sábado, 17 de fevereiro de 2018

[3541] De como Nhô Ambróze ficou para a História "misturado" com Carmona e Salazar, sem que no seu nome se falasse...


A história, já quase toda a gente a sabe, mas recontamo-la agora em linhas mínimas, para os poucos que vêm ao Pd'B e nunca dela ouviram falar. 

Estamos em 7 de Junho de 1934, São Vicente (e Cabo Verde, em geral) está na penúria, grassa a fome e é ingentemente necessário comer. Revolta-se o povo miserável que ataca armazéns de víveres e nisto surge à cabeça dos acontecimentos um homem que se torna sua bandeira involuntária, o carpinteiro santantonense de nome Ambrósio Lopes e de nominha nhô Ambróze. No meio disto tudo, e porque era garantido que a continuar o motim urbano iniciado na Ribeira Bote haveria mortes com fartura, um grupo de cavalheiros (na boa acepção da palavra), entre os quais pontuavam Baltasar Lopes, Augusto Miranda e o médico Augusto Regala, conseguiu amainar os ânimos e a coisa saldou-se por apenas um morto, alguns feridos, alguns presos e Nhô Ambróze deportado para Angola. Digamos que em termos assaz incompletos, foi o que se passou. E concluamos o resumo, dizendo que apesar dos roubos de géneros, parte da classe comerciante de certo modo foi solidária com o que se passou, pois sabia das dificuldades por que a população passava.

É claro que o caso chegou a Lisboa. E  é claro que houve castigo. Isso também já o sabíamos, mas nunca tínhamos visto preto no branco os termos em que ele se processou. Até que após um enorme mas paciente sgrovete demos com a notinha... Trata-se do decreto 24592, de 23 de Outubro, publicado cerca de quatro meses e meio sobre o evento. Rápidos, os rapazes, o presidente Óscar, o também presidente mas do governo, António, e o ministro (na altura, das Colónias) Armindo...

Como sempre, "quem se lixou foi o mexilhão" - que se antes não tinha dinheiro para comprar alimentos, agora ainda menos. Quanto às companhias carvoeiras, essas safaram-se nas suas matérias-primas, mas de qualquer modo os filhos de Newcastle e Cardiff aboletados no Mindelo pagaram a partir daí o que compravam nas lojas e no plurim de virdura (alguns produtos, pelo menos, que passavam pela alfândega por não serem originários da ilha) também 10% mais caro... Utilizando outro conhecido ditado, "não há bela sem senão"...


5 comentários:

  1. Creio que já conhecia este decreto, mas é sempre bom relê-lo para relembrar quanto pode ser autista e perverso um governo autocrático, mais ainda quando decide sobre territórios colonizados ou tidos como tal, caso de Cabo Verde.
    De Salazar não se podia esperar mais porque era o que a História guarda a seu respeito: autoritário, insensível e racista. Sim, racista, é verdade. Conta o Adriano Moreira, na sua autobiografia, que ele se referia aos africanos nestes termos, quando era instado a tomar certas medidas: Bem, vamos arranjar uns "dinheinhos para os pretitos". Os diminutivos eram habitualmente utilizados por ele quando queria minimixar ou apoucar as pessoas ou as situações. Quem conta é um dos seus antigos ministros.
    Quanto ao Carmona, não passava de uma figura decorativa.

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  2. Ê a primeira vez que vejo isso mas nunca duvidei que não existisse. Mais depressa se lembravam de malhar do que dar.
    Não sou apologista de guerra nenhuma mas acho bem ir "esgrovetando" para uma histôria real. Tanto mais que a tendência e criar outras paralelas.

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  3. Pena é que muitas das Gerações de agora não se interessa por estas noticias históricas

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  4. É incrível que uma revolta originada pela situação de fome 'cascod' na ilha o que provoca revolta do povo faminto e o ataque armazéns para subtrair víveres seja punido com prisão (o líder Ambrózio que não mais fez do que cumprir uma missão humanitária e cívica) e a população com impostos. Salazar era um insensível que destruiu Portugal. Cabo Verde foi duplamente vítima da política desastrosa de Salazar já que não contente com a política que provovou a estagnação do arquipélago e da ilha de SVicente em 50 anos, acabamos por apanhar duplamente pela tabela em tudo o que aconteceu de mal a este Portugal. Não tardaram que falsos salvadores da nossa pátria aparecessem com cantos de sereia enganado o pvo faminto. Resultado Portugal desembaraçou a um custo de 1$00 no bom momento!! E ainda nós somos espertos...

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  5. Pois é Adriano, mas o seu homónimo Moreira também devia fazer o mesmo...
    Mais um pedaço de História que o Djack partilha connosco! Bem-haja amigo!

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