O saboroso livro de Eugénio Tavares (Brava, 5.11.1867-1.6.1930) é de Fevereiro de 1932 (20 exemplares apenas, editado postumamente por J. Rodrigues & Ca., Lisboa, por iniciativa do seu amigo Osório de Oliveira) e foi reeditado pela Liga de Amigos de Cabo Verde, em Luanda, em Novembro de 1969. Não vamos perder mais tempo com o historial da obra ou do bardo bravense que está contado com bastante detalhe em http://www.eugeniotavares.org/index.html. Lembramos apenas que a mesma é dedicada "Ao altíssimo espírito de João de Deus", poeta que Tavares venerava - abrindo o livro com uma versão crioula de "Enjeitadinha", desse popular autor português do século XIX.
Eugénio Tavares |
Portanto, aqui vai...
A Enjeitadinha (de João de Deus)
- De que choras tu, anjinho?
"Tenho fome e tenho frio!"
- E só por este caminho
Como a ave que caiu
Ainda implume do ninho!...
A tua mãe já não vive?
Nunca a vi em minha vida
Andei sempre assim perdida,
E mãe por certo não tive!"
- És mais feliz do que eu,
Que tive mãe e... morreu!
Engetadinha (de Eugénio Tavares - copiado sic)
- Cusa é bo tem, nha figinho?
- 'N tem fome, a má'n tem friu.
- Ma bô sô na es caminho,
Que jâ escapâ de sê ninho!...
Nha fijo, bô ca tem Mai?
- Na nha bida'n ca conchel...
Desde que'n necê'n perdel...
Parcê'n ma'n ca tema Mai...
- Bô é mas feliz que mi,
Que temba de meu, e el morré...
Impiedosamente os anos vão passando
mas nós relembramos o que foi ficando;
os que foram nossos mestres valentes,
colegas, amigos, parentes e aderentes.
Esquecemos esses textos menos usados
mas ficam todos os factos mais badalados.
Vale sempre a pena fazer a escapadinha
como esta leitura do poema "Engetadinha".
O nosso colaborador Valdemar Pereira comentou o presente post com duas quadras alusivas. Para que elas tenham maior visibilidade, puxámo-las aqui para cima, devidamente enquadradas pela "carinha" (manera d'dzê foto diazá) do mais cabo-verdiano dos habitantes de Tours, ele próprio uma "torre" de sabedoria e de memórias.
Impiedosamente os anos vão passando
mas nós relembramos o que foi ficando;
os que foram nossos mestres valentes,
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Vale sempre a pena fazer a escapadinha
como esta leitura do poema "Engetadinha".
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Impiedosamente os anos vão passando
ResponderEliminarmas nós relembramos o que foi ficando;
os que foram nossos valentes mestres
colegas, amigos, parentes e aderentes.
Esquecemos esses textos menos usados
mas ficam todos os factos mais badalados.
Vale sempre a pena fazer a escapadinha
como esta leitura do poema Engeitadinha
Eugénio Tavares, Tatai como carinhosamente lhe chamam os seus conterrâneos é uma personalidade da História de Cabo Verde que consegue escapar incólume a todos os julgamentos, todas as opiniões, todas as críticas, todos os estudos, venham de onde vierem, incidam sobre o que quer que seja da vida prenhe de emoções de um homem que existiu fora do seu tempo e, sobretudo, escreveu versos de uma beleza quase celestial e construiu as mais melódicas mornas de todos os tempos...Que canto e me encantam, me emocionam, me fazem penetrar num mundo edilico, encantado mas smpre humano, vivido, sonhado de olhos bem abertos sobre o mundo e sobre as emoções...Eugénio, um génio!
ResponderEliminarAqui aparecerá ele agora, de vez em quando, sempre em crioulo, nossa língua querida, seja ela primeira, segunda ou terceira, nunca com K e alupequismos desnaturados.
ResponderEliminarGrandes poesias, de um homem que sofreu injustiças em vida mas morreu em glória.
Braça eugénica,
Djack
Será que me podem indicar alguma publicação literária com a obra de Eugénio Tavares, sobretudo as mornas? Tenho procurado mas sem sucesso.
ResponderEliminarCaro Henrique,
EliminarSó conheço este livro que aqui divulguei.
Braça,
Djack