domingo, 18 de setembro de 2011

[0118] Um barco como deve ser... para gente de Cabo Verde... da América

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O vapor era grande, rápido e moderno e preparava-se para zarpar dos States para S. Vicente de Cabo Verde. Ainda por cima, com cozinha cheia de stil e melhor sala de jantar. Não bastando todas essas mordomias, havia médico português a bordo, para aqueles momentos em que um pessoa ta fcá marióde, penso eu, ou para tratar uma apendicite repentina ou imprevisto ataque de asma... Nada mau, para quem tivesse uns bons dólares e assim se podia livrar de barcas e escunas, sempre saltitantes e perigosas. E ainda havia uns trocos para quem angariasse passageiros... nada mau, heim?

Era o ÁSIA e estávamos em Outubro de 1923. A coisa entretanto meteu boatos esquisitos, atrasos e o que mais nos arquivos anda e o PB desenterra todos os dias, paulatinamente, com o encantamento do investigador que sabe estar a acumular precioso tesouro que a devido tempo será trazido à luz em letra de forma - bem trabalhado (diríamos digerido) e com coisas do outro mundo, boas, divertidas, tristes e más... As más, as piores, as devoradoras fomes, de arrepiar. Mas por agora, fica-nos o ÁSIA. E já não é nada mau!

E agora reparem na palavra "Terça-feira". Aquês jornal mercóne ca tinha cedilha na sês tipos d'imprensa e viraram um 5 ao contrário para fazer o efeito. Genial, não é?  A necessidade é de facto mestra do engenho...

3 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar desta viagem que, afinal, acabou por não ser...A realizar-se, teria marcado indelevelmente a memória das gentes pois se tratava de um salto qualitativo enorme nas condições históricas das ligações USA/C.Verde.
    Abraço,
    Zito Azevedo

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  2. Houve outros, houve mais, nessa altura. Estou a lembrar-me do vapor "Canadá" que no final de 1922 partiu de Boston para a Madeira, levando passageiros para S. Vicente e Praia. O "Cabo Verde" era outro que fazia a carreira States/CV.

    Mas isto era para emigras com dinheiro. O povão ia nas escunas que eram mais que muitas como a "Margaret Haskins", a "Cláudia", a "Belmira" (que deu rosto a moeda de 5$00 no CV independente), a "América" e muitas, muitas mais. A "Ernestina" terá sido a mais famosa e ainda está vivinha da silva, lá nos States.

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  3. Deste navio nunca tinha ouvido falar. É mais um que aponto ao meu caderno, graças às pesquisas do Joaquim.
    Aproveito para transcrever aqui uma passagem de um texto da minha autoria:
    "O meu bisavô paterno era dono e armador do veleiro “Sirena”, um dos que faziam regularmente a carreira para a América do Norte. Naquele tempo, como se tem dito, os navios cabo-verdianos exploravam rotas comerciais para a América do Norte, que se regulavam pelas estações do ano, evitando sempre a inclemência do Inverno. Os veleiros transportavam para a América passageiros e produtos da terra e regressavam com mercadorias de fabrico americano. No intervalo entre essas viagens, demandavam os países da costa africana, transportando carga e passageiros, sendo o sal um dos produtos de Cabo Verde mais transaccionados com a África Continental. Numa viagem por volta de 1930, o veleiro “Sirena” desapareceu a caminho da América do Norte, ou no regresso, não sei ao certo, sem deixar rasto e sem que se conheçam as circunstâncias precisas do acidente marítimo, visto que naquele tempo não havia as actuais tecnologias e meios de socorro náutico. Comandava o navio José Gomes de Pina, genro do meu bisavô, que pereceu no naufrágio, assim como toda a tripulação e os passageiros que provavelmente nele seguiam, como era usual à época."

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