Eu gostava igualmente de fazer compras nas duas papelarias mais importantes do Mindelo: a do Leão (na altura, em 1962-65, situada na Rua de Lisboa) e a do Tói Pombinha (num espaço entre o plurim d'virdura e a Câmara Municipal). Ambas tinham artigos que me interessavam. A do Leão, cromos (que ainda guardo), canetas, esferográficas, minas para lapiseiras, livros escolares (também ainda conservo os meus dois pequenos mas excelentes dicionários de Português-Francês e Francês-Português lá adquiridos); a do Sr. António Ramos Gomes (más cunxide por Tói Pombinha), pelos romances policiais, de far-west e de Júlio Dinis, tinta-da-china e sobretudo pelo seu inigualável papel cavalinho. Parecia-me sempre que o comprado no Pombinha era melhor, quando o tira-linhas o sulcava ou o lápis de carvão o enchia de riscos, vá-se lá saber porquê.
Pois hoje, enquanto esperamos pelo Adriano que anda por fora (ele merece a espera, pelo seu militantismo colaborativo), divulgo não só um anúncio do Tói Pombinha existente num programa do Eden Park de Novembro de 1943 que o nosso amigo teve a generosidade de me oferecer, como um desenho meu, por acaso feito num papel que descobri hoje aqui no arquivo e que de imediato reconheci não ser do meu fornecedor. É folha pouco espessa, de papel inferior, decerto rapinada no gabinete do Patrão-mor, das usadas para ofícios ou cópias feitas a papel químico.
Lembro-me perfeitamente de estar a realizar esta "bela" obra, numa prancheta, no pátio da Capitania /Torre de Belém, a olhar directamente para o motivo que aqui se vê, o veleiro "Senador Vera-Cruz", de saudosa memória e, se não estou em erro, feito na Brava. Mas, ó miséria das misérias, o Djack que até tinha bastante jeito para o desenho, nesse dia só fez asneiras. Oa vejamos:
1 - O Monte Cara está ao contrário.
2 - Em pleno dia, com o Sol a brilhar no céu, o farol do Djéu está a acender e a apagar.
3 - O vento do Mindelo é completamente doido, mas não consta que enfune as velas dos veleiros para um lado e remeta as bandeiras dos mesmos para o outro.
4 - Aquele erro em Cruz...
5 - Santo Antão eclipsou-se ou então... afundou-se.
5 - Santo Antão eclipsou-se ou então... afundou-se.
6 - Salva-se o DC3 que devo ter visto nalguma revista mas que nunca vi sobrevoar a baía.
Só asneiras, portanto... Mas que a silhueta do "Vera" era assim, era. E que era branquinho com uma lista verde junto ao mar, também. Perdoem-me o senador o erro do apelido e os visitantes a desgraça que lhes mostro e terá entre 52 e 55 anos. Mas stóra é stóra...
Djack desenhador, os erros é que dão graça a isto tudo, rapaz. Eu até diria que depende da perspectiva considerar se houve erro ou não. Muitas vezes a arte consiste na transgressão do real, sobretudo na poesia.
ResponderEliminarE eu que já nem me lembrava do nvizim Senador Vera-Cruz.
Mas que grande evocação!
Não estejamos a exagerar. O menino até soube utilizar a régua e o esquadro nas vêlas do navizim de cuja construção nos estaleiros da Pontinha assisti como assistoà do Albany por Nhô Ped Claudio.
ResponderEliminarVoltemos ao desenho. Visto o tema, a imaginação, o cuidado e a idade, dou 12 sobre 20 com a recomendação "pode fazer melhor".
Esperemos para o proximo com um
braça nàutica
Li num site sobre Eugénio Tavares que o "Senador Vera-Cruz" foi feito na Brava, mas se o vice diz que ele foi edificado nos estaleiros da Pontinha, já não digo nada.
EliminarBraça com carpinteiros por todo o lado,
Djack
Que maravilha de desenho!
ResponderEliminarFiquei encantada.
É um desenho limpo e honesto. O miúdo que o fez olhava muito para a baía e ela ficou-lhe na memória para sempre. Percebe-se, vendo o desenho, que o Porto Grande lhe agradava. Porém, naquela altura, deixou-se enrolar, deslizou e só fez asneiras. Até o Monte Cara tem a testa no lugar do queixo!... Imperdoável.
EliminarBraça lembrada de uma das baías mais bonitas do mundo,
Djack