"Manelica", no cais acostável de São Vicente, foto de Eduardo Camilo, anos 70. Ora vejamos a explicação das ajudas/dicas lançadas:
1 - Menina claro, pois era "Manelica", nominha feminino.
2 - A particularidade da popa é que era ali que ia o bote de serviço, pendurado dos turcos (que na foto se vêem muito bem), coisa que não era frequente nos barcos locais.
3 - A minha amiga de nome parecido era a Manuela Manjua (Manuela parecido com "Manelica"... filha do pescador algarvio Manuel Manjua que trabalhou para a Frigorífica), representante de Cabo Verde (ou de Portugal) ao concurso Miss Young Intrnational 1973 (próximo da data em que esta foto foi feita) que se realizou em 10 de Agosto desse ano no Meiji Shrine Park, em Tóquio, Japão.
4 - O José ... Lopes. Por documentação que possuo, pelo menos em Fevereiro de 1967 o "Manelica" era propriedade do armador José Manuel Lopes e nessa altura iniciou viagens do Sal para a Praia, carregando sal que era depois exportado para a Guiné. Segundo o Zeca Soares, também houve época em que só fazia transporte de combustíveis. Desconheço no entanto se na altura do desastre de que falaremos a seguir, José Manuel Lopes ainda era o proprietário do "Manelica".
5 - O abalroamento. Era garantido que, quando arribava algum barco de guerra ao Porto Grande, se eu não me encontrasse no Liceu, estava com o meu pai no cais acostável à espera dele. Pela sua condição de patrão-mor e por ser amigo de muitos dos sargentos que vinham a bordo, ele não falhava cada chegada... nem eu.
Naquele dia de (1964... 1965?) esperava-se uma fragata e nós lá fomos, como de costume. O navio entrou no porto, dirigiu-se para o cais acostável, tudo fazia prever uma manobra simples, mas a verdade é que o vaso de guerra ao fazer a aproximação para a acostagem, enfiou a proa no "Manelica", destruindo o bote de serviço e danificando um pouco da amurada de ré.
Culpas? Não as sei especificar (nem isso interessa agora para o caso), pois tanto podiam ser do comandante, como do imediato, como do mestre - o qual, como é de regra, vinha à proa com mais alguns marinheiros, membros da guarnição que têm responsabilidades acrescidas nessa manobra - ou muito simplesmente do destino manhoso que anda sempre agregado às coisas da marinha. O que interessa é que o bote ficou completamente esfrangalhado. E na falta de um semelhante disponível na fragata para substituição, foi oferecida ao dono do "Manelica" uma chata simplória que era utilizada nas pinturas do casco da fragata mas que para o senhor não servia para nada nem se adaptava os turcos do seu veleiro. Não a aceitou. E assim, a chata lá ficou meses no pátio da Capitania, junto ao portão do cais das lanchas (daí eu dizer ao Zeca Soares que o ex-marinheiro e depois polícia-marítimo Virgílio Pina, nosso amigo, se lembraria da coisa) e não sei como se resolveu o assunto. Sei sim que o Capitão dos Portos da altura, José Manuel Torres Grincho, homem de grande estatura profissional e que deixou saudades nos cabo-verdianos que com ele conviveram (nomeadamente pilotos, polícias-marítimos e marinheiros da Capitania), não gostou da história e interferiu nela - penso com quase absoluta certeza que a contento do armador.
Rematando, posso dizer que o meu pai levava cumprimentos da minha mãe para o comandante entregar à esposa (que a minha mãe conhecia pessoalmente), mas estes nunca chegaram à senhora, porque o meu pai se esqueceu de dar o recado, devido à confusão gerada. Posso também referir que sei o nome da fragata e quem era o comandante, pessoa muito prestigiada na Armada, antes e depois deste incidente e que faleceu em anos relativamente próximos de hoje, com posto de elevada patente e as mais subidas condecorações nacionais, devidas a comandos em que demonstrou bom desempenho. Enfim, digamos que coisas como esta podem acontecer a qualquer um, sem afinal lhe deixarem mancha de maior.
Seguem a foto original e um esquema do local exacto onde o incidente se passou.
