sábado, 19 de fevereiro de 2011

[0024] Correspondência postal entre os poetas Jorge Barbosa e Manuel Bandeira

Jorge Barbosa
A correspondência entre artistas é quase sempre uma mais-valia para um melhor conhecimento das suas personalidades. Neste caso de Jorge Barbosa (Ilha de Santiago, 1902 - Cova da Piedade, Almada, Portugal, 1971) e Manuel Bandeira (Recife, Brasil, 1886 - Rio de Janeiro, 1968) ela existe também. É pena que só aqui consigamos revelar o envelope de uma dessas missivas, enviada do Sal por Barbosa  (ilha onde se aposentaria em 1967, como director da Alfândega, depois de ter passado por diversas outras devido à sua profissão) ao colega brasileiro. Mas o "Praia de Bote", que tem muita coisa, não tem tudo...


Imagens eBay (clique nas imagens)

Manuel Bandeira
A carta é dirigida para a Av. Beira-Mar, n.º 406, apartamento 409, Rio de Janeiro. Tratava-se do edifício S. Miguel (designação que Barbosa não conhecia), onde Bandeira residiu antes de se mudar em 1953 para o apartamento 806 do mesmo edifício. Estamos em Junho de 1954 (assim o indicam os carimbos do correio), pouco antes de JB ter publicado "Caderno de um Ilhéu" e no mesmo ano em que MB publica "Itinerário de Pasárgada".

Seria delicioso saber o que esta carta levou através do oceano, desde o Sal até ao Rio. Na falta desse petisco negado, aqui segue excerto de poema significativo desta ligação entre dois grandes poetas de língua lusíada cujo título é... "Carta para Manuel Bandeira"

         Nunca li nenhum dos teus livros.
         Já li apenas
         a Estrela da Manhã e alguns outros poemas teus.
         Nem te conheço
         porque a distância é imensa
         e os planos das minhas viagens nunca passaram
         de sonhos e de versos.
         Nem te conheço
         mas já vi o teu retrato numa revista ilustrada.
         E a impressão do teu olhar vagamente triste
         fez-me pensar nessa tristeza
         do tempo em que eras moço num sanatório na Suíça.

         Aqui onde estou, no outro lado do mesmo mar,
         tu me preocupas, Manuel Bandeira,
         meu irmão atlântico.
(...)

Pois este envelope que aqui se divulga é prova provada que os dois "irmãos atlânticos" acabaram  mesmo por contactar um com o outro.

Recomendamos aos interessados nestas duas figuras notáveis que cliquem nos links que aqui disponibilizamos, onde encontrarão bastante informação sobre as mesmas.

4 comentários:

  1. Apenas duas palavrinhas para acordar as minhas memórias de J.B., uma figura imensa, tão imponente física como mentalmente, vivendo no mundo da lua, mergulhado nos seus próprios devaneios literários, bom garfo, boa companhia, boa gente...

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  2. Trazer a memória destes dois homens de letras ao convívio do Praia de Bote é um acto de cultura que tem de ser assinalado. O Blogue está de parabéns.

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  3. Como bem diz Adriano Miranda Lima, recordar isso é um acto de cultura. Dois poetas MAIORES, Manuel Bandeira e Jorge Barbosa. Dizia o nosso Vário (Dr João Manuel Varela)que Jorge Barbosa esgotou poesia cabo-verdiana.

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  4. Estou chocada e emocionada com esse post. Obrigada.

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