sábado, 16 de janeiro de 2016

[1810] Novo livro sobre Santo Antão, da autoria de Silvino de Oliveira Lima

O autor, em foto do jornal "A Semana"
Enviados pelo nosso colaborador Adriano Miranda Lima, Praia de Bote publica o prefácio e os textos das badanas do novo livro de Silvino de Oliveira Lima, engenheiro e antigo ministro das Obras Públicas do primeiro governo da República de Cabo Verde. Silvino Lima, que nasceu em 1937 em Ribeira Grande de Santo Antão, é também autor de "Martinho de Lima Melo e Aniceta Gomes da Fonseca - Uma família antiga em sua teia genealógica". Os textos que ora reproduzimos, podem também ser lidos no blogue "Esquina do Tempo", AQUI

Prefácio de Adriano Miranda Lima

Adriano Miranda Lima
Apesar de eu ser natural de São Vicente, ou talvez por isso mesmo, o autor desta notável publicação encarregou-me de escrever o seu prefácio, alegando que “o meu coração bate forte por Santo Antão”. De facto, o meu coração bate forte, fortíssimo, pela ilha onde nasceu o meu pai e dois dos meus avós, o paterno e a materna, mas seria injusto que o chamamento umbilical fosse a única razão do meu sentimento. É que Santo Antão seduz pelos seus próprios méritos, pelos seus encantos naturais, pela sua beleza imponente, a que ninguém fica indiferente, cabo-verdiano ou visitante estrangeiro. Dir-se-á que a ilha se formou num feliz acaso em que as entranhas da terra aplacaram a sua raiva ígnea para permitir que o caos e a paixão escrevessem, em amoroso dueto, um poema que enche os olhos e cativa a alma. E o poema cósmico é exactamente o cartão-de-visita da ilha, esculpido na pedra com linhas a um tempo duras e majestáticas, suaves e enigmáticas, amorosas e enleantes.

Os seres que povoaram a ilha não demoraram a entrar em sintonia com a natureza envolvente, a sentir o ímpeto da sua força telúrica e o sopro do seu mistério. De rija têmpera e coração generoso, o homem de Santo Antão é de uma singularidade única na terra cabo-verdiana, porventura o intérprete mais perfeito do sentimento que dá pelo nome de morabeza. Assim, a terra e as suas gentes são, pois, um compósito de virtudes integradas que tudo tem para que este torrão cabo-verdiano possa auspiciar um futuro mais próspero e à altura dos seus pergaminhos.

Este livro consiste num exaustivo, abrangente e bem organizado ensaio sobre o que Santo Antão representa, sobre o que no passado lhe frustrou a caminhada para o futuro, e sobre o que é possível empreender para vencer os escolhos da sua trajectória e lançar as linhas estruturantes de uma outra arquitectura do futuro. O autor utiliza na sua exposição uma linguagem de grande requinte literário, com pendor de poesia quando revisita a história da ilha e se enternece com a sua paisagem sublime. Mas a mesma linguagem de roupagem lírica logo se transmuda, sem contudo perder sua musicalidade, em verbo mais rectilíneo e incisivo de objectividade quando analisa a problemática da ilha e aponta um conjunto de soluções para que ela consiga atingir um patamar de desenvolvimento mais consentâneo com as suas potencialidades. Ele nada deixa ao acaso na sua abordagem, e não se coíbe de denunciar os atavismos e erros do passado que impediram Santo Antão de ser peça relevante no tabuleiro em que se jogou o futuro colectivo, quer enquanto colónia quer já no regime soberano. É com esta resolução que alerta para a necessidade de um arrepiar de caminho e convoca todas as pulsões anímicas para o trabalho de mudar a fisionomia da ilha.

Conforme o que é delineado nestas páginas, elevar Santo Antão ao estatuto que merece é tarefa meritória e justa, mas de manifesta exigência e complexidade, porque implica uma autêntica reconfiguração do espaço geográfico, com projecção e diversificação territorial da sua economia a uma escala sem precedentes, acarretando em simultâneo uma importante alteração do dispositivo autárquico. Se tudo isto representa em linhas gerais o eixo da concepção, a roda da respectiva engrenagem, condição imprescindível para que tudo se mova, só poderá configurar-se nas populações a transferir internamente ou a regressar à sua ilha de nascimento mediante o incentivo de novos desafios. Ou seja, o querer das gentes da terra será tão determinante como a própria alavanca financeira.

Ciente de que foram os desequilíbrios estruturais e demográficos que acentuaram o empobrecimento da ilha, o autor entende que, “lançadas as bases para a arquitectura de uma nova e efectiva economia, Santo Antão deixará então de ser um grande problema e passará a constituir, efectivamente, um dos pilares mais consistentes e promissores da economia nacional”. É um facto. Sem dúvida que estamos perante um desafio que ao mesmo tempo estimula e enobrece quem nele se engaje. De resto, é impossível ficar indiferente a esta pérola do pensamento intelectual que o ilustre santantonense nos oferece.

