ADENDA: Horas após a inserção deste post, vários amigos (sobretudo portugueses) nos perguntaram o que é isso de "guarda-cabeça". Trata-se de uma tradição cabo-verdiana que consta de uma cerimónia contra o mau-olhado e tem lugar na noite que vai do sexto para o sétimo dia, após uma criança ter nascido. Quel cosa d'spantá bruxa... Esta tradição tem equivalentes, com múltiplas variantes, em outros locais em todo o mundo. Em Portugal, por exemplo, ainda há quem ofereça um filho pequeno à Lua, para evitar problemas futuros, sobretudo de saúde.
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«O sketch baseava-se num ritual de guarda cabeça, a decorrer num lugar imaginário, algures em Monte Sossego. A intenção era fazer do Bana uma das figuras centrais para em dado momento final dar-lhe asa para soltar a sua portentosa voz. Mas tudo começa com a concepção de um entretenimento em qua as pessoas e as peças materiais do ritual estão a postos. Mas aconteceu que houve falta de presença do Bana. No que tocava ao rapaz, solicitado por causa da sua arte, era por vezes difícil acertar-lhe com o paradeiro. Assim, as rezas, as ladainhas, as vigílias, enfim tudo o que fazia parte da praxe do guarda cabeça funcionou e aprontou em devida altura, mas... faltava chegar o homem que ia animar a festa antes do cuscuz a que todos tinham direito.
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Cena do sketch "guarda cabeça", escrito por Valdemar Pereira, com Grigol, Bitim, Octávio, Fefa, Alice, Valdemar (em pé), Bia Gata (deitada) e Bana a interpretar o seu próprio papel |
(...) Até que finalmente o nosso homem apareceu, sorridente, mas incapaz de reagir às minhas brincalhonas intervenções, o que é compreensível dado que não tinha então qualquer traquejo para o improviso. Então eu provoquei-o, insinuando que ele estava com vergonha de falar por ter sido apanhado a jogar batota no sótão do Derby, ao que a plateia ripostou no mesmo tom de boa disposição, dizendo que não senhor, ele não jogava, não bebia, havia sim muitas "pequenas", isso sim senhor, que andavam atrás dele e não lhe davam tempo para nada, etc.»
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Cena com Valdemar Pereira (à esquerda), Bana e Fefa Matos no Théâtre du Palais, Dacar, 8.10.1962 |
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