sexta-feira, 3 de agosto de 2012

[0233] QUANDO A ARTILHARIA ANTI-AÉREA VIGIAVA OS CÉUS DO PORTO GRANDE, por Adriano Miranda Lima

Adriano Miranda Lima
Como diz o título, à época da segunda Guerra Mundial, a artilharia anti-aérea  vigiava o Porto Grande. E a nossa “Praia de Bote” estava, implicitamente, sob o chapéu protector, claro está. Que isto fique desde já assegurado, ou não tivesse a dita Praia sobrevivido até agora, vivinha da silva.

Ora, esta antiga peça de artilharia anti-aérea de calibre 9,4 cm presente nas fotos pertencia, entre outras, a uma das baterias (unidade táctica elementar de artilharia comandada por um capitão) instaladas no cimo do Monte de Sossego. A outra bateria era equipada com peças de 4 cm. Fazia também parte desse dispositivo artilheiro uma unidade de referenciação, constituída por projectores (holofotes), fonolocalizadores, preditores de tiro (1) e seguidores visuais. Desconheço se integrava também radares tácticos e de tiro.  Uma vez que este conjunto integrava duas baterias, de comando de capitão, é de supor que o conjunto justificasse o comando de um major. A ser assim, aquelas duas unidades constituiriam um Grupo de Artilharia, embora reduzido nas suas componentes orgânicas, que é sempre de comando de oficial superior (major ou tenente-coronel). Mas admite-se que o conjunto pudesse estar sob o comando apenas de um capitão, já que nessa altura não havia grande abundância  de oficiais superiores e o posto de capitão se mantinha até idade bem madura (mais de 40 anos), o que conferia um saber de experiência acumulada ao longo de anos.

Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)
Este dispositivo e outros disseminados pela ilha de S. Vicente fazia parte das Forças Expedicionárias Portuguesas a Cabo Verde durante a Segunda Guerra Mundial (activadas entre 1941 e 1945).
                                        
Quem for ao cimo do Monte de Sossego encontra ainda quase intactas as estruturas entrincheiradas, tipo bunker, desse antigo dispositivo militar, construídas então pela engenharia militar portuguesa. E tem também oportunidade de reparar em algumas peças enferrujadas (só se mantiveram as de calibre 9,4 cm) e amputadas de alguns componentes.

  Foto colhida no blogue de Luís Graça
Eu fui lá em 2003, e pela primeira vez na minha vida. Não estavam lá soldados nem equipamentos, à excepção das referidas peças enferrujadas. Estavam, sim, pessoas a viver no que resta daquelas instalações construídas em subsolo. Disseram-me que eram pessoas de S. Antão que chegavam a S. Vicente à procura de trabalho e não tinham outra hipótese de abrigo senão os bunkers. Mas penso que actualmente essas instalações estão desocupadas, conforme parecem demonstrar fotos de data mais recente que tive oportunidade de ver mas que não possuo. Tenho de dizer que me impressionou o estado deplorável em que vivia aquela gente. Cheguei ao local acompanhado de um tio e de um primo e fomos imediatamente rodeados  por um rancho de crianças, que nos olhavam como se fôssemos extra-terrestres.

Foto colhida no blogue de Luís Graça
Como afirmei atrás, eu nunca tinha ido ao local, mas ao longo da minha meninice algumas manifestações da existência desse dispositivo artilheiro chagavam até mim de vez em quando. Sim, porque alguma coisa ainda lá se manteve depois da saída das Forças Expedicionárias. Lembro-me, nos anos da década de 1950, dos ensaios nocturnos dos projectores (holofotes). Iluminavam tudo em redor e até a distâncias consideráveis. Morava em Fonte Cónego e era uma festa, para a meninada, quando os focos de luz atingiam as casas e mesmo os nossos corpos. Interrompíamos as brincadeiras de “mangatchada” (brincar às escondidas) para nos deliciarmos com o espectáculo de luz que subitamente quebrava a rotina.

Mas voltarei em breve a escrever sobre este e outros factos relacionados com as Forças Expedicionárias a Cabo Verde durante a Segunda Guerra Mundial.

(1) Aparelho que calcula a posição futura do alvo aéreo

Tomar, Agosto de 2012
Adriano Miranda Lima

3 comentários:

  1. Alguns podem pensar que aqui o colaborador do "Praia de Bote" inventa mas Cleonice jà não pertence a este mundo e posso dizer que ainda me lembro de alguns militares dessa epopeia e da azàfama toda encetada pela Infantaria 7.
    Jà aqui falei de um certo "Aviador" nome que foi dado ao estafeta que fazia do "sport da fita" em plena Rua do Telégrafo na medida em não se viam os talkie-walkie.
    Viria a encontrar o rapaz por volta de Julho de 1963, num cacilheiro, depois de um desafio Belenenses-Cuf.
    Sodade, sodade...

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  2. Aínda me lembro dessas estradas de luz rasgando o negrume da noite sobre a baía do Porto Granded e lamento que esse lugar de "defesa" da intrgridade territorial da nossa ilha tenha sido usado pelos algozes da policia politica da Primeiro Republica para "atacar" ferozmente as liberdades fudamentais de tantos filhos amantes da sua terra e até de um estrangeiro tanto ou mais amante dessa terra que também é sua!

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  3. O QUE É QUE SE PASSA?
    UM SILÊNCIO DE QUATRO DIAS NÃO É NORMAL!
    ABRAÇO PREOCUPADO,
    ZITO

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