Candeeiro público Kitson |
A I Guerra começaria em breve, a 28 de Julho de 1914. Um pouco antes dessa data, no Mindelo, deitava-se abaixo um infecto e decrépito urinol que estava "à entrada da cidade" [não sabemos em qual delas], inaugurava-se a 13 de Junho aquele que terá sido o primeiro frigorífico comercial da urbe e começava-se a pensar na instalação pública de electricidade.
A cerimónia inaugurativa do novo estaminé de frio e gelo, digna de uma cidade cosmopolita e civilizada como era já a cidade são-vicentina, meteu champagne frappé, bolos e hurras! à inglesa - obviamente. E ali, na marginal, frente ao mar, se podia ver a fina flor do Mindelo, incluindo membros do corpo consular, chefes de repartição e representantes do comércio, entre outros. Custava $08 centavos o quilograma do frio sólido, vendido desde as 8 da manhã, neste empreendimento conjunto das firmas Lopes e C.ª e Madeira e C.ª.
Quanto à electricidade pública, ainda não chegara. Não bater na noite escura com o nariz numa esquina ou evitar esbarrar numa acácia (ou num bote) ali à Praia de Bote era na altura obrigação de candeeiros americanos Kitson a fuel, sucessores de outros a acetileno - ao que parece, de má memória. A ideia da inovação era do presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Júlio Veiga, e do vereador César Serradas. Assim se procurava seguir o progresso e obter poupança - pois caros 79$32 custara recente factura autorizada pela CMSV para pagar material Kitson degradado...
Estes e outros dados sobre o processo de modernização da nossa cidade estão a ser desenterrados para o próxima "Crónica do Norte Atlântico", entre muito gozo pessoal e a certeza cada vez mais definida de que o Mindelo sempre foi outra loiça...
Finalmente, e ao fim de tantos anos, fico a saber porque razão nos meus tempos de rapazola, ouvia os mais velhos a chamar "kitson" aos "petromaxes" que se usavam na iluminação doméstica nas horas de repouso do motor da Central Eléctrica...Obrigado, Djack!
ResponderEliminarHavia estes de pavimento, como o que se vê na imagem, havia os de parede e os de mesa. Segue por correio electrónico a história destas luminárias, em inglês e em opúsculo digitalizado dos finais do século XIX. A história começou com a leitura da notícia do urinol, derivou para a do gelo (que me tem andado a interessar nos últimos tempos e já deu bons frutos) e terminou na dos candeeiros Kitson. Tudo junto, está a dar mais um interessante artigo atlântico.
ResponderEliminarBraça iluminada,
Djack
História: O Djack tem feito um excelente trabalho de investigação histórica e sociológica para além do cunho patriótico que isto reveste e que faz mil vezes muito mais que os 'niscid e crio' de socent ou de cabverd que não ligam boia coisa nenhuma, o que deveria merecer uma cadeira na mais prestigiada academia das ciências cabo-verdiana. Mas o pessoal (nós) quer que trabalhes mais uns anitos antes de te propormos como candidato. Ah Ah Ah
ResponderEliminarUm dia será, um dia será... Mas já me contentava em dar um curso de História de Cabo Verde ou de História da Arte numa das universidades de nôs terra. Pode ser que um dia alguém me chame... Entretanto, vai-se trabalhando - que é o que mais interessa. Aqui no escritório, estou agora mesmo a sacudir o pó do arquivo da camisola, pffffff, pffffffffff, ahahahaha
ResponderEliminarBraça esperançosa,
Djack
Cheguei tarde mas... cheguei !
ResponderEliminarLembro-me do cheiro fétido a invadir a Rua de Lisboa, frente à Casa Cohen pois o célebre (e único urinol na cidade) encontrava-se (onde está ainda) na esquina do Plurim de Virdura.
Havia ali um funcionário mas incapaz de zelar devidamente pelo bom uso do lugar e a água que traziam era insuficiente para vazar regularmente. E o pior é que muitas vezes a retrete ficava entupiada e passava semanas sem funcionar. Até tinha-se a impressão que deixavam que a matéria se desfizesse por si.
