domingo, 13 de outubro de 2013

[0595] "Tudo trocado", uma grande revista no Eden Park, em 29 e 30 de Novembro de 1943

ACTUALIZADO  TRÊS VEZES, APÓS A PUBLICAÇÃO

O principal motivo do programa oferecido ao Praia de Bote pelo Adriano Lima era divulgar a revista "Tudo Trocado", levada à cena no hoje defunto Eden Park, pelo grupo cénico "Os Sempre Fixes", a 29 e 30 de Novembro de 1943. Aqui vai esse historial, para aqueles a quem, como costumamos dizer, corre o Mindelo nas veias. 

Alguns aspectos curiosos a sublinhar, através das seguintes indicações:

1 - O Administrador do Concelho, capitão Mota Carmo, homem temido nalguns meios do Mindelo, ajudava afinal com afinco a Associação de Caridade de São Vicente, para a qual reverteria a receita dos dois espectáculos.

2 - Os bilhetes marcavam-se na Barbaria Mindelo, de Raul Carvalho.

3 - Havia nada mais nada menos que 30 músicas e 70 pessoas em palco!!!

4 - A música estava a cargo de uma jazz-band com 7 figuras.

5 - Dois militares expedicionários (pelo menos) intervinham nos espectáculo: o Chico da Consertina (que cedeu o programa a Adriano Lima e do qual se falou em post anterior) e o cenógrafo, furriel António Filipe Rodrigues.

6 - Os efeitos de luz eram de Guilherme "Tuta" de Melo, homem do "sonoro" que teve entretanto o outo cinema do Mindelo, o Park Mira-Mar.

7 - A direcção musical pertencia a Jorge Monteiro (1913-1988), vulgo Jotamont ou Jorge Cornetim, que se tornou grande figura da cena musical de Cabo Verde e sobretudo do Mindelo. Ver AQUI.

8 - Sobre Evandro Matos, ver AQUI. Sobre Pedro Afonso, ver AQUI.

Agora, esperamos os comentários a este fantástico evento cultural mindelense de há 70 anos... A propósito, alguém tem aí três paus que me empreste para eu comprar um bilhete para a geral?

Foto José Carlos Marques - Eden Park (Setembro.2013)

Emblema/logótipo do Eden Park ainda existente na fachada do ex-cine-teatro (pormenor da foto de cima)



Leia com mais facilidade nos recortes em baixo

Pormenor

Pormenor
Anúncio da Barbearia Mindelo - Vai uma barba e cabelo?...

12 comentários:

  1. O "compère" Raul de Carvalho era um barbeiro mandrongo de profissão, homem amigo das artes teatrais, e de muita paródia, figura pitoresca dada a gestos inesperados, como, por exemplo, o de fazer serenatas com uma grafonola de dar à corda tocando discos de vinil coim canções de amor interpretadas por cantores da época...A trupe era iluminada por um petromax na ponta de um vaapau...Bons tempos, com o Liceu Gil Eanes aínda novinho...
    amor

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    1. Esta passou-me... que o Raul de Carvalho, para além de estar relacionado com a venda dos bilhetes era também o compère do espectáculo. E reparei depois deste "aviso" do Zito que ele igualmente era o caracterizador: barbas, cabelos, maquilhagem, etc.

      Braça com capachinho,
      Djack

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    2. Isto é um autêntico banho de História ( à maneira mindelense) online. Mindelo tem masi história para contar, algumas não foram transmitidas aos mais novos e outras como as que o Adriano o Djack nos deliciam vamos tomando conhecimento. Os jovens têm que conhecer estas histórias para saberem e aprenderem como a juventude mindelense dos avós festejava 'dent de repeit'. Mindelo era verdadeiramente a Capital Cultural de Cabo Verde para não dizer mais

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  2. Pois, minha gente, não me lembrei do Sr. Raul de Carvalho quando escrevi os meus apontamentos sobre o Teatro em S.Vicente mas vejo perfeitamente a Barbearia deste senhor e do seu ajudante Fidjim, tocador de violino que encontrei e partilhei bons momentos em Dakar.

    Este barbeiro português andou sempre com músicos cabo-verdianos, nomeadamente os barbeiros Fidjim (jà citado) Gregôrio, Djonim de Mari Barba e o célebre Nhô Tchitche, um senhor da Boavista, que ia à Western cortar o cabelo aos british. Nhô Tchitche, cuja barbearia se encontrava frente (entre) a Farmácia do Nena e Nhô Toi Pombinha,. Nhô Tchiche era uma pessoa culta (não fosse conterrâneo do Sr. Alfredo Brito) e grande contador de estórias.

