Valdemar Pereira |
Porto Grande, a bela concha orlada pelo anfiteatro da cidade do Mindelo e montanhas circundantes em que avulta o Monte Cara, sempre foi motivo de inspiração de poetas e músicos da nossa cidade. Lá longe, na diáspora, em terras gaulesas, o nosso colaborador Valdemar Pereira não foge a essa sina (nem quer fugir), talvez com uma garrafa de Bordeaux por perto, comedidamente bebida (como sabe melhor)... à falta de um grogue di terra mais animador em momentos de escrita.
Praia de Bote agradece ao autor e amigo e oferece o petisco aos seus banhistas, em mais um tempo de sodade de nôs Mindelo e de nôs Porto Grande.
Mindelo e Porto Grande
O mar do Porto é belo com seu reflexo azul
sobre a água o fulgor de uma incrível cor anil
onde o ilhéu dos Pássaros, rochedo cinzento,
salta misteriosamente ampliando o momento
onde as almas, sem palavras, com harmonia
se encontram para um deleite dessa sinfonia
do Mar Eterno sem fundo sem fim d'Eugénio
ilustre e perene, já que foi egrégio e génio.
Infinitamente presente, a ventania lancinante
conta os estrofes duma Morna emocionante
com suas palavras de alegria ou melancolia
ou mesmo qualquer outra singular melodia
enquanto apreciamos o divino Monte Cara
e Porto Grande, que já não é o de outrora
com paquetes, veleiros e barcos de carga
onde havia azáfama dia e noite até aurora.
Enquanto seus poetas escreviam os versos
e os pintores criavam painéis mais diversos
o povo tinha seus sucessos e seus reversos
momentos de algum júbilo e muita tristeza.
Havia certamente uma escondida pobreza
mas, no fundo, dissecado, digo de certeza,
embora as alturas de fome e de gravidade
que houve no Mindelo e no Porto Grande
tivemos gente de coragem e de dignidade.
Boa tarde a todos!
ResponderEliminarO que tem nas veias e neurônios dos caboverdianos a não ser Amor por seu lugar? Tenho lido poemas, letra de canções, crônicas e depoimentos de pessoas da terra do Mar Azulão que me cativam e fico pensando ... será que um brasileiro fala de seu país com tanto carinho e sodade? é tão contagioso, que mexe com a adrenalina e outros hormônios e nos remete sem que percebamos, àquele lugar por onde a Cesária andou e cantou. E, de repente, estamos lá sentados em um desses barcos enquanto o Astro Rei se despede. Valdemar Pereira é um desses que veste a camisa da Ilha de Socente, passadinha a ferro e perfumada. E depois de trajar-se a rigor começa a derramar no papel a seiva do seu amor.
Parabéns ao povo da Praia do Bote, ao Sr. Joaquim Saial e ao "gentleman" Valdemar. Seu poema é uma fiel fotografia de sentimentos e emoçoes.
Braça pa tude monde.
do Brasil, da Bahia, de Feira de Santana a poeta iniciante, Yara
Obrigado à Yara pela participação e sobretudo pela simpatia demonstrada.
ResponderEliminarO que a Yara talvez não saiba é que eu nem sequer sou cabo-verdiano de nascimento (português, vivi três anos ali, entre os meus 9 e os meus 12, na época colonial). Mas quem passa mais que um mês naquele território, sobretudo na ilha de São Vicente, fica apanhado para o resto da vida. É um vírus que contamina e que em vez de destruir constrói na vítima uma nova (e muito boa) identidade. Nada a fazer, Cabo Verde é assim...
Um abraço e apareça sempre.
Joaquim Saial
Valdemar, amigo, você saiu melhor do que a encomenda...Não estranho que seja poeta - não conheço nenhum cabo-verdiano que o não seja - apenas registo que, mesmo longe, você continua lá, na baía do Porto Grande, no Monte Cara, no Ilheu...É bem certo que quem parte não vai só, leva nas memórias e na pele o afago da terra-mãe, das suas cores, dos seus aromas, da sua morabeza...Bonito!
ResponderEliminarBoa, Val. As palavras nunca se esgotam quando se trata de cantar o nosso Mindelo e o seu Porto Grande. E elas se bordam com os tons mais sublimes da saudade e da exaltação da sua memória antiga quando saem da pena ou da boca de um filho amantíssimo. Como tu és, Val.
ResponderEliminarO Monte Cara é como uma divindade que do alto do seu trono assiste condoído à odisseia dos seus filhos que saem para a terralonge em busca de um futuro melhor. Presente na "hora di bai", é como metade que fica do coração que parte. Por isso é que devem ser poucos os mindelenses que se ausentem e não sintam a alma repartida por léguas de distância, ansiando como ninguém pela hora do regresso.
