Tínhamos prometido no post anterior (que afinal não vamos apagar, ao contrário do que ali dissemos) que iríamos publicar neste materiais sobre náufragos cabo-verdianos e de outras nacionalidades resultantes de ataques de U-boats durante a II Guerra Mundial. Contudo, a informação que temos vindo a observar durante os dias de ontem e de hoje tem-se revelado de tal modo interessante que resolvemos escrever artigo mais desenvolvido com base na mesma - que reservamos para publicação em breve do jornal Terra Nova, de São Vicente (e depois no blogue Esquina do Tempo e por fim no Pd'B). Por isso, agora só aqui deixamos uma amostra para suscitar água na boca dos amantes das coisas navais e cabo-verdianas.
A mais antiga referência que conhecemos a náufragos cabo-verdianos por razão de afundamentos durante a II Guerra Mundial é de meados de Março de 1941, quando 18 portugueses, ex-tripulantes de navios gregos torpedeados, chegaram finalmente a Lisboa. Os barcos em causa, o Aenos, o Yoanis Embericos, o Alexandrus e o Nicolas Fitinis haviam sido afundados meses antes, nas costas da Irlanda por U-boats, os temidos submarinos de caça alemães. Nas suas equipagens, constituídas por gente de diferentes nacionalidades, havia 24 portugueses, dos quais tinham morrido cinco e um ficado ferido. Entre os falecidos, dois eram os cabo-verdianos, Manuel e Agostinho, pertencentes ao primeiro cargueiro a ser metido a pique, o Aenos, de 3554 toneladas, abatido a 17 de Outubro de 1940.
O 28 de Maio - Colecção de Valdemar Pereira |
A 20 de Maio, o ministério da Marinha de Portugal recebia, proveniente da sua estação radiotelegráfica, a comunicação de que dois navios britânicos haviam sido bombardeados de madrugada, 200 milhas a leste da ilha de São Vicente. A burocracia habitual obrigou a participar o caso ao ministério das Colónias que por sua vez accionou os serviços do vapor 28 de Maio que fazia serviço de cabotagem no arquipélago cabo-verdiano, a fim de que este procedesse ao salvamento de possíveis náufragos. A tripulação do Clan Macnab saltara de imediato para as baleeiras de salvação mas do outro navio, o Mandalay, nada se sabia.
Em 1941 a maior parte dos que por aqui passam não sonhavam ainda de ver o dia. Eu tinha 8 anos, jà tinha assistido à chegada da Tropa Metropolitana com tudo quanto de diferente iam fazendo e também ouvia, com muita curiosidade, comentàrios que se fazia sobre a Guerra. Lembro-me muito bem de naufragos ingleses que conseguiram chegar ao Porto Grande em baleeiras por os barcos terem sido alvo dos U-boats.
ResponderEliminarSe faziam pena, ficava-se satisfeito por terem podido salvar-se. Mas não imaginem a raiva porque os alemães torpedeavam os barcos dentro das àguas territoriais, o que é considerado crime.
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Sabendo que o "menino de Capitania" està em buscas, gostaria que alongasse o trabalho e procurasse saber de duas figuras britânicas que viverem n nossa ilha como Cônsul de Sua Magestade. Cito: - Captain Sands e Mr. Windam. Prometo comentar.
Obrigado, Djack
Val, Mr. Windam era uma figura e peras,que me ensinou as primeiras palavras em inglês...
EliminarDjack, meu pai teve um Restaurante com três sócios italianos, náufragos de um barco torpedeado em águas de C,Verde...Recordo-me dos nomes de dois deles: Michele Micheloni (cozinheiro) e Aste Agostini (chefe de mesa). O terceiro, creio que se chamava Antonio...e era criado de mesa. De que navio seríam?!
A propôsito de nàufragos italianos, lembro-me especialmente de um (Mauro) amigo de um tio meu (Tito) carpinteiro que trabalhou para a tropa na montagem das casernas de madeira que justapunham o Quartel General na Chã de Alecrim. O Mauro, nas horas vagas, confeccionava spaguetti que vendia, se calhar por bom preço porque não parava. Bem, lembro-me de outros mais mas dos nomes não.
ResponderEliminarEram tripulantes do "Jerarquia" (?), o barco que estava no Porto Grande quando arrebentou a Guerra e ali permaneceu até o fim. Se os aliados saiam, os italianos não porque não havia barcos que os tomassem. Deixaram alguns descendentes so uma loirinha foi para Itàlia com o pai..
A visão do 28 de Maio recorda-me a figura incontornável de Miguel Costa, ou Miguel de 28, que salvo erro foi cozinheiro a bordo do 28 de Maio e fundador da Pensão Chave de Ouro, por cima da Central (Drogaria do Leão)...A filha, Celeste (Celeste de 28...) foi minha condiscupula no LGE e mantemos estreita amizade até hoje...Memories,,,
ResponderEliminarComentários sábios, de quem sabe e viveu a (e na) época.
ResponderEliminarOs dois cônsules já foram referidos pelo Val noutro post lá mais atrás. Há bom material (embora não excepcional), que tenho estado a arrancar do fundo dos arquivos. A seu tempo, darei notícias.
Braça de agradecimento pelas colaborações dos dois experts de serviço em britaniquices e italianices mindelenses,
Djack
Mas que coisas interessantes estão retidas na memória do Val. Aliás, foi pela sua boca que fiquei a saber de alguns factos que eu ignorava por completo. O Miguel 28 chamava-se assim por ter sido cozinheiro nesse navio, isso sei eu, Zito. Enfim, o Djack, incansável nas suas pesquisas, não brinca em serviço e vai tirando do baú coberto de pó do tempo factos interessantes que fazem parte do historial dessa plataforma atlântica que era o nosso Porto Grande.
ResponderEliminarO vapor 28 de Maio também era uma estação postal de acordo com listas das estações postais de Cabo Verde em 1940. Tem conhecimento quando é que abriu esta estação postal e conhece algum carimbo do 28 de Maio?
ResponderEliminarObrigado
Célio Frederico.
https://sites.google.com/site/marcofiliadecaboverde/
Infelizmente, não. Lamento não poder ajudá-lo.
EliminarCumprimentos,
Djack