sexta-feira, 16 de agosto de 2013

[0547] Sérgio Frusoni, o poeta-pintor, em duas imagens de "primeira mão" para os banhistas desta praia

Em 22 de Setembro de 1995 escrevi no jornal electrónico Liberal o texto ASPECTOS DA BIOGRAFIA DE SÉRGIO FRUSONI de onde agora foi retirado este excerto.

Foto Djibla - N.ª Sr.ª da Luz
"(...) Ora Frusoni [referência ao livro A poética de Sérgio Frusoni – Uma leitura antropológica que o meu estimado e sempre lembrado professor Mesquitela Lima me ofereceu], que passou a ser definitivo companheiro de secretária (que não apenas de estante), já me era familiar pela sua morna dos anos 50 Um vez São Cente era sabe, que conhecia na voz de Bana, acompanhado pelo conjunto Voz di Cabo Verde, em versão de 1967. Ali fala ele, entre outros assuntos – como o do gato de Mané Jon que era engordado com gemadas, em tempo de fartura do Porto Grande –, de Nossa Senhora da Luz (e suas piedosas procissões), à qual também dedicou o poema Igreja d’nossióra da Luz, onde conta que foi baptizado. Mas não se limitou a isso, o bardo. É que ele também refez a imagem pictórica da Virgem que na cobertura da nave única se pode ver. Quem a terá pintado originalmente, não o sabemos. Digamos, porém, que a factura é fraca, aparecendo a Mãe de Jesus entre nuvens, amparada por duas rosas e eivada de uma ingenuidade que só o enquadramento espacial e a magnífica luminosidade presente no templo atenuam. Daí, não se poder criticar o trabalho de Frusoni, decerto o mais criterioso que os seus conhecimentos (quais?) lhe permitiram. Mas se ele se abalançou a essa tarefa, é porque teria um qualquer treino na área. Nem o pároco de então lha cometeria, se não tivesse confiança no desempenho do poeta. O que foi nesse caso a pintura de Frusoni, cultivada, segundo a Wikipedia, 'no final da sua vida'? – o que entra em contradição com os 20 anos que medeiam entre este trabalho e a sua morte. Terá sido a empresa da matriz do Mindelo algo de casual? Onde e com quem aprendeu a manejar as tintas? Autodidacta, apenas? Que quadros existem ainda dele, esquecidos no Mindelo ou em casa de familiares e amigos? Questão que cabe resolver e que poderá trazer eventuais surpresas afinal não desvendadas por este episódio em que apenas foi restaurador, como ele próprio diz na base da imagem, em latim: S. Frusoni – 1955 – Refecit ex novo."


Sérgio Frusoni - "João XXIII"
Informações posteriores à escrita deste artigo, cedidas por Fernando Frusoni, seu filho e nosso amigo, fizeram alguma luz sobre o assunto: "O meu pai já pintava desde antes de 1955, como passatempo. Lembro-me que ele se sentava no quintal de nossa casa a pintar. Tinha um livro, oferecido por um colega italiano, que explicava como usar as cores. Ele nunca recebeu aulas de pintura. Neste sentido, deve ser considerado um autodidacta. Fez vários quadros. Gostava de pintar retratos de rostos típicos de São Vicente que não sei onde estão agora. Mas também outros, como o do Papa João XXIII (que está comigo) o do presidente John Kennedy (na posse da minha filha), um retrato da minha mãe que o meu irmão Franco tinha (não sei de a esposa ainda o conserva), uns três quadros que estão com uma prima minha e outros que não sei onde foram parar. Normalmente, gostava de oferecer os seus trabalhos." 

Praia de Bote oferece aqui em primeira mão, com a inestimável colaboração de Fernando Frusoni, dois desses quadros, significativos registos iconográficos feitos a partir de imagens de revistas ou jornais - que sem dúvida atestam a boa "mão" do poeta-pintor.

Sérgio Frusoni - "John Kennedy"

9 comentários:

  1. MAS, AFINAL DAS CONTAS, O QUE É QUE O SERGIO NÃO SABIA FAZER???

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    1. Cantar, por exemplo, desde pequenino, e com grande sucesso, como escrevi no mesmo artigo.

      E desculpem a gralha que ali esteve durante algumas horas até que o Fernando Frusoni me chamou a atenção para ela: "Informações posteriores à escrita deste artigo, cedidas por Sérgio[claro que era 'Fernando'] Frusoni, seu filho e nosso amigo."

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    2. Aliás, eu creio que sejam verdadeiras, ténues memórias dos meus tempos de muito jóvem, e que me remetem para uma espécie de recitais que o Sérgio protagonizava, no Café Portugal, acompanhado ao piano não sei se por ele próprio se por outrem...Quem confirma?

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  2. Eu já sabia do restauro que Frusoni fez à santa da igreja de N. Sª da Luz, mas desconhecia outros trabalhos, como estes aqui inseridos. Enfim, ele era um homem da arte, e quando assim é tudo é de esperar.

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  3. É como eu digo: quem quer saber coisas escondidas debaixo das areias da Praia de Bote, é estender a toalha sobre elas...

    Braça com o vento do Mindelo e areia pelo ar,
    Djack

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  4. Mas voltando ao motivo principal do presente post, a pintura de Sérgio Frusoni, há que sublinhar que pelo menos estas duas figuras retratadas dão uma ideia dos seus interesses: João XXIII, o Papa do Concílio Vaticano II, de renovação da Igreja, e John Kennedy, um dos presidentes mais carismáticos dos EUA, com significado para o estudo da história de África, pelo apoio que deu às lutas de independência naquele continente.

    Braça com cheiro a tinta,
    Djack

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  5. O meu pai sabia tocar um pouco de piano. Que eu saiba quando cantava era acompanhado por outras pessoas. Nao sei se no cafe Portugal se fez acompanhar ou se tocou ele proprio. Nao estive presente quando cantou.
    Um abraço Fernando

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    1. Obrigado pelo éco...Eu quase que ainda o ouço, não sei bem se cantando árias de ópera se canções napolitanas...Creio que até recordo que era colocado um biombo na porta a esconder o interior pois o direito de admissão era, nessas tardes, reservado...Não se via, mas ouvia-se, perfeitamente!
      Um forte abraço do amigo e admirador de seu pai,
      Zito

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  6. Ele gostava de cantar cançoes napolitanas e também algumas operas. Ele conhecias muitas operas e em casa cantava muito nos momentos de relax.
    Fixo satisfeito por saber que é um amigo e admirador do meu pai. Um abraço Fernando

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