Diário de Lisboa - 23.06.1939 |
O "Colonial" - Foto blogue "Companhia de Moçambique" |
Outra imagem do "Colonial" - Foto blogue "Macau Antigo" |
Navios da Armada "Bartolomeu Dias" e "Afonso de Albuquerque" (o que foi afundado aquando da invasão do Estado da Ìndia) salvando São Vicente |
Carmona passa revista a uma formação de marinheiros dos navios de guerra que o acompanhavam |
Na Rua de Lisboa, a caminho da Câmara Municipal |
Povo reunido frente à Câmara Municipal de São Vicente |
Mulheres do Mindelo |
Há bastantes motivos para comentários neste post e no anterior. Pd'B faz por isso uma pausa na sua desgastante faina que deu 59 posts nos 31 dias de Janeiro, diversos dos quais com vasto trabalho de investigação e trabalho gráfico (recortes, melhoria de colorido, etc.). Ou seja, é muito agradável ler o que aqui se vai pondo e cerca de 8000 visitas são prova disso, mas também é agradável ver comentários não só dos nossos fiéis amigos e colaboradores mas de outros. Toca portanto a comentar ou falando mais "patrioticamente", "Contra a inércia, comentar, comentar..."
ResponderEliminarBraça que dure uns três ou quatro dias, dependendo da maré no Porto Grande,
Djack
Desconhecia estas fotografias, que por sinal são de boa qualidade. A vantagem da fotografias a preto e branco é não se alterarem como as que são a cor, permitindo registos para a posteridade mais duradouros.
ResponderEliminarTendo observado as imagens, há 4 aspectos que me saltaram à vista.
Primeiro, o facto de o general Carmona usar o chamado capacete colonial com a farda branca. Certamente que era uso à época.
Segundo, a pose pouco protocolar em que ele é apanhado (um instantâneo), num gesto de quase rodopio (ou esquerda volver), parecendo focar a atenção num dos marinheiros. Não é normal, pois uma alta entidade nestas circunstâncias limita-se a seguir em frente, sem se deter em particularidades inerentes à revista. Isso é mais coisa de comandante de companhia, e mesmo assim só em revista de rotina no quartel, não em actos cerimoniosos. O Carmona era oficial de Cavalaria e nessa Arma há uma tendência para, por vezes, o oficial se descer demasiado ao "rés-do-chão" na prática militar. De resto, a sua trajectória militar foi marcadamente de comando de tropas em todos os sucessivos escalões, tendo sido comandante da Escola Prática de Cavalaria (coronel), comandante da Região Militar de Évora (general) e mais tarde Ministro da Guerra (general). Em suma, era militar até à medula.
Terceiro, não consigo relacionar o muro do cais (presumo que é o chamado cais novo) em que a revista é passada com aquilo que conheci no lugar. É o muro que tem o enfeite em forma de cruz de Cristo. Para lá dele divisa-se a antiga infraestrutura de ferro onde se fazia a descarga de carvão em vagonetes. Isso foi ainda do meu tempo.
Quarto, é o facto de o cartaz de boas vindas incluir o nome de Salazar, mas sabemos que isso fazia parte do culto da personalidade do homem de Santa Comba. Por alguma razão, em certos momentos discursivos a pessoa em uso da palavra perguntava aos presentes: Quem manda, quem manda, quem manda? E todos respondiam: Salazar! Salazar! Salazar!
Ou seja, o presidente da república era mais uma figura decorativa. O sucessor de Carmona, Craveiro Lopes, de cuja visita a S. Vicente me lembro bem, quis mudar as coisas, mas não terá tido todos os apoios necessários.
Talvez volte para tentar descobrir mais coisas esquisitas nas fotografias.
Não há duvidas de que se trata do cais novo e creio que aquela espécie de murete terá sido enfeito de ocasião...A presença da cruz de cristo é significativa disso mesmo, creio...