Poderá haver quem considere uma utopia o que aqui se preconiza, dada a grandeza da obra e os custos financeiros que envolve, além do efeito pernicioso de uma inércia que se instalou nos espíritos nas últimas décadas, corroendo o ânimo e gerando o conformismo. Mas o autor confia em que o efeito conjugado das novas tecnologias, a maior qualificação das actuais gerações e os impulsos da modernidade, possa ditar a diferença entre o sonho realizável e a mera utopia. Bom filho da terra, entendeu dever contribuir com este precioso legado de ideias para o futuro da sua ilha, nem que se tenha de procurar “o financiamento à luz do facho”. Sem dúvida que o conceito e a metodologia aqui expressos são por si só um poderoso aliciante para mobilizar as vontades e atrair o investimento.

Cá por mim, o meu estimado primo mete numa garrafa o mapa de um tesouro e lança-a ao mar do tempo, na esperança de que alguém a recolha e lhe dê o devido uso. Comungo inteiramente da sua fé porque acredito que a geografia e o homem podem, em sintonia, conjugar bem a palavra do futuro para tornar grande a felicidade dos cabo-verdianos.

Textos para as badanas do livro

Decorridas as quatro primeiras décadas de história de país soberano, o percurso feito já dá para perceber quanto foi compensadora a mudança de regime tendo em conta os enormes progressos alcançados nos vários campos de actividade, desde o económico ao social. Todas as ilhas com as suas diferenças, mas todas revelando progresso, comparando a situação inicial com o quadro oferecido pela situação actual. Podia-se ter ido mais além? Certamente que podia. Mas exigir mais poderia incorrer na injustiça de ignorar a forte inércia que foi necessário vencer para que se começasse a experimentar as vantagens trazidas pelo novo regime que, progressivamente, foram crescendo à medida da experiência administrativa que foi sendo adquirida e a socialização do conhecimento que, ano a ano, foi aumentando de forma espectacular.

Contudo, agora que a mesma inércia já pouco conta e é exponencial o capital de experiência e conhecimentos adquiridos, da mesma forma como, orgulhosamente, se sente os progressos já alcançados, também, humildemente, se deve colocar esta questão: estará sendo feito tudo ao alcance para levar mais alto o nível das realizações, ou está-se a atropelar o progresso com erros que podem ser evitados? Questão legítima, porque agora a inércia a vencer é outra surgindo num quadro social que evolui rapidamente levantando problemas sérios de gestão para compatibilizá-lo com as necessidades casuísticas do desenvolvimento. E neste caso, como estará cada ilha se comportando para dar resposta aos desafios colocados nesse novo quadro?

Aqui o foco vai estar inteiramente centrado na ilha de Santo Antão que, não obstante a condição de segunda em extensão territorial e terceira em população, está colada à cauda do crescimento por capita com o pior rácio do contexto nacional, quando isso sequer é uma surpresa. E explica-se por várias situações delicadas, como o processo de desenvolvimento baseado na exclusiva exploração dos aquíferos naturais que põe numa relação inversa os avanços na melhoria das condições de vida das comunidades com a degradação das áreas de regadio, denunciando um desenvolvimento insustentável que pode perigar de rotura o estado do meio ambiente. Também, entre muitas outras situações, pode-se ainda relevar a questão da segurança, já que a maior concentração de actividades se encontra numa região muito vulnerável a eventos naturais violentos. O maior desse tipo ocorreu há 65 anos, muito tempo para induzir nas pessoas que aí é irrelevante essa questão, o que complica, sobretudo para gerir a contenção de iniciativas ousadas no domínio da utilização de solos para fins residenciais. Um grande problema? Obviamente que é, porque as ameaças globais que derivam das alterações climáticas tornam imprevisível o pico a alcançar no próximo evento.

Recomenda-se então leitura atenta sobre a visão aqui desenvolvida para melhor responder à construção do futuro em Santo Antão.

7 comentários:

