No meu arquivo de Cabo Verde, religiosamente conservado, há de tudo: desde as coisas estranhas às curiosas, várias históricas, outras divertidas e até algumas tristes, como esta. A coisa passou-se em 4 de Novembro de 1962 (data colocada na carta que aqui vemos pela minha mãe), tínhamos nós chegado a S. Vicente pouco antes. Um dia, à hora do almoço, o pai apareceu em casa com esta carta que tinha recebido na Patronia (a patronia e a minha casa ficavam a uns 30 metros uma da outra, ambas nos anexos da Capitania) e que o autor tinha colocado na sua secretária quando ele lá não estava.
A missiva era triste, até dizer chega. O meu pai estava varado, a minha mãe até uma lagrimita deitou e eu, de cara à banda, ao saber de quem se tratava, pois o marinheiro era já um dos meus maiores amigos (como foi até ao fim da nossa estada na ilha).
Resumindo e concluindo: o pai não quis o relógio como penhor, a massa lá foi emprestada e o rapaz devolveu-a no prazo previsto. E nunca mais pediu dinheiro, pois aquela solicitação (que muito lhe deve ter custado) era mesmo para satisfazer a necessidade de cura do filho - que o seu mísero ordenado não podia pagar.
Soube em Cabo Verde, num dos meus regressos, através de um antigo polícia marítimo, que o meu amigo estava há muito em Portugal e que já se encontrava reformado. Infelizmente, não consegui obter o seu endereço. Pode ser que um dia...
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O mais trágico deste apelo é a luta que dele transparece entre a vergonha de pedir e a vergonha de necessitar, qual delas a mais injusta e a mais penosa de confessar...
ResponderEliminarA vida tem destas coisas. De repente, sem que o esperemos, precisamos de ajuda. A questão é arranjá-la...
ResponderEliminarBraça
Djack