A notícia já tem algum tempo, mas figura-se ainda como actual, dado que o livro por aí anda. E não veio para o Pd'B antes, porque estava reservada para o "Terra Nova", onde já saiu. Assim, aqui está ela agora, para ser lida, e o livro... para ser comprado.
Lançamento em Lisboa do livro "Crónicas da Terra Longe", de Luiz Andrade Silva
Joaquim Saial (texto e fotos)
No passado dia 24 de Julho deste 2015, data para sempre trágica pela morte do poeta e diplomata Corsino Fortes, foi lançado em Lisboa o livro do sociólogo cabo-verdiano residente em França Luiz Andrade Silva, "Crónicas da Terra Longe" (Chiado Editora, 442 pp.), colectânea de textos de reflexão escritos nas três últimas décadas sobre problemáticas diversas do seu país. O evento ocorreu na Livraria Desassossego, a São Bento, zona de grande e antiga tradição cabo-verdiana da capital portuguesa. Situada frente a um prédio onde residiu episodicamente o poeta Fernando Pessoa em 1905, daí lhe vem o nome, por via do "Livro do Desassossego" deste.
Arsénio de Pina |
Com sala cheia, o lançamento teve apresentação do médico Arsénio de Pina e do professor da Universidade de Aveiro José Fortes Lopes, ambos também cabo-verdianos. Após as palavras de circunstância da representante da editora, Arsénio de Pina delineou uma pequena resenha biográfica do autor e referiu-se ao livro acentuando o alto alcance deste para um melhor conhecimento da emigração nacional, ao mesmo tempo que lamentava o facto de sucessivos governos não terem dado importância aos alertas do autor sobre os constrangimentos sofridos pela diáspora, tanto no exterior como nas relações com a própria pátria. O discurso de Arsénio de Pina derivou então para a história da emigração do povo das ilhas, não esquecendo no entanto de referir que o livro se debruça sobre outras vertentes de realce nas áreas da cultura, literatura, teatro, música, cinema, desporto, etc. A expressão "Luiz Silva não é homem de poder" e a acentuação na tónica de que o sociólogo poderia estar confortavelmente instalado na administração do país mas que tinha preferido fazer da sua vida um desiderato pedagógico ao serviço da terra natal, foi aproveitada pelo segundo orador, José Fortes Lopes, que cognominou Luiz Silva logo de início como "Senador da emigração".
José Fortes Lopes |
O docente universitário focou-se sobretudo no objecto da regionalização, actualmente a ser muito discutida, considerando que ela pode ser motor resolutivo de diversos problemas da sociedade cabo-verdiana, mormente com o concurso dos homens e mulheres da 11.ª ilha, a da diáspora, até hoje sempre desejados pelas divisas que remetem para a pátria mas pouco chamados a uma efectiva participação na construção da mesma. Referiu-se ainda ao caso dos emigrantes cabo-verdianos que em São Tomé ficaram retidos aquando das independências, sem capacidade financeira para pagarem o regresso a casa e às famílias. A este propósito lembrou uma ideia de Luiz Silva sobre o aproveitamento dessa sábia mão-de-obra e da dos seus descendentes num renascer das roças, hoje em parte significativa abandonadas. Numa conjuntura de trabalhadores livres, com conhecimento acumulado por décadas de trabalho, os cabo-verdianos poderiam impulsionar o renascer da produção de café e cacau são-tomense, com óbvias vantagens para si e para o país de acolhimento.
Luiz Silva |
Foi então a vez de Luiz Silva dissertar durante cerca de meia hora sobre a temática do livro, desvendando à atenta plateia alguns aspectos do mesmo. A exposição do autor acentuou o contributo dos emigrantes para o desenvolvimento da cultura e até da democracia, devido ao seu convívio continuado com sociedades europeias avançadas, casos da França, Holanda e Suécia, por exemplo. E pode resumir-se num parágrafo do prólogo com que inicia a obra agora trazida a público: "Toda a narrativa contida nas páginas deste livro demonstra que as comunidades emigrantes e os nossos conterrâneos residentes nas ilhas são protagonistas do mesmo destino colectivo, separados apenas pela imensidão do mar, porque fatalmente próximos no coração e unidos no mesmo propósito de servir o seu país. E é por isso que a diáspora não pode ficar indiferente aos problemas do país como um todo, que ela acompanha e ausculta permanentemente com todo o desvelo em ser parte da sua solução, do mesmo modo como em tempos idos soube sempre reagir e responder 'Pronto!' nas horas críticas da nossa História, dando tudo o que podia sem regatear sacrifícios e canseiras."
Para além do prefácio de Arsénio Fermino de Pina, o livro ostenta na contracapa um texto de apresentação do coronel aposentado do Exército Português Adriano Miranda Lima, cabo-verdiano de São Vicente.
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