sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

[0367] Lançamento: 2.ª edição do Dicionário Cabo-Verdiano/Português de Manuel Veiga na Associação Caboverdiana, Lisboa

Decorreu ontem, na Associação Caboverdiana de Lisboa o lançamento da 2.ª edição do Dicionário Cabo-Verdiano/Português (20 €) do professor e escritor Manuel Veiga. Com casa cheia, a sessão teve início com a declamação de poemas de autores cabo-verdianos e um de Luís de Camões - em todos os casos, de forma bilingue -, por Fernanda Lubrano, Carlota de Barros e outros. Na mesa, os doutores Mário de Carvalho e José Luís Hopffer Almada (da direcção da AC), a doutoranda Ana Josefa Cardoso, que fez a apresentação do dicionário, e o dr. Manuel Veiga. No público, entre muitas outras personalidades, estavam a senhora embaixadora de Cabo Verde, o poeta galardoado José Luís Tavares, o jornalista e escritor Joaquim Arena e os deputados portugueses dr. Ribeiro e Castro e dr. Filipe Neto Brandão (ambos do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Cabo Verde).

A sessão decorreu da melhor maneira, pelo menos até ao momento em que o PRAIA DE BOTE teve de sair, devido ao adiantado da hora. Pesem as polémicas à volta do ALUPEC e da figura de Manuel Veiga (amado e odiado pelas suas ideias, como foi referido por Hopffer Almada), a impressão que nos ficou (e aqui o plural é real, pois retrata conversa com Aguinaldo Wahnon que estava ao nosso lado) foi a da tolerância e a do desejo de acertar. Ou seja, o português e o cabo-verdiano são as línguas nacionais e uma eventual unificação das versões do crioulo  num crioulo nacional levará os anos que levar, poucos ou muitos. Nada deverá ser forçado e a coisa deve assentar no ensino local da variante de cada uma das ilhas, evoluindo nessas mesmas ilhas (de modo genérico as de Barlavento e Sotavento) para o ensino dos dois crioulos mais marcantes próximos de si: o de S. Vicente e o de Santiago. Só num futuro, por agora imprevisível, se poderá então falar de um crioulo nacional, quando estes dois se unirem.

Manuel Veiga abreviou a sua excelente intervenção, de modo a que pudesse haver discussão sobre este tema polémico. Gostaríamos de ter estado, mas o temporal que se abateu sobre Lisboa e a necessidade de atravessar o enorme "oceano" chamado Tejo levou-nos a uma saída precoce e portanto nada mais podemos adiantar. De qualquer modo, foi uma boa noite cabo-verdiana que valeu a pena.

14 comentários:

  1. Já Confucio dizia que "de boas intenções está o inferno cheio"...Não será colocando o carro adeante dos bois que ele, o carro, aprende a mugir!

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  2. "Só num futuro, por agora imprevisível, se poderá então falar de um crioulo nacional, quando estes dois se unirem."..."Nada deverá ser forçado "
    Aí está o busílis Joaquim: os crioulos não têm que unir. Porque carga de água é que isso teria que acontecer. A diversidade caboverdiana é um bem a preservar. O crioulo de Sº Antão não tem que fundir com o crioulo de S. Vicente assim como a língua portuguesa não tem que diluir no espanhol, Fazem de conta no estrangeiro que não estão a forçar mas tudo comprova o cinismo desta gente que está a trabalhar para a diluição de todo Cabo Verde e a sua assimilação pela Praia, razão porque todos esperam que a Regionalização seja um freio para este ímpeto: aquilo que vêm isto é um acto totalitário pois têm financiamento e promoção do estado e do partido.
    Os fundamentalistas estão interessados na diluição do país uma nação uma língua e até uma escrita particular, sob a batuta de um grupo étnico, só que isto é não passa de um sonho totalitário.
    São os mesmos que pretendem utopicamente erradicar o uso do português em Cabo Verde e fazer andar para traz o país e isolando-o no quadro da CPLP, pois para eles a língua portuguesa é uma língua colonialista. Portugal devia ignorar esta gente, pois em Cabo Verde Portugal e os Regionalistas têm o mesmo combates, preservação das línguas faladas neste arquipélago

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  3. Ensinaram-me um crioulo quando era menino e fui lendo poetas e escritores, ouvindo compositores e trovadores, apreciando autóctones e estrangeiros enaltecer a sua riqueza e a sua melodia. Pude ver que esse crioulo tinha por base o português a língua que me serviu para aprender outros idiomas e ajudou-me a ser quem sou. Recusei o Acordo Ortográfico para o Português e recuso qualquer alfabeto que venha adulterar e absorver o meu crioulo.

    Nha criole ê rique, ê sabe de munde.

    Pronte ! Cada um fcà com o qu'ê de seu.

