|
(clique na imagem) |
Comemoram-se este ano os 50 anos do cais acostável do Porto Grande de S. Vicente. Data bonita e de facto assinalável, dado o significado daquele F virado ao contrário fronteiro ao Monte Cara…
Palmilhei-o vezes sem fim, de dia e à noite (a pé ou no velho Ford Anglia de família), só por mero prazer de pisar o seu solo de betão e apanhar a brisa marinha no rosto ou devido à chegada ou partida de palhabotes, paquetes e barcos de guerra. Ali entrei no navio-escola “Sagres”, em passagens pelo porto, no contratorpedeiro “Lima”, nos navios hidrográficos “Almeida Carvalho” e “Pedro Nunes”, que no local se quedavam (o último menos, que a Guiné era dele mais frequente poiso), e em quase todos os navios de cabotagem a que o meu pai ia, por dever de serviço. Para além de muitos navios-patrulha (melhor dizendo, Lanchas de Fiscalização Grandes) e lanchas de desembarque que do Continente iam para a guerra na Guiné e no Porto Grande faziam escala: "Argos", "Cassiopeia", "Centauro", "Dragão", "Escorpião", "Hidra", "Lira", "Orion", "Pégaso", "Sagitário", "Alfange", "Cimitarra", "Aríete" e "Montante", todos observei à chegada às águas de Cabo Verde. E ali vi, por alturas de 1963, o gigantesco “Mauretania” (perto do seu abate, em 1965), de tal modo grande que teve de atracar do lado de fora do cais acostável, virado para o Djéu dos Passo (ilhéu dos Pássaros). Não esquecendo os japoneses Maru, da pesca do atum com aqueles homens pequeninos e silenciosos, calçados com botas de borracha ou chinelos de sola de pau forrados a palha… e o “Manuel Alfredo” e o “Alfredo da Silva”, da Sociedade Geral, ambos de também saudosa memória e muitos outros…
E ali pesquei (pouco, que nunca tive grande habilidade para tal), corri, saltei por cima de sacos de pozolana vindos de Santo Antão e roubei bananas de cachos destinados à Europa. Sempre com o meu cão e amigos do peito, como o Alexandre Bintim ou o Pikau. Grandes e inesquecíveis tempos, portanto.
Uma figura que não posso deixar de evocar e que teve importância crucial na feitura deste cais e na do do Porto Novo foi o encarregado senhor José Maria Marques (já falecido), nosso amigo para sempre, bem como a esposa D. Noémia e os dois filhos, o José Carlos (meu colega de escola no Lombo e no Liceu Gil Eanes) e o João, de quem ainda sou amigo e que visito e me visitam. Moravam numa ruazinha perpendicular à actual Rua Franz Fanon, segunda a contar da Rua Machado (hoje Av. Baltasar Lopes da Silva). Funcionário estimado e altamente responsável da Empresa Construções Técnicas (já desmantelada, que tinha sede na Av. 24 de Julho, Lisboa), dele há muito suor, preocupações e empenho naquela obra que honra o Mindelo e dele faz hoje parte integrante.
|
Esq. p/ Dt.ª - José Maria e Noémia Marques e meus pais, Maria Teresa e Narciso. Em baixo, junto a uma bóia/pneu, eu (o mais alto)e o João Marques - 1.11.1963, praia da Baía das Gatas (clique na imagem) |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Troquei em tempos recentes correspondência com o administrador do Porto Grande, Jorge Pimenta Maurício de quem agora sou amigo e que me fez o favor de me enviar o logótipo destes 50 anos que durante 2011 se comemoram. Como ele me disse, «o dia do aniversário comemorou-se apenas internamente e com todos os trabalhadores» havendo no entanto «um programa que envolve várias actividades culturais, desportivas, etc.»
|
Postal ilustrado da segunda metade dos anos 60 do século XX - O barco branco é o "Alfredo da Silva". O 4.º a contar da parte inferior da imagem é o rebocador "Damão" (clique na imagem) |
Ao povo da minha ilha de S. Vicente, aos milhares de marinheiros que àquele cais atracaram e atracam e ao Jorge Maurício envio um abraço fraterno e os desejos de que aquela importantíssima infra-estrutura portuária continue a servir o desenvolvimento do Porto Grande e de Cabo Verde.
Finalmente, aqui ficam para memória duas notícias do extinto “Diário Popular”.
13.JUNHO.1960
Pág. 5 – [notícia na página “Ultramar”] CABO VERDE. CAIS ACOSTÁVEL NA ILHA DE S. VICENTE – Praia, Junho (do nosso correspondente) – Com intensa e profunda alegria se noticia que os barcos patrulhas da marinha de guerra portuguesa “Madeira” e “Santiago”, sob o comando do capitão-tenente António Benard Costa Pereira, acostaram ao cais em construção na ilha de S. Vicente, estabelecendo ligação com a terra.
9.JULHO.1961
Pág. 5 – CABO VERDE. INAUGURARAM-SE FESTIVAMENTE AS OBRAS ACOSTÁVEIS DO PORTO DE S. VICENTE – São Vicente de Cabo Verde (do nosso correspondente) – Esta cidade viveu jubilosamente o dia da inauguração das obras acostáveis do seu Porto Grande que constituíam um velho anseio, hoje consumado numa realidade palpável sob a direcção de engenheiros portugueses.
O acto inaugural revestiu-se de singular elevação, com a presença do governador, tenente-coronel Silvino Silvério Marques, que presidiu, ladeado na tribuna, pelo bispo da diocese, que lançou a bênção ao cais, comandante militar e juiz da comarca.
O funcionalismo e a população acorreram ao acto, ovacionando o eloquente discurso do governador e dos oradores que o antecederam.
Ergueram-se vivas ao Presidente do Conselho e ao antigo ministro Sarmento Rodrigues, que mandou firmar o contrato para a execução da grandiosa obra.
O navio de guerra “Lima”, festivamente embandeirado em arco, acostou ao cais número quatro, e o navio-motor da Sociedade Geral, “Manuel Alfredo”, ao cais número oito, realizando-se a bordo deste último um lauto banquete em que participaram numerosos convidados.