PELO 93º ANIVERSÁRIO DA MINHA MÃE
Adriano Miranda Lima |
Mãe, por momentos, pensei que, hoje, dia 9 de Julho, não iria enviar-te um beijo, pelo teu aniversário natalício. Claro, sempre admiti, com insuportável mágoa, que alguma vez esse dia ia acontecer.
Mas não me conformei, montei uma cilada à Fatalidade, armando-me com a música do verbo e a veemência do sentimento. E, por estranho sortilégio, trocaram-se as voltas à Fatalidade: o rouxinol fechado numa gaiola de fogo continuou, indiferente, a entoar o seu lindo canto; escreveu-se na água a palavra memória e ela permaneceu legível e inalterável como se gravada com cinzel na pedra dura. Depois, dei comigo a voar, qual pomba pressurosa, entre os dias 1 e 9 de Julho, espalhando flores pelo caminho. Desliguei a voz das palavras e deixei que por um instante elas fossem simplesmente flores e, livres, escolhessem os seus vasos de cristal. E então percebi que a corola de uma rosa contém a graça genesíaca de acordar as vozes adormecidas na incerteza do amor ou na incontinência do esquecimento. Esquecimento…esse buraco negro que tragicamente suga o amor.
Por isso é que o meu beijo deste ano para ti, Beza, tem o coração de uma estrela, a sua luz radiosa e a força ígnea do seu núcleo. É uma estrela que construo sob o signo de Julho e ilumino com uma acendalha de fé. Ninguém será capaz de ofuscar a luz dessa estrela, porque ninguém conhece a incandescência do fogo como um filho de Julho. E nada consegue deter essa estrela porque a palavra nada não existe no vocabulário de um sonho. Coração de estrela, esse beijo é também a coroação de um desejo, o mais sentido.
Sim, Mãe, este ano será o de todos os teus aniversários, os do teu passado de menina e moça, os da tua maturidade, e os da tua eterna presença nas luzes que todas as noites acendemos. Antes de a noite chegar, já és luz; antes de as nossas luzes fenderem a escuridão, já és a maior e a mais brilhante luz no trânsito das nossas vidas.
Tomar, 9 de Julho de 2015
Adriano Miranda Lima
As boas palavras são raios de luz que penetram na alma de cada filho que reconhece o sacrifício de uma Mãe. E estas mais singelas que utiliza o Adriano são como o ouro que não sofre as agruras do espaço e do tempo e que não voam porque se transformaram em escrita sempre que fica para eternizar os sentimentos mais nobres que não desaparecem enquanto se viver.
ResponderEliminarAgradeço o teu gentil comentário, Val. Esclareço que sou efectivamente um "filho de Julho", como digo no texto. É que nasci no dia 1 de Julho, razão por que a "pomba pressurosa" viaja precisamente entre 1 e 9 de Julho.
ResponderEliminarNão tenho palavras, o papá já as disse todas! Como filha e neta só posso dizer que me orgulho muito de descender de tão louvável família! Este sentimento intensificou-se, ainda mais, quando estive em São Vicente há três anos para comemorar os 90 anos da nossa Beza. Era como se já lá tivesse estado, toda a envolvência daquele lugar me era familiar. Certas coisas não se explicam, sentem-se!
ResponderEliminarA ti, minha querida Beza, um beijo no teu coração!
Ana Lima
Costumamos dizer em CV que o 'amor de mãe' é único. Esta frase traduz tudo a ligação umbilical que perdura até ao fim da vida. Bravo Adriano por exprimires este sentimento tão puro e os partilhares com os amigos
ResponderEliminarBonita homenagem. Deixo uma rosa amarela. À sombra dessa saudade. Por saudade igual. 93 fez minha mãe também, em janeiro.
ResponderEliminarQuando minha mãe morreu, tinha eu 65 anos....Nessa idade, com pais vivos, a gente acaba por convencer-se de que eles são eternos e, quando se vão, a dor é mais profunda, mais dorida...Depois, lentamente, voltamos a acreditar que pai e mãe, não morrem, apenas se ausentam, físicamente!
ResponderEliminarComo eu gostaria de ser o Adriano e fazer versos destes àquela a quem chamava "mãezinha"...
Obrigado, amigo, pelos momentos de tão rara beleza...
Braça
Zito
Parabéns querida avó. Onde quer que estejas esta tua neta esteve contigo.
ResponderEliminarParabéns papá pelas palavras que tão bem expressam a beleza do sentimento, puríssimo, que é o de um filho pela sua mãe.
Que bela manifestação de amor maternal.
ResponderEliminar" Amo como amo o amor... Não conheço nenhuma outra razão ara amar senão amar...
que queres que te diga, além de que amo... Se o que quero dizer-te é que te amo?
Fernando Pessoa