sexta-feira, 11 de outubro de 2013

[590] Eden Park, teatro e benemerência

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Este post é dedicado a dois homens de teatro do Mindelo: Valdemar Pereira, a quem podemos chamar "O verdadeiro Grande Iniciador", que desenvolveu acção mais ou menos sistemática no seu amado clube de sempre, o Grémio Sportivo Castilho, durante uma década, entre 1948 e 1954. Ali criou, ensaiou e manteve um Grupo Cénico que deu grandes noites de divertimento e cultura ao povo mindelense; e João Branco, figura sobejamente conhecida do meio cultural cabo-verdiano, criador do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo (1993) e do Festival de Teatro Mindelact que já vai na sua 19.ª edição. Nesta, reuniu grupos de teatro de quatro continentes, constituindo-se no maior evento ligado às artes teatrais do continente africano de língua lusófona. 

Ambos já escreveram sobre teatro: Valdemar Pereira lançou em 2010 o livro "O teatro é uma paixão; a vida é uma emoção" e João Branco concluiu em 2012 a sua tese de mestrado na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa com 19 valores, cujo tema foi "Um exemplo prático de crioulização cénica" sobre as "Bodas de Sangue" de Federico García Lorca.

Infelizmente para mim, apenas vi uma produção de João Branco, em 2002, por sinal no Auditório Nacional da cidade da Praia: tratava-se da peça "À Espera da Chuva", em crioulo de Santiago e de Santo Antão, inspirada na famosa peça de Samuel Becket "À Espera de Godot".

Um braça "moda Talma" para ambos!

Quanto à história geral deste folheto produzido pela empresa do Eden Park, de que ontem mostrámos a página 4 e hoje reproduzimos a de rosto, veja-se o post anterior. Publicita-se um espectáculo  a favor da Associação de Caridade de São Vicente. Repare-se na referência ao capitão Mota Carmo que de início não sendo homem do 28 de Maio se tornou depois ferrenho apoiante do regime salazarista. Teve alto cargo na Guarda Nacional Republicana e acabou por ser administrador do concelho de São Vicente. Temido na terra, ali deixou péssima memória. Acerca desta figura, leia-se o texto do meu amigoViriato Barros, AQUI.


7 comentários:

  1. Um abraço de agradecimento ao Djack de Capitania pela lembrança e um "Grand Merci" ao grande artista João Branco pelo trabalho que vem fazendo com meios nem sempre grandes.
    Se existe uma ligação entre os dois periodos é o facto da "ligação". Nem digo que houve "continuação" porque recusaram-me (é este o termo) ajuda logistica para fazer algo que merecesse o nome de teatro, o que me obrigou a zarpar. Eu era um carola que so tinha visto uns saraus e - sorte de nôs terra - o dr. João Branco apareceu do estrangeiro jà com o seu Saber que faltava para a formação.
    E hoje o "teatrinho de fralda" passou a ser MINDELACT, ou teatro de gente grande com participações internacionais e reputação mundial.
    Força, João Branco !!!
    Força Soncente!!!

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    1. Obrigado, querido amigo, por tão belas palavras! ABRAÇO!

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  2. Ambos os homenageados, Val e João Branco, merecem por inteiro as palavras de encómio aqui depositadas pelo Djack. Cada um no seu tempo, cada um nas suas próprias circunstâncias. Entre o mérito de fazer teatro sem bússola e o mérito de o fazer com o suporte da formação académica há uma diferença que releva apenas do ponto de vista do profissionalismo. Mas no primeiro caso há uma virtude, que é o da instantaneidade e do improviso que fazem o sonho e a utopia, antecâmara da poesia da vida.
    Quanto ao capitão Mota Carmo, tenho neste momento uma opinião formada e sobre ele publicarei um dia destes um post. Tive de pesquisar a fundo para poder ajuizar com objectividade, sem me deixar contaminar pela espécie de lenda (pouco abonatória) que rodeia este personagem. Claro que ele tinha defeitos, alguns de natureza muito pessoal, mas pouco se fala das qualidades que o oficial/admnistrador tinha, desde logo uma impressionante capacidade de trabalho e um grande espírito de missão, a par de uma notável preocupação com os mais desvalidos. Diria que o administrador terá sido vítima de uma certa classe social dominante na ilha, por razões que nada tinham a ver com o mérito do seu trabalho. Desculpem lá qualquer coisinha, mas penso que ontem como hoje existe uma certa hipocrisia e alienação na sociedade mindelense. Dirão que isso acontece em todo o lado, é verdade, mas a diferença é que nos meios pequenos mais fácil se torna criar circuitos fechados onde se fermenta o melhor e o pior de que a sociedade é capaz. O Mota Carmo viu a sua obra social intencionalmente prejudicada ou dificultada por pessoas que se sentiam despeitadas pela sua acção em prol do bem público. Por isso, não estranhemos se há quem passe ao pé do Gil Eanes e não "veja" a sua acentuada degradação. Ontem como hoje…

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  3. Ficamos à espera desse trabalho ao qual aqui serão dadas todas as honras, como de costume. O seu a seu dono e a verdade acima de tudo são as molas reais da investigação.

    Braça verdadeiramente verdadeira e sobretudo verídica,
    Djack

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  4. Recordo, aqui, com saudade, a época áurea dos "teatrinhos" do Castilho, sustentados pela carolice de uns tantos, de quem é justo destacar o amigo Val um homem para quem o teatro era - e pelos vistos continua a ser - como uma segunda personalidade. Da obra de JB apenas conheço as criticas e os comentários dos media, mas creio não andar longe da verdade ao afirmar que o Mindelo teve imensa sorte ao conseguir conquistar mais um "mandrongo" para emgrossar o imenso caudal de amantes da terra e das suas gentes, ainda por cima com o saber a experiencia que JB patenteia dos meandros da arte de Talma! Sinto-me particularmente confortado como assistente da sementeira de Val e pela convicção de ela medrou porque encontrou, alem de um JB, uma mão cheia de gente com imenso talento...Estão, ambos, de parabens ara além das décadas que os separam!
    Zito Azevedo

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  5. Justa homenagem ao Val e ao trabalho que o João Branco vem fazendo em prol do teatro em SV e CV. O Adriano encheu-nos água na boca com este novo olhar que nos promete trazer ao público sobre a obra de Mota Carmo em SV

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  6. Obrigado para todos. Importante sublinhar uma coisa: o teatro que hoje se faz em Cabo Verde é também, como o foi no passado, fruto de muita "carolice", para utilizar um termo aqui usado várias vezes. Se tiverem tempo, aconselho a leitura desta crónica lá no Café Margoso (http://www.cafemargoso.blogspot.com/2013/10/cronica-desaforada_13.html) Abraço a todos!

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