Nunca tive conhecimento do "Manelica" mas gostei da narração. Isso me fez lembrar os tempos em que lidava com os navios que faziam Cabo Verde/Dakar e iam tratar da documentação. Mas antes de irem ao Consulado eu ia visità-los à chegada. Ali as estôrias eram outras bem também interessantes
ResponderEliminarNo próximo post contarei algo sobre essas viagens que durante os primeiros anos 60 foram raras. Lembro-me de terem sido feitas muito poucas. De uma delas acabei por receber três navalhas...
ResponderEliminarFica para a próxima, talvez já amanhã.
Braça anavalhada,
Djack
olha, olha, ocorreu-me o nome de Manelica, sim senhor, mas pensei que não seria nome de amdjer. E estava então a preparar-me para avançar com Santa Rita e Maria Teresa. Eu já conhecia este episódio, Djack, pois contaste-o ou no teu livro Capitania ou noutra circunstância. Ora, ora, e eu que hesitei...
ResponderEliminarÉ verdade. A coisa ficou-me na retina. Parece que estou a ver todo o aparato do acidente. E depois, o resto da história. Que situação... Enfim, mais um episódio dos muitos que o "Grande Livro" da baía do Porto Grande encerra, bons e maus.
ResponderEliminarGrande abraço e obrigado pela colaboração,
Djack
Eu nunca tive duvidas que era "O" Manelica; agora estava achar um pouco estranho ele ser "A" Manelica, e daí ter especulado Conceição Maria. Reconheço a fraqueza do meu Português.
ResponderEliminarAgora lembro-me muito vagamente de ter ouvido falar neste episódio mas não dos pormenores. Posso também confirmar de assisti varias manobras delicadas, de difícil atracação naquela zona do cais, sobretudo em dias de bom vento. Outro sim, não me recordo de ter visto tantos comentários assim sobre um tema no Praia de Bote. Só me resto dar os Parabéns, e que a iniciativa continua até onde seja possível chegar.
Um abraço de Veleiros e Velejadores
Desta vez o PRAIA DE BOTE foi ainda mais do que é costume, um bom recanto do Mindelo - que, aliás, é o que nos interessa que ele seja.
ResponderEliminarGrande abraço com cabos, velas, mastros e cadernais.
Djack
Djack, acredita que eu ainda estou a bater com a cabeça na parede, tão perto estive de, finalmente, ganhar a tal coroa de acácia. Eu estava em casa da minha filha, em Lisboa, onde o computador (sabe-se lá porquê) rejeita sem apelo nem agravo os comentários ao Praia de Bote, e ocorreu-me o nome Manelica. Mas fiquei na dúvida, ê féma o ê mótche, ê féma o ê mótche, e tanto hesitei que perdi a oportunidade de estar agorinha mesmo a passear no paredão da Praia de Bote a ostentar, basofo, a minha coroa de glória.
ResponderEliminarE na altura eu pedi ao Djack para adiar por mais um dia o tempo limite para a "dvinhaçom", e não foi inocente o meu pedido, confesso. É que eu tenho cá em casa, em Tomar, um livro com um anexo com todos os navios de cabotagem de Cabo Verde por volta de 1960. O Manelica não está lá porque só foi adquirido uns 2 anos depois. Mas vi 2 nomes que, sendo femininos, e com uma tonelagem semelhante à do navio da foto, me pareciam ser duas boas hipóteses: Santa Rita e Maria Teresa. Lembro-me de que o Manelica foi adquirido pouco antes de eu sair de Cabo Verde, mas nunca esqueci o nome do navio. Até me lembro de ver o seu nome na lista do movimento portuário que existia nos Correios. Se não me engano, a lista era inscrita numa placa de ardósia pendurada na parede no interior do edifício. E a busca mental que me impus foi ter precisamente a essa ardósia.
Dessa não sabia eu, mas havia uma lista semelhante, no pátio da Capitania (junto à Secção de Justiça (onde pontuava essa grande figura de polícia-marítimo chamado Orlando "Lola" Lima), com nome do navio e data prevista para a chegada. Penso que esta não era em ardósia mas sim de madeira pintada de preto.
ResponderEliminarBraça ardosiana,
Djack