EliminarOs nossos sábios de serviço ainda não tocaram naquele que eu penso que é o ponto mais estranho destas fotos, aparecendo apenas em duas... Joman, que tal? Serás tu a desvendar o enigma? Mas basta olhar com atenção, basta isso, e apenas em duas das fotos. Quanto ao cais, era o da Alfândega e o que está em fundo é como diz o Adriano. No meu tempo já não corriam nele as vagonetas mas o cais ainda lá estava e era lá que atracavam os dois gasolinas da Capitania. Foi nesse local que coloquei pela primeira vez o pé na tchom de Soncente.
ResponderEliminarBraça caisística,
Djack
Os navios das duas fotos não são semelhantes...São distintos ou o "Colonial" recebeu obras de beneficiação?
EliminarDe facto é o mesmo navio. Na foto de cima tem no costado pintadas as palavras "Colonial" e "Portugal" à esquerda e direita da bandeira portuguesa, para poder ser bem identificado por submarinos alemães como barco de país neutral, durante a II Guerra. Na outra foto isso não sucede por se tratar de foto de antes ou depois da guerra. Mas isso é coisa absolutamente comum. Não é aí que está a admiração que eu tive ao ver com minúcia outras duas fotos...
EliminarBraça enigmática,
Djack
Eu sei disso, Djack...O paquete Guiné que em 1943 me levou de Lisboa ao Porto Grande tambem tinha o nome e "Portugal" no casco preto. No caso deste Colonial, o que me induziu em erro foi que uma foto é perspectivada a partir da proa e a outra a partir da ré...Daí, a confusão pela qual me penitencío...
EliminarBraça confuso
Zito
Eu não era nascido. Esperaria muitos anos para isso acontecer. Não deixou de ser um evento especial como se denota pelas fotos
ResponderEliminarAcho que as elevacoes presentes nas fotos 3 e 4 nao nao se enquadram no perfil da nossa Baia. Sera que o Djack trouxe o Macau para o PdB para nos confundir?
ResponderEliminarNada, é tudo verídico. Coloquei as duas primeiras fotos, só para se ver o paquete que levou o Presidente a África. Foram retiradas, com a devida vénia, de blogues diferentes. Mas, insisto, se apreciarem as outras imagens com a devida atenção, hão-de reparar em algo. Pensem no que lá se vê, pensem na data em que foram feitas...
ResponderEliminarBraça à espera,
Djack
Então?
ResponderEliminarRepito: então?
ResponderEliminarOu seja...
ResponderEliminarENTÃO?
+Na esquina da varanda do predio onde funciona o BCA esta algo que me parece ser uma lampada gigante. Nao sei se na altura ( ainda eu nao era nascida) ja havia eletricidade no Mindelo. Mais adiante, la para os lados do Cafe Royal vejo como que um posto alto, Sera isso que o Djack quer dizer ?
ResponderEliminarVou facilitar, para ver se os meus amigos (e amiga Nita, única comentadora) vêem o que eu vejo e eles não vêem porque ainda não viram o que eu vejo e eles não viram... ufaaaaa!
ResponderEliminarA coisa acontece nas duas últimas fotos. Olhem bem para elas. Vejam o que acham estranho e lembrem-se da data. Nestas coisas de pesquisa é preciso relacionar tudo. Eu até posso estar enganado, mas acho que não. Há ali algo estranho, fora do contexto.
Braça desesperada,
Djack
Bem, Djack, uma vez que reduziste o enigma às duas últimas fotos, penso que já sei. Trata-se de algo que me parece ser o fardamento dos Sokols trajado por alguns jovens. O barrete ou bivaque nota-se bem, mas também outras peças da indumentária. O enigma penso que já a descobri. É que esta visita se realizou em Junho de 1939 e, entretanto, pelo Decreto N.º 29.453, de 17 de Fevereiro de 1939, a associação fora extinta e substituída (em Cabo Verde) pela “Mocidade Portuguesa”, convertendo-se os “Falcões de Cabo Verde” na Ala N.º 2 “Afonso de Albuquerque” da Mocidade Portuguesa. Pois em princípio há razão para se estranhar que o uniforme dos Sokols continue a ser usado depois da sua extinção. Mas se calhar a imagem e a memória dos Sokols persistiram de tal maneira nos espíritos que um simples decreto não teve força para no imediato arrumar com a organização. Mas claro que o tempo e a pressão política se encarregaram de arrumar com ela. Sim, pressão política, já que a Mocidade Portuguesa tinha um determinado intuito político, ao passo que os Sokols eram uma organização exclusivamente com objectivos de ordem cívica e educacional.
