma do turismo em Cabo Verde e, para o efeito e no tocante às ilhas que não o Sal e a Boavista, a reativação das Associações de Turismo.

Caras e caros,

É pois urgente criarmos as condições para o reforço da atividade da nossa Associação, de molde a cumprirmos este desígnio da CTCV, transmitido ao Senhor Presidente da República.

Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e um Bom Ano Novo.

Eugénio Inocêncio

 

Audiência concedida pelo Senhor Presidente da República, 16 de Dezembro de 2022: síntese dos tópicos para exposição

A Câmara de Turismo de Cabo Verde (CTCV), na última reunião da sua direção concluiu que o ano de 2023 pode ser o da consolidação da retoma do Turismo em Cabo Verde

Para isso, concebeu já um programa intenso dirigido a todas as ilhas, com destaque do Sal e da Boavista.

Programa relativo ao reforço da oferta aos turistas, mas também de contribuição para a solução de pequenos/grandes problemas que têm dificultado o desempenho e qualificação do turismo, nomeadamente nas ilhas do Sal e da Boavista.

Em relação às demais ilhas para além do Sal e da Boavista, a reativação das associações de turismo é um dos principais objetivos.

O mapeamento das ofertas turísticas em todas as ilhas vai ser um dos projetos de eleição da CTCV e das Associações de Turismo.

A questão da ligação aérea e marítima entre as ilhas é outra matéria importante de destaque da ação de parceira da CTCV

O mesmo em relação à abertura de novos mercados emissores, complementares aos já existente, nomeadamente da Costa Ocidental do continente africano.

Em relação ao OE de 2023, a CTCV considera que de facto é um instrumento da maior importância para a retoma e qualificação do Turismo nacional. Neste sentido a CTCV destaca a importância da continuação da modernização em curso do sistema fiscal, bem como a urgente sistematização dos diversos modelos de atracão do investimento externo.

Além das questões do OE, a CTCV destacou outras a considerar para a consolidação do Turismo, o motor da economia, destacadamente:

a) A conclusão da transferência de competências do Governo para a CTCV e as Associações de Turismo

b) A criação de um Banco de Fomento que acelere o financiamento da atividade económica

c) A criação da rede das Centrais de Compras nas ilhas, nomeadamente que permita a qualificação da oferta dos produtos e serviços nacionais aos turistas, da agricultura, da pecuária, das pescas e do artesanato nacional.

e) O reforço substancial da segurança jurídica em Cabo Verde, nomeadamente no que diz respeito à rapidez das decisões.

[7313] Para os mais distraídos, o Prémio Tartaruga de Ouro do Praia de Bote

O prémio de 2020 talvez já esteja esquecido, mas trata-se possivelmente do mais justo de todos eles. José de Brito, cabo-verdiano a viver em Lisboa, estando a passear com o filho junto ao Terreiro do Paço, atirou-se ao Tejo para salvar um homem que a ele tinha caído. José de Brito conseguiu salvá-lo. Ver AQUI

[7312] Foto de "nhô Roque", António Aurélio Gonçalves, por Leão Lopes, existente no arquivo da Fundação Mário Soares, Lisboa


[7311] Uma antiga fotografia do Porto Grande e do Monte Cara, da Foto Melo

[7310] Era Julho de 1937 e havia uma grande "firma" no Lombo do Mindelo

[7309] Era Julho de 1937 e a barca "Sagres" estava mais uma vez no Mindelo


[7308] Era o final de ano de 1971


 

[7307] São Vicente: vem aí a Feira das Oportunidades, na Praça D. Luís

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Foto José Carlos Marques

[7306] A igreja católica no Sal

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sábado, 17 de dezembro de 2022

[7305] E em 1896 a "Zulmira" levara 30 emigrantes cabo-verdianos da Brava para Boston (ver post anterior)

[7304] Era Junho de 1901 e havia varíola a bordo da escuna "Zulmira", chegada a New Bedford

[7303] Era Fevereiro de 1899 e Cabo Verde ia a Paris

[7302] Uma curiosa curiosidade de Novembro de 1970

[7301] Um dos postais recebidos por Alda Pinto (ver dois posts anteriores)


[7300] Um dos postais recebidos por Dorothy Pinto (ver post anterior)

[7299] Próximo artigo de Joaquim Saial no jornal "Terra Nova"

[7298] Cabo Verde e EUA assinam memorando no sector da Defesa

Ver AQUI

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

[7292] Música e livro, no Centro Cultural de Cabo Verde, Lisboa

[7291] As nossas Boas Festas de 2022

[7290] As nossas Boas Festas de 2021

[7289] As nossas Boas Festas de 2020

Frente
Verso





[7288] As nossas Boas Festas de 2019


[7287] As nossas Boas Festas de 2018


[7286] As nossas Boas Festas de 2017

[7285] As nossas Boas Festas de 2016


[7284] As nossas Boas Festas de 2015


[7283] As nossas Boas Festas de 2014