VER "Casa da Morna no Mindelo - Noite da pré-Abertura" do blogue parceiro "Esquina do Tempo".
1 de Agosto de 1999, domingo, fim de tarde, no Mindelo. Pensa-se, logo: Praça Nova cheia e banda já a tocar no coreto... Qual quê!... Nada de músicos no seu sítio e, obviamente, música zero. O nosso conhecido amigo Djack, farto de esperar pela função que lhe permitiria relembrar velhos tempos, dirige-se a um sujeito - que, depois, durante a conversa, vem a saber ser médico, de apelido Whanon e que já exerceu em Lisboa - para lhe perguntar o que se passa. O doutor também desconhece o motivo da falta dos músicos, mas nisto vê que anda por ali um deles, o José António dos Santos, percussionista, e questiona-o sobre o assunto. Ficam ambos esclarecidos: a Cesária Évora está em Lisboa para ser condecorada pelo Presidente Jorge Sampaio e anda nesses dias acompanhada pelo mestre da banda, o clarinetista e saxofonista Luís Morais - pelo que ficou em seu lugar outra figura a comandar os destinos do ensemble musical do município são-vicentino. A situação desencadeou um protesto laboral que não vem agora ao caso contar, a coisa meteu greve e portanto lá se foi o reavivar de memórias...
Entretanto o Dr. Whanon teve de ir à vida dele, o Djack continuou a palrar com o José António, ambos acabaram por descobrir que haviam sido contemporâneos no Liceu Gil Eanes e que tinham conhecidos comuns e a léria continuou na esplanada do quiosque com uma Super-Bock. Durante a longa e saborosa conversa, o Djack ainda veio a saber que para além de sapateiro o José António fora cozinheiro a bordo do "Pedro Nunes", navio hidrográfico que passava a maior parte do tempo na Guiné mas que por vezes ia a Cabo Verde e que era o único da marinha de guerra portuguesa a ter a bordo membros da guarnição naturais daquele território da costa africana e alguns cabo-verdianos. Homem dos sete ofícios, portanto, o Zé António...
Mas ele ainda tinha de ir ver os filhos, que viviam com a mãe, antes de concretizar a função musical que tinha agendada para aquela noite em que estava livre das obrigações da banda. É que fazia parte do conjunto "Luar", na altura residente no restaurante de um estrangeiro que se situava no topo do edifício do Mindelense, o meu clube, ainda por cima. "É pá, vai ver-me tocar, o conjunto é bom, ouves umas mornas e aproveitas para jantar que a comida também não é nada de deitar fora", convidou ele. E assim foi. Enquanto esperou pelo amigo à porta do clube, o Djack foi olhando para o Monte Cara e para as luzes da baía, ali mesmo arquitectou os fundamentos de mais um conto, "Tácia, a tartaruga fusca" (já publicado) e quando ele chegou subiram a escadaria até ao último andar do edifício não sem antes o Djack ter sido apresentado a um sem número de pessoas que lhe foram dando os seus cartões de visita - um deles, pouco depois falecido, o Dr. Vera-Cruz, advogado.
Quanto ao resto da noite, deve o Djack dizer que valeu de facto a pena. A ementa incluía esparguete com camarão, prato algo estranho mas delicioso, a música dos Luar era de primeira água, bem como a vocalista, e a vista sobre a baía ainda melhor que a que tinha gozado dias antes (já de si fantástica) em tarde de calor na esplanada do Sodade, dessa vez atracado a uma lagosta de tomatada regada com... Casal Garcia. Enfim, digamos que nessa noite esteve perto do Paraíso: na sede do seu clube preferido, a ouvir excelente música de nôs terra tocada por um conjunto em que participava antigo colega do Gil, na sua ilha, na sua rua, na sua praia, perto da sua velha casa... Não, achamos que ali atrás o Pd'B errou. O Djack esteve mesmo no Paraíso...
Pd'B termina, desejando boa sorte ao Tito Paris, para mais esta aventura em que se meteu. Da lisboeta Casa da Morna, ficou-lhe óptima impressão. A do Mindelo, glosando esta, terá como acréscimo o trunfo da vista maravilhosa sobre o Porto Grande. Tudo a calhar... E portanto, quando o Djack voltar, haverá para ele mais um local para visitar na melhor rua e na melhor praia do Mundo...