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  4. Desculpem-me o desabafo mas essa coisa de forçar a fabricação de uma lingua a partir de dois dos dez crioulos existentes cheira-me a colonialismo intelectual...

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  5. Tal como o companheiro Zito, estou a chegar tarde a este post. Revejo-me na opinião de todos os comentadores que me precedem. Escrevi uns 4 artigos sobre este assunto há já alguns anos, precisamente quando o Manuel Veiga lançou o seu livro sobre o bilinguismo cabo-verdiano. Nada evoluiu que justifique qualquer alteração sobre o que escrevi. Não sou linguista, pelo que a opinião que exprimi nos meus textos foi apenas orientada pela minha experiência de vida, pela minha qualidade de cabo-verdiano, que só em circunstâncias próprias e locais fala o crioulo de S. Vicente, e também pelo pouco de bom senso e cultura geral que julgo possuir. Em conclusão, rejeito tudo o que motiva a militância do Manuel Veiga em torno deste assunto.

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  6. Por qualquer estranho mistério bloguista, o comentário do Adriano (este imediatamente anterior ao meu) foi parar aos SPAM do PRAIA DE BOTE. Por sorte, fui ver o que lá tinha caído recentemente e dei com a mensagem perdida. Ela aqui entra agora, como o devido pedido de desculpas ao amigo que deve ter ficado espantado por a sua prosa se ter eclipsado.

    Braça recuperadora,
    Djack

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  7. Agradeço ao Praia de Bote pela informação aqui dada sobre o lançamento do meu dicionário e da minha comunicação. O debate a que o Praia de Bote não pôde assistir foi extraordinária. Reinou o civismo, o respeito, a tolerância, a partilha e a busca da melhor solução, na pluralidade e diversidade que caracterizam as nossas ilhas e o nosso crioulo. Tomei conhecimento deste blog através do meu amigo Manuel Brito Semedo, a quem agradeço, juntamente com o autor do Praia de Bote.

    Devo ainda acrescentar que no debate o Prof. St. Aubyn, o matemático caboverdiano, disse que estave hesitante se deveria ir ou não ao lançamento, pensando que poderia não ter valido a pena. Entretanto, acabou por ir e sentiu-se muito melhor informado, pelo que valeu a pena ter ido.

    Estou certo de que alguns dos comentários aqui introduzidos não seriam feitos feitos se os seus autores tivessem ido ao lançamento. É que muita coisa já mudou em Cabo Verde. O discurso de ontem soa desafinado hoje. Um abraço para todos os meus compatriotas.

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  8. Se de facto o post de cima é do Dr. Manuel Veiga, apresento-lhe os meus cumprimentos e agradeço o facto de ter aqui surgido com o seu comentário. Quanto à polémica linguística, acredito que há-de ser atenuada com o tempo e que se há-de chegar a um consenso, seja ele qual for, porque a inteligência, sabedoria e arte dos cabo-verdianos a isso obriga. Eles hão-se saber o que fazer com os seus crioulos. Como sabe, aqui em Portugal não temos esse tipo de preocupação, dado que das nossas duas línguas oficiais, português e mirandês, a segunda é apenas uma simpática curiosidade. E ainda temos outra curiosidade, o barranquenho, para além de mais umas coisitas aqui e ali. Quanto a mim, que não exerço o acordo ortográfico por enquanto, por enquanto também continuarei a falar o crioulo que aprendi na Praia de Bote entre um copo de água da Vascónia e outro do Paul de Santo Antão.

    Um abraço,
    Djack

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  9. Prezado Compatriota Joaquim Djack,

    O post é mesmo meu (Manuel Veiga, autor do dicionário aqui referido, no seu texto).
    O senhor pareceu-me um homem muito sensato e lúcido. Concordo plenamente consigo quando diz que "Quanto à polémica linguística, acredito que há-de ser atenuada com o tempo e que se há-de chegar a um consenso, seja ele qual for, porque a inteligência, sabedoria e arte dos cabo-verdianos a isso obriga".
    Em Cabo Verde, mesmo depois da oficialização da nossa língua, ninguém há-de deixar de falar a variante local do seu crioulo. Como eu disse na última parte da minha comunicação, o ensino do crioulo, em cada ilha, começa pela variante local. Depois, faz-se a ponte com a variante regional. A nível do Norte, a variante regional é a de S.Vicente. A nível Sul, a variante regional é a de Santiago, penso que ninguém contesta esta afirmação.
    A inteligência e a sabedoria aconselham-nos a aprender bem a variante local e a conhecer o essencial da variante regional.Como vê, se esta minha proposta for aceite, ela respeitará a diversidade linguística, não será nem complexa, nem dispendiosa.