  1. Em primeira mão no Praia de Bote. Um importante livro de Silvino de Oliveira Lima (engº civil), o homem da estrada Porto Novo- Ribeira Grande de S. Antão, uma referência de seriedade e de postura. Só o prefácio de Prefácio de Adriano Miranda Lima (primo irmão do autor) já é obra literária. O livro que comecei a ler, como diz e bem Adriano " consiste num exaustivo, abrangente e bem organizado ensaio sobre o que Santo Antão representa, sobre o que no passado lhe frustrou a caminhada para o futuro, e sobre o que é possível empreender para vencer os escolhos da sua trajectória e lançar as linhas estruturantes de uma outra arquitectura do futuro ". O livro está organizado em 24 capítulos é para mim uma proposta de ordenamento do território santantonense, uma visão para o futuro de S. Antão no quadro de Cabo Verde descentralizado e com poderes locais reais e efectivos.
    Silvino Lima é uma pessoa com uma visão moderada do passado e do futuro, com a qual não podemos estar em desacordo. Não encontramos visão nem propostas megalómanas que nos pudessem pôr os cabelos em pé, com frequentemente é o caso hoje em dia em que o sonho a realidade e o realismo se entrechocam desesperadamente, tais como a defesa intransigente de um megapolo no Porto Novo, Aeroporto, de Universidade e de tudo o que há no Mundo tudo pensado para concorrer exclusivamente com Mindelo sem ter em conta possíveis sinergias com a ilha irmã separada por um canal de oceano. Apesar de defensor do desenvolvimento acelerado da ilha, Silvino Lima Fustiga a ideia de uma desenvolvimento feito à martelo e à pressa, sem pensar: e estou-me a pensar nos estragos que podem causar ideias e projectos estapafúrdios inventados nos gabinetes da Praia sem terem aem conta as reais necessidades da ilha, da sua população, mas cujo objectivos são dividendos eleitorais e políticos. Ideias não faltam aqui para o desenvolvimento sustentável e a preservação dos equilíbrios essenciais neste autêntico ecosistema natural e social frágil, já em perigoso processo de desertificação humana, provocado pelo centralismo do Mindelo e da Praia. Um capítulo dedicado à Administração em que o autor critica o centralismo em Cabo Verde e refere frequentemente, embora com muita moderação, a uma nova administração e a poderes autonómos competentes, robustos e com visão do futuro, ou seja aquilo que os Regionalistas chamam Regionalização. É pena que uma pessoa como o Engº Silvino Lima nunca pôde servir directamente a sua ilha natal. Mas isto não é uma recrimanação, pois todos sabemos que no sistema actual tal sonho é impossível, é proibido. Os melhores filhos de cada ilha têm que estar presentes na capital do país para concluir a maior obra centralista: o desenvolvimento exclusivo de Santiago. Uma ilha como S Antão só pode estar entregue a caciques locais a mando dos partidos ou fazendo recadinhos ou riolas.
    Convido a todos a ler no Praia de Bote (link) o importante prefácio de Adriano Miranda Lima assim como alguns extractos do livro

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  2. Agradeço ao amigo Djack a publicação desta notícia sobre o livro do meu primo. Esclareço que, além do outro livro mencionado na apresentação do autor, o Silvino Lima escreveu também "S. Antão - Salvados duma Memória".
    Acrescento que, neste livro ora divulgado, o autor tece a sua visão sobre o futuro (possível) da sua ilha, numa perspectiva que pressupõe um governo regional para a ilha, dado que em várias situações utiliza a expressão "governo regional". A meu ver, só nessa condição, com os próprios filhos da terra a serem os arquitectos directos do seu futuro, é que os cabo-verdianos conseguirão mudar o panorama das suas vidas. Ou seja, só com um modelo regional capaz de libertar as ilhas da asfixia de um centralismo político que cada vez mais se mostra pernicioso para o país.

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  3. O comentário do José Lopes vem aumentar a curiosidade que o livro é susceptível de despertar entre os santantonenses e, por indução, entre os cabo-verdianos que acreditam que a regionalização é a única via para que cada ilha do arquipélago tenha a sua oportunidade de progredir. Pessoalmente, torço por S. Antão, mas torço ainda mais por uma política conjunta em que as duas ilhas se dêem as mãos a caminho do futuro.
    É de louvar a iniciativa do Silvino Lima em publicar as suas ideias sobre o futuro da sua ilha, prova de que, embora vivendo na Praia, o seu coração não se despegou da sua terra natal e a sua mente está afinada com os desafios da modernidade.

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  4. Votos de sucessos e de boa leitura para o livro ora publicado. Lendo Adriano, percebe-se a nossa mágoa de não se ter feito mais e melhor, ao longo de quatro décadas, em prol de um desenvolvimento equilibrado de todas as ilhas... no caso Santo Antão, mas que se adapta perfeitamente ao Fogo, e outras ilhas, até para que os seus naturais e os das outras ilhas nelas se fixassem e contribuíssem para o seu desenvolvimento e não acontecesse essa espécie de êxodo para a capital que os chamados Quadros nacionais tiveram e aqui acrescento, tivemos quase todos necessidade de fazer...
    Parabéns ao autor. Bem haja esta análise, sobre uma das mais importantes ilhas do Arquipélago.

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  5. Acaba de me chegar às mãos um volume do precioso livro que me foi enviado por um Grande Amigo que vive a obra como o autor. Logo que possivel vou "namorar" o trabalho pois também amo Sto. Antão e gostaria que aparecessem mais filhos da ilha das montanhas e dar fé.
    Estou certo que o livro vai ser um sucesso.
    Até breve

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    1. Eu até espero que apareça o autor, para dar um ar da sua graça, já que com a propaganda gratuita do Pd'B irá vender 87 edições do livro e ficará milionário...

      Braça à Sintantom,
      Djack

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  6. Ola chamo isaías a minha mae nasceu em santo antao e cresceu na praia , tanbem a minha avó e o meu bisavô sao dessa ilha o meu bisavô Fernando Antonio Lima no qual morreu entre 2000-2003 nao recordo o ano que faleceu em sao vicente, dizia que É descendante de frances e portugues mas tambem que o apelido fora mudado para Lima mas nao sei se ele pertence a essa familia Lima

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