"Chiquinho" é em Cabo Verde o equivalente a "Os Lusíadas" em Portugal, digamos que o livro nacional. Ou, se quisermos, sendo Cabo Verde país de língua (também) portuguesa, "Chiquinho" consubstancia para as gentes das ilhas uma espécie de irmão do de Camões...
O livro de Baltasar Lopes (1907-89) foi publicado pela primeira vez em 1947, com a chancela das edições Claridade. Depois disso, já viu muitas versões. A que o "Praia de Bote" aqui traz é de Dezembro de 1997. Como veio ele parar às nossas mãos? A história conta-se em três penadas.
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Estava eu em S. Vicente, em Julho de 1999, tentando encontrar a obra mestra de Nhô Baltas, sem o conseguir. Não houve livraria nem papelaria em que não entrasse à procura do apetecido livro, mas nada... Apesar de recentemente reeditado, parecia desaparecido. Até que, vendo-me quase em desespero de causa, alguém me disse que a única possibilidade talvez fosse contactar o Moacyr Rodrigues que o republicara na sua editora Calabedotche, dois anos antes. No Centro Cultural do Mindelo (a antiga Alfândega) deram-me o seu contacto e combinou-se encontro para ali mesmo, no dia seguinte. À hora prevista, lá veio ele com o livrinho que simpaticamente me ofereceu. Mais duas coisas lhe devo: ter-me autografado a peça e mostrado a porta do gabinete onde trabalhara o poeta Jorge Barbosa...
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E foi assim que obtive o primeiro dos quatro "Chiquinhos" que possuo, a história do menino nascido no Caleijão, ilha de S. Nicolau, que há-de ir estudar a S. Vicente (como era então inevitável, para quem em Cabo Verde queria prosseguir estudos para além da 4.ª classe) e regressar depois à terra que abandonará em breve, partindo enfim para a América para onde o pai também emigrara, seguindo o dramático destino da "hora di bai" cabo-verdiana.
Agora, as ligações: Baltasar Lopes da Silva foi meu professor no segundo ano do Liceu Gil Eanes - que tanto Moacyr como o herói Chiquinho também frequentaram; Moacyr é irmão de Titina, uma das vozes mais características de sempre da música cabo-verdiana e ela canta no primeiro disco que adquiri, ainda menino, integrada no Conjunto Cabo Verde; o pai de Moacyr foi salvo-erro piloto da "minha" Capitania dos Portos, embora anos antes de eu lá ter residido. Digamos que ao fim e ao cabo estamos todos ligados. E com Moacyr também já estive em outras ocasiões, em Lisboa, como no memorável lançamento do livro de Valdemar Pereira "O Teatro é uma Paixão - A Vida é uma Emoção", que apresentei na Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, em 8 de Maio de 2010.
Moacyr Rodrigues na AAAESCV (foto de autor desconhecido - clique na imagem) |
Seguir-se-ão, logo que possível, os meus três outros "Chiquinhos"...
Ficha Técnica.
CHIQUINHO
Autor: Baltasar Lopes
©Autor e Edições Calabedotche - S. Vicente
Ficha Técnica.
CHIQUINHO
Autor: Baltasar Lopes
©Autor e Edições Calabedotche - S. Vicente
Composição: Burótica de S. Vicente, Lda.
Impressão e encadernação: Gráfica do Mindelo, Lda.
Tiragem: 3000 exemplares
Mindelo, Dezembro de 1997
Na biografia de Baltasar Lopes no Wikipédia
ResponderEliminarhá umas incorrecções. Na frase "Em 1936, Baltasar Lopes, com a colaboração de outros escritores, como Manuel Lopes, Manuel Ferreira, António Aurélio Gonçalves, Francisco José Tenreiro, Jorge Barbosa e Daniel Filipe, fundaram a revista cabo-verdiana Claridade."
Bom, Manuel Ferreira só chegou a Cabo Verde nos anos quarenta. Aurélio Gonçalves também, ele em 36 vivia em Lisboa, mais tarde aderiu a Claridade mas não foi fundador. Tenreiro era de S. Tomé e nada teve a ver com a Claridade assim como Daniel Filipe, que nascido em Cabo Verde viveu sempre em Lisboa onde fez parte de movimentos lisboetas. Fundadores foram só Baltasar Lopes, Manuel Lopes e Jorge Barbosa.
João Nobre de Oliveira
Quem assim fala, não é gago!
ResponderEliminarEstá dito e aqui fica escrito.
Braça claridosa,
Djack