Valdemar Pereira |
"Mnine de Soncente", antigo funcionário da Western Telegraph Company, emigrante do Senegal, pai do teatro cabo-verdiano, funcionário da diplomacia portuguesa em África e na Europa, poço infindável de histórias e sobretudo grande cabo-verdiano, o nosso bom e estimado amigo Valdemar Pereira dá-nos o prazer da sua presença no PRAIA DE BOTE. Esperemos que para continuar...
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A Praia de Bote sempre me fascinou com suas estórias e suas riolinhas. Passava ali devagarinho, para poder desfrutar do que contavam, imaginando os factos, no espaço e no tempo, como se fosse eu o protagonista porque assim tinha mais piada.
Na Praia de Bote havia a casa da Chica de Cucuta, pretinha, gordinha "costa na tchom dnher na mom". Se ela não era bonita, a Chica era no entanto simpática, sempre vestida de branco e, muitas vezes, com uma beata atrás da orelha. Não, dela não vou contar nenhum facto. Imaginem! Pronto!
Dali, dessa praia, partiam os intrépidos pescadores que tanto admiramos.
Cheguei a ver uns que, antes, iam ao botequim do Bans "matar o jejum" com um bom copo de groque para depois entrar no barquinho de vela latina, verdadeira casquinha de noz, para a pesca em solitário no Canal.
Também assisti à chegada deles, por volta das seis da manhã, com um atum. Não sei se era o suficiente para o dia ou se só vinha uma unidade porque não havia frigorífico para conservar mais. Dava-me a impressão que iam buscar o pescado numa armadilha. Eles vangloriavam-se de conhecer a "linha do peixe".
Outras figuras desse lugar eram os que o faziam contrabando. Vinham de onde vinham, arrastavam o bote com a mercadoria dentro e esperavam o momento para passar. Era como que um desafio às autoridades marítimas que, estou certo, muitas vezes fechavam os olhos. Contam que um deles, muito conhecido pelas suas saídas (e também entradas !!!) repetia vezes sem conta o Grande Foco do Racionalismo Cristão e, no fim, dizia "Deus é Bom Pai". Mas tremendo de medo e querendo aliar todas as forças ocultas, arrematava de seguida "diabo também não é mau".
Penso que cada dia que passa o fascínio da Praia de Bote é um bocadinho maior em nós.
Praia de Bote, foto Joaquim Saial (clique na imagem) |
Embora esteja neste momento mal servido em meios informáticos, por me encontrar fora de casa, não quero deixar de saudar e aplaudir a entrada do novo colaborador Valdemar Pereira. Este mindelense puro e autêntico é, incontestavelmente, um grande reforço para a equipa da Praia de Bote. A sua memória é fidedigna e o seu reportório rico e inesgotável, um verdadeiro filão a explorar e a constituir preciosa herança para as gerações mais novas.
ResponderEliminarSem dúvida!
ResponderEliminarValdemar Pereira e Adriano Miranda Lima, dois mindelenses de gema, tornam o PRAIA DE BOTE ainda mais genuíno. Esperemos pelas próximas matérias de ambos.
Um grande abraço crioulo para Tours e para Tomar.
Boa aquisiçao para o blog. Parabéns Djack, parabéns Adriano, parabéns Valdemar. Bom trabalho.
ResponderEliminarMantenhas Fernando