quinta-feira, 28 de setembro de 2023
[7524] Afinal, Anildo estava em Lisboa...
A história é curta, mas curiosa, por mostrar um desencontro. Pedro Paulo Ângelo, filatelista macaense, enviou uma carta para S. Vicente, dirigida ao Sr. Anildo Gama Cohen (ver AQUI, a sua biografia). Não sabemos a que se referia a missiva, mas é quase garantido que Anildo Cohen seria filatelista e que se trataria de algum negócio de selos. Na parte da frente, não é possível perceber as datas dos carimbos. No verso, há um de Lisboa (14.11.1938); a carta, vinda de Macau, segue depois para o Mindelo (25.11.1938); volta para Lisboa (6.1.1939); e finalmente regressa a Macau (11.11.1939). Um ano inteiro esteve a missiva a passear, nunca chegando ao destinatário, embora tenha passado por Lisboa, onde ele afinal se encontrava,
segunda-feira, 25 de setembro de 2023
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
terça-feira, 19 de setembro de 2023
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
[7518] Três poemas de Carlota de Barros, um deles recentíssimo
SILÊNCIO!
PESSOA QUER DORMIR
Encontrei na página de um
Livro de poesias de Pessoa
A folha cor de vinho de recortes finíssimos
Que caíra a meus pés submissa e linda
Naquela tarde feliz de Outono
Doce folha que de novo me revelaste
O poema de Pessoa que me
Entrara na alma tão subtilmente!
[...]
“Cessa o teu canto!
Cessa, que enquanto
O ouvi ouvia
Uma outra voz
Como que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós”
[...]
Que canto seria este, Pessoa
Melodia que não havia
E se a lembras te faz chorar?
Essa voz, Pessoa
Encantamento
Silêncio que há a seguir
Ao canto
Alheio a ti
E a quem canta?
Ah o encantamento
Do canto que vem
A seguir a outro canto
Quem o cantou?
Quem te fez ouvir
Para além
Do que é o sentido
Que uma voz tem?
Vozes com sentidos opostos!
Ah! Minha folha cor de vinho
Talvez essa voz te tenha seguido
Até o Livro de Poesias
Nesta terra por onde
A alma de Pessoa divaga
Sem saberes que o fazias
Será que também provocaste em mim
Esse encantamento do canto
Que vem a seguir a outro?
Estou a ouvir esse canto
Para além do sentido
Que a voz tem!
Mas quem a teria cantado?
Quem teria provocado em Pessoa
Esse encantamento
Que a mim também encanta?
Porém Pessoa queria
O silêncio para dormir
E eu desejo tanto o silêncio
Para descansar!
Cessa teu canto!
Cessa!
Vem minha folha
Marca este poema de Pessoa
Que hoje reencontrei!
Um dia quero ouvir de novo
Esse canto que vem a seguir
A outro canto e encanta
Agora, Silêncio!
Pessoa quer dormir
E eu desejo tanto descansar ...
Carlota de Barros
Lisboa, 8 de Julho de 2022
UM VOO AO BELO
Continuo a pensar
que a rosa mais bela
com paisagem ao fundo
merece um poema
mas quem o escreverá?
Lancei a ideia.
A paisagem ao fundo
muda diariamente
hoje fascinou-me
a inquietude da natureza
Que visão tão bela
me deu hoje a beber!
Tanta beleza para apagar
os horrores da guerra
que diariamente nos entram
pela casa dentro!
Posso repetir que foi um voo ao belo.
Contemplo das grandes janelas da sala
nuvens negras coração de fogo anéis dourados
variando em segundos
como se sentisse o coração agitado do sol
pulsando afogueado antes de se despedir
Fevereiro chegando ardentemente ao fim
coroas de fogo anéis de chumbo
crescem a meus olhos deslumbrados
a liberdade das árvores saboreando eroticamente
os últimos raios de sol
o silêncio a música o fervor
que vou bebendo até à última gota
A Casa Cor-de-Rosa terna no seu mistério
rodeada de fogo cinza e beijos de mel e de azul
adormecerá no silêncio dos campos verdes
e do silenciar dos pássaros abrigados nas árvores
da escuridão e do frio da noite de Fevereiro prestes a cair
A Casa Cor-de-Rosa onde outrora o fogo vivo
aqueceu as paredes cobertas de artísticos painéis
e que ainda resiste solitária e bela convidando
à opulência à alegria ao calor ao esplendor de outros tempos
o sol despedindo-se meiga e nostalgicamente
dos meus olhos e do meu coração
magoado com as saudades
da nossa grande casa rodeada
de ternura de meus pais e meus sete irmãos
a emoção o amor a cumplicidade o calor
que durará no meu ser enquanto eu viver ....
Que voo ao belo Deus me ofereceu hoje!
Devo-Lhe eterna gratidão ...
Carlota de Barros
Lisboa, 24 de Fevereiro, de 2023
HOJE O MEU DESEJO
Escuto a longínqua
voz da infância chamar-me
e entro de novo
no quarto da poesia
Desejo a luz pura da infância
o canto das tardes transparentes
o esplendor do mar
barcos cais velas
murmúrio de búzios
Desejo o brilho das coisas
que via na minha infância
o brilho das maçãs e dos abacates
das flores e dos pinheiros
e também dos peixes azuis na lagoa
Desejo sentir aquela luz levíssima
sobre os meus ombros erguidos
música alegria súbita
uma alegria vinda não sei de onde
a alma leve e limpa
os lábios beijos em flor
Desejo acordar e levantar-me ligeira
alegremente de cabeça erguida
meu riso a brilhar sorrisos
anunciando um novo dia
lírios a abrirem-se para a vida
alegremente como eu
Hoje o meu desejo
Amanhece
reconheço o rumor da aurora
nos meus versos murmúrio de orvalho
música delírio madrugada
o canto da infância pueril doçura
Hoje o meu desejo...
Carlota de Barros
Lisboa, 16 de Setembro, 2023