É com satisfação que saúdo o desembarque da Yara Lima Oliveira nesta "Praia", e se outras razões não houvesse para o registar efusivamente, sublinhe-se que se trata de uma poetisa e de alguém que, não sendo natural de Cabo Verde, tem certamente o seu coração ancorado em todos os lugares onde o homem se faz centro do mundo e a razão do mundo.
Os meus cumprimentos e felicitações ao Joaquim, ao Valdemar e à Yara, com renovados desejos de um Bom Ano. E extensivos também a todos os frequentadores deste blogue, ansiando que apareçam aqui para falarmos das saudades comuns.
Inseri o meu comentário a respeito deste post quando o Zito Azevedo ainda não tinha aparecido. É a razão por que não o cumprimentei e felicitei também, conforme fiz para os que já se tinham manifestado, e como ele bem merece. "Marinheiro" assíduo nesta "Praia", o Zito é, pois, credor do nosso maior apreço pela sua boa companhia e pela valiosa colaboração que vem dispensando ao "patrão" Djack.
ResponderEliminarAos que aqui vieram - sem distinção do lugar onde nasceram - que têm Cabo Verde, Soncente e Praia de Bote no coração.
ResponderEliminarMNIS !!
Sinto-me confuso, bazofiaria à parte, pelos vossos comentários por coisa que se encontrava na gaveta(*) e que agora saiu aqui porque é assunto de Praia de Bote.
O meu Muito Obrigado - de todo o coração - mas gostaria de ver a "carinha estanhada" de alguém que nunca pensou que uma coisa dessa saísse.
O Zito falou de Monte Sossego. Talvez tenha de falar de novo desse lugar que era de terra vermelha mas que passou a ser bairro do Mindelo.
Até breve, se o Comandante Djack, da sua Capitania, assim permitir.
Jà agora, as minhas desculpas. - Na ùltima linha deve-se ler "tivemos gente de coragem e dignidade"
Um braça rije e coraja pa 2012.
Valdemar
(*) Meu pensamento vai ao Sr. Sérgio Frusoni que um dia me deu algo que se encontrava na gaveta ("Tempe de caniquinha") e que um dia chamei de Hino do Porto Grande
Emenda feita, caro Valdas!!!
ResponderEliminarE no Monte Sossego tenho grandes amigos: Nha Bia de Grigório (este, antigo funcionário da Shell), numa das mais antigas casas da zona e Virgílio Pina, antigo marinheiro e depois polícia marítimo da Capitania e grande praticante de golfe.
Contou-me nha Bia que quando o pessoal do Monte vinha para a morada trazia sempre consigo um paninho ou um bocado de papel higiénico para limpar o calçado do pó do Monte e entrar na morada a brilhar.
Braça,
Djack
Amigo Djack,
ResponderEliminarSendo menino de Chã do Cemitério, quase da época da foto de hoje (onde se vê a minha casa), confirmo o que lhe disse Nha Bia. As pessoas aproveitavam de um monte de pedras (para contrução) em frente à nossa casa, para limpar os pés ou os sapatos pretos que ficavam acastanhados.
Mas o pior, meu amigo, era naqueles dias de vento. Imagine !!!
Amigo Val
ResponderEliminarSo hoje entrei no Praia de Bote.Como sempre gostei muito do teu poema. Obrigado por me teres levado a viajar mais uma vez pelo Porto Grande fazendo-me lembrar o velho cais onde ia muitas vezes, especialmnente, no fim do ano com toda a familia à meia-noite ouvir os apitos dos barcos. Todo o MIndelo esta dentro do meu coraçao. Nao ha duvida que Soncente é sabe na d'vera. Fernando
Além de homem de teatro, sempre foste poeta e, para um poeta, nada melhor que cantar a sua Terra, e, felizmente que o fazes com mestria.
ResponderEliminarÉ bom recordar a nossa Ilha nos teus versos...
Obrigada.
Milena Ribeiro pinto e Neto
Mais uma ilustre cabo-verdiana chega à PRAIA DE BOTE, na carrinha do Blá. Muito bem-vinda, Maria Helena. Apareça sempre.
ResponderEliminarBraça,
Djack
Poderá dizer-me quem sao os detentores dos direitos de Autor de "Flor Formosa" de Djack do Carmo?
ResponderEliminarCaro anónimo, agradecemos a sua vinda até nós mas pedimos-lhe que se identifique e que nos envie o seu endereço electrónico para o podermos contactar.
EliminarBraça,
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