Entretanto o Dr. Whanon teve de ir à vida dele, o Djack continuou a palrar com o José António, ambos acabaram por descobrir que haviam sido contemporâneos no Liceu Gil Eanes e que tinham conhecidos comuns e a léria continuou na esplanada do quiosque com uma Super-Bock. Durante a longa e saborosa conversa, o Djack ainda veio a saber que para além de sapateiro o José António fora cozinheiro a bordo do "Pedro Nunes", navio hidrográfico que passava a maior parte do tempo na Guiné mas que por vezes ia a Cabo Verde e que era o único da marinha de guerra portuguesa a ter a bordo membros da guarnição naturais daquele território da costa africana e alguns cabo-verdianos. Homem dos sete ofícios, portanto, o Zé António...
Mas ele ainda tinha de ir ver os filhos, que viviam com a mãe, antes de concretizar a função musical que tinha agendada para aquela noite em que estava livre das obrigações da banda. É que fazia parte do conjunto "Luar", na altura residente no restaurante de um estrangeiro que se situava no topo do edifício do Mindelense, o meu clube, ainda por cima. "É pá, vai ver-me tocar, o conjunto é bom, ouves umas mornas e aproveitas para jantar que a comida também não é nada de deitar fora", convidou ele. E assim foi. Enquanto esperou pelo amigo à porta do clube, o Djack foi olhando para o Monte Cara e para as luzes da baía, ali mesmo arquitectou os fundamentos de mais um conto, "Tácia, a tartaruga fusca" (já publicado) e quando ele chegou subiram a escadaria até ao último andar do edifício não sem antes o Djack ter sido apresentado a um sem número de pessoas que lhe foram dando os seus cartões de visita - um deles, pouco depois falecido, o Dr. Vera-Cruz, advogado.
Quanto ao resto da noite, deve o Djack dizer que valeu de facto a pena. A ementa incluía esparguete com camarão, prato algo estranho mas delicioso, a música dos Luar era de primeira água, bem como a vocalista, e a vista sobre a baía ainda melhor que a que tinha gozado dias antes (já de si fantástica) em tarde de calor na esplanada do Sodade, dessa vez atracado a uma lagosta de tomatada regada com... Casal Garcia. Enfim, digamos que nessa noite esteve perto do Paraíso: na sede do seu clube preferido, a ouvir excelente música de nôs terra tocada por um conjunto em que participava antigo colega do Gil, na sua ilha, na sua rua, na sua praia, perto da sua velha casa... Não, achamos que ali atrás o Pd'B errou. O Djack esteve mesmo no Paraíso...
Foto Joaquim Saial - Imagem algo fraca (mais para o péssimo...) mas que dá uma ideia do ambiente dessa noite. O Zé António, de pandeireta, e ao fundo os janelões sobre o Porto Grande |
Agradeço a visita guiada e devo dizer que o esparguete (em portugês) com camarão é coisa apreciada no Brasil e bem saboroso...Devo dizer-lhe que me senti lá e até vi as pessoas e os locais, senti os aromas e contemplei as luzes projectadas nas águas mansas da baía do Porto Grande...Quáse que matei as saudades todas, mas elas são tantas que dificilmente as conseguirei destruír todas com estes exercícios de imaginação...
ResponderEliminarBraça, comovido,
Zito
Parceria boa, essa nossa! Um diz mata, outro diz esfola, rsss!!!
ResponderEliminarNas ESQUINAS DO TEMPO que povoam a PRAIA DE BOTE é sempre assim, taco a taco. Um por todos e todos pelo Mindelo!
EliminarBraça ao parceiro esquinal,
Djack
Não existe melhor Guia do Mindelo (aliàs de de Lisboa também), nomeadamente da emblemàtica Rua de Praia de Bote, que o Djack de Capitania. Portanto, quando ele recomenda a Casa da Morna nessa Cidade e Rua de S.Vicente não se pode hesitar. Fui là via "A Esquina do Tempo" do menino da Chã de Cemitério. Aqui vai a prova:
ResponderEliminarEu não estive e descubro este anúncio que me regozija. Nem o Manel , nem o meu Cumpanher d'Escola tiveram a ideia de me avisar mas... estão perdoados pela presença nesse dia e nessa Casa que espero visitar um dia.
Fico com pena de não ter ouvido in vivo a "voz rouca" (dixit Djack)* do Tito e a potente de uma cantora que ouvi uma so vez (e fiquei conquistado!): Diva Barros.
Vida longa à Casa da Morna !!!
***
* A expressão "voz rouca" leva-me a outro cantor que foi ùnico no seu género. Espero que o Tito Paris tenha na morna a fama que teve o Louis Amstrong nos blue's
Agradeço mas essa da "voz rouca" é do Brito-Semedo. O seu a seu dono...
ResponderEliminarBraça de quem tem esperança de nos encontrarmos todos lá,
Djack