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  10. Meu comentário
    MAS em nome de quem estará a falar este ex-ministro
    Esta gente vai-se denunciando de mansinho com o seu projecto totalitário estalinista. Isto é um projecto louco
    Vejam lá isso, está-se a decretar que S. Vicente vá absorver as outras variantes. Mete-se tudo na panela de pressão ao fim de uma horas sai a variante do Norte, prontinho para ser usado. Mas o que é isso? Onde é que andam com a cabeça esta gente? Isto é uma utopia ou melhor estamos no domínio do delírio.
    Isto é inaceitável e pode ser acusado de crime linguístico. São Vicente não participará nesta chachada, colaborar na morte dos outros crioulos.
    S. Vicente não tem vocação para hegemonia nem anexar o resto de Norte.
    Deixem em paz os crioulos de Cabo Verde.
    Nós precisamos no Norte é de falar cada um o seu crioulo como sempre, o português que está ameaçado de deixar de ser falado, o inglês o francês, etc.
    É PRECISO QUE OS DEPUTADOS DO NORTE COMECEM A DENUNCIAR ESTAS MANOBRAS E PARAR ISTO, pois o que os fundamentalistas querem é perigoso. Estes gajos não são brincadeira

    Mas o que é isso? Onde é que andam com a cabeça esta gente? Isto é uma utopia.
    S. Vicente não tem vocação para hegemonia nem anexar o resto de Norte.
    Deixem em paz os crioulos de Cabo Verde.
    Nós precisamos no Norte é e falar cada um o seu crioulo como sempre, o português que está ameaçado de deixar de ser falado, o francês, etc.

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  11. Relativamente a tudo o que o senhor José Fortes afirma, a minha resposta é o que alguém já disse: "Quanto à polémica linguística, acredito que há-de ser atenuada com o tempo e que se há-de chegar a um consenso, seja ele qual for, porque a inteligência, sabedoria e arte dos cabo-verdianos a isso obriga".

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  12. Bem, se é o próprio Manuel Veiga que aqui interveio, não posso deixar de o saudar por isso, esperando que nos contemple com uma presença mais amiúde, tanto quanto o permita a sua disponibilidade. A sua intervenção neste blogue só pode valorizá-lo. Não haja dúvidas a esse respeito.
    Contudo, mantenho a minha objecção ao propósito em vista relativamente ao crioulo das nossas ilhas. Não por qualquer preconceito regional ou desconsideração para com os crioulos do Sotavento. São todos eles dotados de legitimidade para serem o que efectivamente são: um linguajar resultante de antigos salvados da língua portuguesa retidos na memória dos primeiros cabo-verdianos. Acho absolutamente improvável que se possa um dia domesticar os crioulos de forma a obter-se uma língua com organização e disciplina gramatical. É como pegar num pássaro selvagem adulto e metê-lo numa gaiola, esperando que ele sobreviva e se adapte à clausura doméstica. Impossível, a breve trecho sucumbe ao perder as referências interiores e espaciais que regulavam a sua existência. E que eram a sua razão de ser.
    Mas supondo que o crioulo domesticado e disciplinado venha a tornar-se uma realidade num futuro qualquer, perguntar-se-á com toda a legitimidade: para quê? Sim, para quê se o cabo-verdiano é membro de uma comunidade de mais de 200 milhões de falantes do português. É possível que o domínio do português (se é que se quer manter esta língua) sobreviva de permeio com um crioulo oficializado e, logo, tornado língua de ensino? Mas então em que língua os nossos escritores vão passar a escrever as suas obras e a divulgá-las no espaço da CPLP, naturalmente o seu principal destinatário? Num crioulo que ninguém entende senão os cabo-verdianos, ou num português que tendencialmente passaria a ser uma língua secundária e, deste modo, menos dominada e consequentemente menos escorreita como ferramenta de comunicação? Outras tantas mais interrogações poderia deixar aqui, como a dificuldade futura que os nossos estudantes e os nossos trabalhadores enfrentarão no contacto com os países da CPLP. Sim, porque não tenhamos ilusões. Cabo Verde precisa dos irmãos da CPLP, porque dificilmente o nosso país terá mais portas de entrada do que de saída. A sobrevivência nos espaços regionais ou globalizados tem na língua a sua principal alavanca. Daí eu pensar que esta aposta no crioulo não tem sentido e é como dar uma "calapada" nos nossos passos em direcção ao futuro.
    Quanto ao resto, não quero com isto menorizar o trabalho intelectual do Manuel Veiga em torno do projecto que parece ser a menina dos seus olhos. Pelo contrário, penso que isso exige coragem e pertinácia, só achando que estes atributos deviam ser postos ao serviço de causas de urgência mais gritante na nossa terra.

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  13. Cabo Verde é como uma constelação - tem um nome comum - mas são 10 individualidades, 10 estrelas cada uma com o seu brilho, as suas vivencias, a sua Historia, a sua lingua...Por obra de quê se pretende destruír esta pacífica diversidade e transformá-la numa dissonante manta de retalhos?

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  14. Ok. Onde eu consigo comprar este dicionário? Obrigado.

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