Ficou célebre aquela do brasileiro subindo e descendo a nossa imponente Rua. Quando não pode mais, disse: Qui raio di terra é essa ondi si põe e não si tira".
A electricidade é outra estória !!!
Era a Central Bonnuci & Leça, a que vendia o gelo que vendia a energia (das 20 às 24 hs).Como diz o Praia de Bote quebrava-se o nariz... devido a inconstância do fornecimento.
Dai se cantar "Iolanda ca ta casà"...Iolanda ca ta casà...
A casa de banho do plurim de virdura é mais tardia que a da stóra que eu conto (o longo tempo de uso começou a dar cabo dela e o que restava foi deitado abaixo em dois dias por um pedreiro da CMSV). A da Rua de Lisboa conheci-a bem, mais o seu mau cheiro. A água, que não era canalizada, vinha de um buraco na rua, de onde era tirada com um balde. Ficou célebre a piada do "pitrol" que lá "apareceu" e que eu conto algures (não era mais que uma fissura num cano da bomba de gasolina mais abaixo cujo combustível ali foi ter por infiltração). E a stóra do gelo vendido pelo Bonnuci & Leça, o mesmo. Esta fábrica de que eu falo foi engendrada pelas duas empresas citadas, que se uniram para o efeito. É que em gelo e electricidade, o Mindelo tem que se lhe diga. Como já prometi há dias, hei-de mostrar aqui como acabou a Congel e falarei também dos barcos da Frigorífica. Stóra e História na Cabverd ca tem fim...
ResponderEliminarBraça congelóde,
Djack
Esse urinol na parte exterior do Plurim de Virdura é do meu tempo e seguramente que não é o que é referido no post. Antigamente, ao lado desse urinol se afixavam cartazes dos filmes em exibição no Eden Park. Os do Park Mira Mar, creio que ficavam noutro local da rua de Lisboa, no passeio contrário e mais próximo do Palácio.
ResponderEliminarEste termo de kitson ouvi-o pela primeira vez ao senhor José Mascarenhas num programa televisivo (TV de CV) intitulado "Mindelo de Outrora", ou qualquer coisa assim. Vi o programa porque mo enviaram numa gravação video. O programa foi interessante porque falaram de muita coisa do antigamente. Por exemplo, falaram de "carne norte", que vinha nos navios estrangeiros em trânsito, creio que procedente da Argentina. Além do José Mascarenhas estava também presente o Nicolau de Pinga e outro senhor de cujo nome já não me lembro e que parecia o mais velho dos presentes. O Nicolau de Pinga disse que essa carne deixou de aparecer porque se reportava a tempos recuados. Até disse que o Dr. Baltasar costumava perguntar-lhe por esse produto quando já rareava na ilha (isto porque o Nicolau era comerciante de bordo). O Nicolau então teve uma expressão gestual engraçada e de que ainda me recordo, para explicar ao Dr. Baltasar que já não era fácil apanhar "carne norte" a bordo dos navios. Não me recordo o que era exactamente essa carne. Supus que fosse carne salgada, mas alguém me disse que era carne de cavalo.
Quanto à electricidade e ao gelo, fico grato ao Djack por esta evocação. Como disse o José, aos poucos se vai aqui escrevendo a história do Mindelo.
Que venha o Djack com as stórias porque, com a idade e sem arquivos, começo a baralhar as cartas e não sai nenhum trunfo.
ResponderEliminarSe bem me lembro a dita "carne do norte" era carne de vaca e não vinha do norte mas da Argentina mas, como a maioria dos barcos vinha do norte...
A que me refiro era a que a Western importava da Argentina e que o meu Pai ia buscar a bordo, o que lhe dava, direito de vez enquando, a pequenas quantidades que ele dividia
Quanto ao gelo e à electricidade refiro-me a factos de quando tinha os meus 5 ou 6 anos, quando fomos morar para o Alto de Companhia. Dai as pequenas falhas de precisão de que peço "mes excuses".
Dito isto tudo, vou ficar como cada um dos que visitam o Praia de Bote para situar as coisas que não conheci ou de que não me lembro.
As participações váldicas são e serão sempre muito bem-vindas. Trata-se afinal da mais longínqua memória do nosso restrito grupo.
ResponderEliminarBraça memorável,
Djack