ResponderEliminarSerá que acertei?
Ufaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!, o Adriano salvou a honra do convento. É exactamente isso! Eu não queria levantar mais o véu, porque poderia estar a imaginar coisas mas assim confirma-se. Estranhei logo a presença dos Sokols, ainda por cima na recepção ao Presidente durante cujo mandato eles tinham sido extintos. Mas era a farda que aqueles jovens tinham e se calhar ela foi a que tiveram durante os primeiros tempos de Mocidade Portuguesa e não a outra, verde e caqui. Basta dizer que muitos anos depois, em 1963, foi a minha mãe que teve de fazer a minha, depois de adquirir as fazendas numa loja qualquer do Mindelo. Ainda conservo a lista de despesa dessa farda que logo que possível aqui divulgarei, com preços e tudo.
ResponderEliminarEmbora isto não tenha sido um concurso formal, parece-me que o Adriano merece um ramo de acácia pela sua argúcia. Deste modo, passa de um a dois.
Braça agradecida,
Djack
Parabens, parabens ao Adriano que foi bem fundo na questao. O Djack gosta de brincar, de barafundar as coisas, mas o PdB conta com comentaristas inteligentes e argutos, como prova o vencedor desta parada.
ResponderEliminarBraca contente,
.
Obrigado, Djack. Neste momento estou a passear na Marginal, frente à Praia de Bote, ostentando o meu raminho de acácia no boné-
ResponderEliminarÉ muito provável que tenha acontecido como dizes. Ou seja, não havia ainda farda da Mocidade Portuguesa (MP) e é por isso que os “mocins” que vemos nas imagens envergam ainda o uniforme dos Sokols. Creio que são apenas “mocins”, pois não faria sentido que os adultos ex-Sokols integrassem a MP, que era exclusivamente para a juventude, embora na sua estrutura entrassem adultos na hierarquia superior. Nomeadamente, nos postos de comissário. Não sei se sabem que o Professor Marcelo Caetano, o primeiro-ministro que sucedeu a Salazar, foi o comissário nacional da MP, enquanto professor universitário. No meu tempo do liceu, lembro-me de que foi comissário local o reitor, que foi meu professor de português, e por sinal grande professor. Foi por pressão dele, sob pena de perder o ano por faltas, que entrei para a Milícia (ou escalão de Cadetes), que era o escalão etário que ia dos 17 aos 25 anos. Antes disso, nunca tinha comparecido na MP, pelo que na Milícia fui “soldado raso”. Aprendi a marchar, a acampar e cheguei mesmo a fazer tiro de espingarda. Gostei de lá ter andado.
Claro que a MP, embora o aproveitamento político, não tinha nada de mal, pelo contrário, era uma maneira de ocupar a rapaziada em actividades formativas. O problema era que lembrava sempre as juventudes hitlerianas, nas quais se inspirou a sua criação. E a nota mais inconfundível dessa semelhança era a saudação precisamente igual à nazi ou fascista italiano (Mussolini). Quanto a mim, errado e desnecessário, perguntando-me por que não aboliram isso após a queda do fascismo na Europa. Sempre seria uma forma de evitar confusões. Inclusivamente, as fardas dos comissários (estou a lembrar-me da que envergava o Marcelo Caetano) eram uma cópia dos uniformes nazis. Não havia necessidade...
Penso que foi uma pena terem sido extintos os Sokols, que nada tinham de político. Iniciativa cívica do mindelense Júlio Oliveira (sempre os mindelenses!), tinham finalidades educativas e formadoras dos espíritos e do corpo, procurando pôr os cidadãos ao serviço da comunidade. E tinham a vantagem de incluir tanto a juventude como os adultos. Pelo que tenho lido (o romance Capitão de Mar e Terra de Teixeira de Sousa), os Sokols constituem uma memória muito honrosa.
