sábado, 25 de setembro de 2021

[5441] "Paúl", um dos dois primeiros livros de Manuel Lopes: o outro, do mesmo ano, foi "Monografia Descritiva Regional"


Anúncio à obra de Manuel Lopes, em 24 de Dezembro de 1932. O livro fora publicado nesse mesmo ano, na Sociedade de Tipografia e Publicidade, Limitada, de São Vicente, Cabo Verde e tem uma pequena nota, espécie de explicação para o leitor, que aqui deixamos:

"...julguei-me no direito de traduzir o que vi e senti consoante a verdade do meu temperamento." A frase é de Aquilino Ribeiro, em "O homem que matou o diabo" e Manuel Lopes, neste caso, adoptou-a como sua e muito bem, aliás. 

São 20 páginas de texto e mais uma de post-scriptum de três parágrafos que também aqui fica:

«Releio o que acabo de escrever sobre o Paúl- Acho-o muito sintético, muito pobre, muito incompleto.

Mas não desejo tocar em uma única frase, não desejo modificar nada que, num acto febril, foi aqui traçado. Não quero simplesmente mutilar a emoção que m'o ditou, porque, se esta reportagem nervosa e imperfeita foi escrita, obedeci unicamente à necessidade irresistível de expandir a impressão imediata que aquela paisagem transmitiu - e não porque fosse ali na intenção de a escrever.

Afora isso, sendo ela ainda uma tentativa, oxalá que possa vir a escrever mais tarde algo de concreto a este respeito, fruto de mais demoradas observações...

São Vicente de Cabo Verde
Maio-Junho1932»


Capa de F. Torres


O autógrafo é de possuidor antigo do livro, talvez "Manuel Sena". A capa deve ter estado meio pegada a este frontispício (eventualmente devido a humidade existente na biblioteca onde esteve guardado), daí ele estar algo maltratado.

1 comentário:

  1. Não conhecia esta monografia de Manuel Lopes. O Djack está sempre a surpreender-nos com coisas novas ou que ignoramos.
    Vejo aqui que o autor confessa, na sua nota, que "fora isso, sendo ela ainda uma tentativa, oxalá que possa vir a escrever mais tarde algo de concreto a este respeito, fruto de mais demoradas observações..."
    Pois sim, deduzo que esta obra é uma pincelada a traço grosso, e à flor da emoção, quando o autor visitou o lugar do Paul, S. Antão. Creio que cumpriria a promessa "mais tarde", “com algo de concreto”, quando escreveu o romance "Chuva Braba". Mas aqui já não inebriado pelo som cristalino das águas cantantes das ribeiras, mas tolhido pelo drama da seca que levou o camponês Mané Quim a enfrentar o dilema de ou aceitar o convite do padrinho e emigrar para a Amazónia, onde a água corre em abundância, ou ficar na companhia da velha mãe a tentar colher o sustento na lavra ressequida e sem vida.
    Restará então perguntar o que mais terá pela vida fora prevalecido no imaginário literário de Manuel Lopes: o encanto ilusório de alguns trechos da paisagem cabo-verdiana ou a realidade intratável da terra agreste e sedenta. Creio que ninguém tem dúvida acerca disso.




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