    A filha do figaro saiu de S.Vicente muito novinha com o seu marido, um furriel, e nunca mais ouvi falar da família até um dia, do ano 1990, dirigi-me a uma senhora a quem perguntei "desculpe, minha senhora na Associação de Carnide:. Não será, por acaso, Adozinda de Carvalho?. A resposta saiu-me logo: "adé, e mim; ainda m' câ esquecê criole".

    Costumo dizer "Munde ê piqnim". A prova é essa documentação toda que deu voltas e agora nos aparece de Tomar, de um menino que deve ter nascido por volta desse ano de 1940 (ou 1943?)

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  3. Ops:
    Dirigi-me a uma senhora na Associação de Carnide:Desculpe, minha senhora, não será, por acaso, Adozinda de Carvalho?. A resposta saiu-me logo: "adé, e mim; ainda m' câ esquecê criole".
    ***
    Desculpem. Jà é tarde e estou meio ensonado.

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  4. Djack, tem sido um festim, rapaz. O culto da memória, suscitado pelo nosso amor a Soncent, transporta-nos a um chão onde a festa se soltava com facilidade, bastando dar livre curso à imaginação e à criatividade das suas gentes. E estas nunca deixavam os seus créditos por mãos alheias.
    Tudo o que vemos neste post demonstra que o José tem carradas de razão quando enaltece a singularidade da nossa ilha e cidade e luta denodadamente para ver restauradas a sua importância e dignidade históricas. Os companheiros deste blogue prestam idêntico testemunho, com os mais antigos a confirmar factos e figuras de que tiveram conhecimento directo, embora nessa época fossem ainda meninos ou adolescentes. Eu só nasci em novembro de 1943, não em 1940, Val, pelo que pouco ou nada posso dizer que seja de experiência própria. Foi interessante ter ficado a saber que a barbearia aonde o meu pai me levava, ainda muito criancinha, era do Carvalho que é aqui recordado. Mas não me recordo dele, mas sim do Fidjim, que também é aqui citado, ajudante do primeiro.
    Djack, tenho de deixar aqui um reparo sobre o vocábulo "concertina". No prospeto está "consertina" e tu próprio o escreves assim. No entanto, o dicionário diz "concertina". Penso estarmos em presença de uma palavra que possivelmente sofreu evolução. Não é que isso tenha grande importância nesta nossa evocação, mas convém tirar as dúvidas que esta nossa complicada língua nos oferece às vezes, e não são poucas.

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    1. Sim, percebo a tua ideia, isso vi eu. A concertina (de concerto) era inclusive um instrumento muito utilizado no Alentejo da minha infância. Mas neste caso há que seguir a grafia que ali surge, mesmo com erro. Tal como acontece com Casa Campião ou Gazcidla. São daqueles erros que se generalizam e tomam foro de "assim é que é". Viva, portanto o Chico da Con"S"ertina que nos deu tanto e tão bom material-memória.

      BraSSa com esses,
      Djack (até este Djack à Soncente, que à beef seria Jack)

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  5. Só para acrescentar, e lembrar, que os prospetos estavam no espólio do Chico da Concertina, pessoa já falecida e que ficou minha amiga pelo apoio que eu dei às confraternizações dos expedicionários realizadas no meu quartel, o do Ri 15, a mesma unidade de onde partiu um batalhão para a nossa querida e saudosa terrenha. Esses expedicionários.já morreram quase todos, mas ainda resta um em Tomar. Tentei falar-lhe há tempos, mas não foi possível. Relembro que o Mota Carmo era capitão, comandante de companhia, desse batalhão. Aliás, o Mota Carmo era natural de Tomar.

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  6. Atenção Jack !
    Atenção Didi !

    Tocam conSertina ou semCertina que o som é agradàvel de ouvir e sabemos que ouve um lapso na escrita mas não venham aqui dizer que um gentilico de Marte é um marSianu.
    Entendido? Obrigado.

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  7. Estou maravilhado! E ansioso pela oportunidade de uma segunda edição - naturalmente revista e aumentada - do "Nação Teatro - História do Teatro em Cabo Verde", quanto mais não seja para actualizar e acrescentar informação e muitos pormenores. Assim como fazer justiça a homens como o Valdemar Pereira que merece um capítulo à parte só para ele. Alguém me consegue uma editora interessada?

    Abraços a todos!

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  8. Excelentes informações!
    Gostaria de saber se alguém tem fotografias ou informações sobre o bairro Ribeira Bote em São Vicente.
    Para qualquer informação meu mail é osvaldinacoronel@hotmail.com
    Desde já agradeço a vossa preciosa ajuda.

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