Ah, esqueci-me de agradecer à Nita Ferreira os parabéns que me deu. Bem-haja, amiga!
ResponderEliminarAproveito a boleia para voltar à questão da foto em que o Presidente passa revista à força de guarda de honra. Se se recordam, eu disse no primeiro comentário que o acto de rodopiar ou virar dele devia relacionar-se com uma atenção revisteira mais meticulosa a um marinheiro da força. Achei estranho, por não habitual, e analisei com mais atenção a fotografia para poder agora concluir que não é nada disso. A força de guarda de honra seria constituída por uma companhia naval, provavelmente a 3 pelotões, como é norma. Seria comandada por um primeiro-tenente (o que no exército e na força aérea corresponde a capitão).
A foto é malandra porque não dá uma perspectiva decente do acto, parecendo interessar-se no rodopio do Presidente. Vendo melhor, entendo agora que o Presidente chegou ao fim do acto da revista e está a contornar a cauda do que seria em princípio o 3º e último pelotão da força. Só observando melhor é que reparei no marinheiro que é o cerra fileira do meio. Como nestes actos cerimoniais a alta entidade se limita a uma revista meramente formal, tenho para mim que o general Carmona está a virar-se para passar por trás da força para se dirigir de novo ao Estandarte Nacional (que ladeia a direita da força, sendo portado por um oficial subalterno e escoltado por 2 sargentos e uma praça), a fim de saudar o mais alto símbolo nacional. Note-se que o Presidente já o tinha feito antes de iniciar a revista, como manda o regulamento, mas terminada a revista às tropas não abandona o local sem voltar a saudar o símbolo. Para ele, que era militar, seria naturalmente a continência. Os civis saúdam com um um leve gesto de inclinação da cabeça. É como faz o Cavaco em Portugal e o Jorge Fonseca em Cabo Verde.
Por ser muito limitativa, esta seria uma foto a eliminar de entre outras que o fotógrafo teria obtido do acto, mas, enfim, é a que temos.
Quando aconteceu esta visita a Cabo Verde, eu estava ainda longe de nascer e a minha mãe tinha apenas, feitas as contas, 16 anos. Ela não terá visto a entrada do Presidente na cidade, mas a mãe dela, minha avó, sim. E tanto viu bem a fisionomia do Carmona que me lembro de ela comentar nestes termos, quando eu era rapaz: “Carmona era bnitim e tava bem na sê farda”. A minha avó tinha na altura 42 anos e Carmona ia então nos 70 anos e aparentava grande vigor e desenvoltura, tanto quanto podemos depreender desse seu gesto de rodopiar.
Desculpem lá este arrazoado de explicações militares, mas o Djack tem esta coisa de nos espicaçar a vontade comentar… E ainda por cima fez-me recordar as palavras da minha avó.
O Adriano mereceu o ramo de acácia não só por ter chegado à mesma conclusão que eu como por também nos ter dado uma lição de protocolo militar de alta categoria. Para terminar, chamo a vossa atenção para a penúltima foto. Em baixo, à esquerda, vê-se um marinheiro que deve pertencer à força naval que escoltou o Presidente, mexendo naquilo que penso que será uma máquina fotográfica. Foram tiradas fotos a partir da varanda da CMSV e, se eu estou certo, outras cá de baixo. A direita há um outro sujeito, europeu, envergando uma farda escura. Poderá ser um alto dirigente da Mocidade Portuguesa já com a farda regulamentar que se tornou conhecida ou talvez da Legião Portuguesa. Neste caso, talvez fazendo parte do séquito que veio da Europa. Mas aqui a coisa é mais complicada, porque se vê bastante mal que tipo de farda é.
ResponderEliminarBraça ao herói que ganhou, aos que colaboraram e aos que não colaboraram mas leram.
Djack
Comovente ver notícias da nossa terra nos tempos que havis movimentação. Um bem haja ao Sr. Joaquim Saial
ResponderEliminarBem-vindo ao "Praia de Bote", blogue ESSENCIALMENTE de São Vicente e do Mindelo.
ResponderEliminarBraça,
Djack