As relações Cabo Verde-Portugal e vice-versa continuam a dar bons frutos. Sendo a Universidade do Minho uma das mais prestigiadas de Portugal (e aqui o administrador do Pd'B sabe-o bem por já ter tido uma ligação de cerca de quatro anos com a mesma, por motivos de investigação e palestras), é com prazer que se regista o excelente trabalho desta investigadora das ilhas e o seu reconhecimento.
in Correio do Minho
A investigadora Irene Santos Cruz, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, venceu o Prémio Nacional de Direitos Humanos em Cabo Verde. A autora foi laureada na categoria Estudo Científico, pelo trabalho 'Filosofias da Imigração - cosmopolitismo versus comunitarismo', baseado na tese de mestrado realizada na UMinho.
A Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania de Cabo Verde considerou o trabalho “uma valiosa contribuição para a elaboração de políticas públicas de imigração” naquele país. “É uma honra receber este prémio”, reagiu Irene Cruz, salientando que “significa uma grande responsabilidade, mas também um incentivo para fazer mais e melhor”. A investigadora sustenta que os direitos humanos devem ser a base das políticas migratórias dos Estados, protegendo as pessoas independentemente da sua nação, origem ou condição migratória. Irene Santos questiona a “legitimidade moral” dos critérios usados pelos Estados na seleção dos poucos imigrantes que admitem.
“As instituições e países que habitualmente defendem e praticam o uso da força contra a entrada de estrangeiros justificam as suas atitudes como necessidade de proteger as instituições e culturas igualitárias liberais existentes e, por outro lado, como forma de manter afastados os criminosos e invasores. Mas muitos dos que tentam entrar são pessoas pacíficas, pobres e desesperadas,
procurando uma oportunidade para construir uma vida decente e segura. Daí ser pertinente questionar: em que base moral é fundamentada a expulsão destes imigrantes e o que dá a qualquer um o direito de lhes apontar armas?”, frisa Irene Cruz. A investigadora nota, em simultâneo, que o tráfico ilegal de pessoas é cada vez mais comum e que há Estados a admitirem imigrantes para libertar os seus cidadãos de trabalhos pesados e desagradáveis, impedindo também esses estrangeiros de serem sujeitos activos de direitos.
Irene Santos Cruz está a desenvolver o doutoramento em Filosofia Social e Política na UMinho, com o tema 'Justiça global e direitos humanos'. É bolseira da Fundação Gulbenkian e, desde 2001, docente na Universidade de Cabo Verde, onde já presidiu o Departamento de Ciências Sociais e Humanas. A autora considera que a fundamentação teórica das migrações em termos filosóficos é ainda pouco abordada no mundo e que os debates actuais sobre direitos humanos mantém em conflito as respectivas práticas e valores, por isso “é preciso mais investigação na área”.
O Prémio Nacional de Direitos Humanos, instituído em 2007, consiste na atribuição de 250 mil escudos cabo-verdianos, um diploma e a escultura 'Pomba crioula'. Pretende distinguir instituições e personalidades que, pelas suas acções, conduta ou actividade contribuem para promover os direitos humanos e a cidadania em Cabo Verde.
Tiro o meu chapéu a esta conterrânea, cuja inteligência, argúcia e capacidade académica são uma grande mais valia para o seu país. O tema central da sua tese prende-se com a desumanização que surpreendentemente parece ganhar espaço no planeta, sem que o crescente progresso tecnológico e material correspondam a uma evolução da mente e do espírito do homem. Pelo contrário, tudo indica que o homo sapiens pouco ou nada evolui ao longo de séculos, para não dizer milénios. É incrível que no século XXI se assista a formas de barbárie similares às de épocas remotas. Uma reportagem que eu vi sobre o que se está a passar na Síria deixou-me tão incomodado que levei horas a adormecer nessa noite. Muitas evidências vamos tendo de que a génese do cérebro reptiliano do ser humano permanece intacta. Apenas vai mudando o verniz exterior, o resto permanece quase inalterável. Os conhecimentos na área da filosofia e das ciências humanas parecem constituir apenas um exercício da mente, sem reais consequências na existência humana. Não são nada promissores os sinais que vamos colhendo na actualidade.
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