Ocorrência 6 - O afundamento do Harmodius
(ver cinco anteriores ocorrências, em posts já lançados do Praia de Bote; clique na etiqueta Ocorrência, mesmo no final deste post)
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Luís Filipe Morazzo |
A minha investigação continua na esteira do comboio naval SL-67, um dos 28 156 comboios organizados durante o decurso da segunda guerra mundial. Este sistema de organizar a navegação dos navios mercantes agrupados em comboios foi experimentado pela primeira vez no decurso da primeira guerra mundial, com resultados extremamente positivos. Ficou provado no decurso das duas guerras, que as perdas em navios mercantes a navegar isoladamente, foram em média, três a quatro vezes superiores, aquelas registadas no sistema de comboios.
Este esquema de navegação organizada em comboio permitia que um grande número de navios mercantes pudesse usufruir da mesma cortina de defesa, providenciada por um grupo de navios de escolta, relativamente reduzido, mas que podia ser reforçada consoante a importância do número e do tipo da carga dos navios mercantes. Desta forma não só se otimizava os meios de defesa, que não abundavam, como se aumentava substancialmente as possibilidades de defesa, a um grande numero de navios mercantes em simultâneo.
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O Harmodius |
Os comboios navais eram todos referenciados por um código inicial, como exemplo, temos o nosso já conhecido, SL-67, onde na sigla SL o (S) dizia respeito à origem, Atlântico Sul (Freetown) e o (L), destino do comboio (Liverpool, Londres). Quanto ao número 67, era o resultado da ordem cronológica
Por sua vez todos os navios a navegar dentro de um comboio, eram identificados com um número, como exemplo, (112), em que o 11 dizia respeito ao número da coluna (sentido esquerda – direita) e o 2 ao número da linha onde o navio se encontrava posicionado (sentido frente – retaguarda do comboio).
Regressando de novo ao comboio SL-67 vamos encontra-lo ainda a navegar algures a NNE das ilhas de Cabo Verde, embora já desfalcado de um dos seus membros, o cargueiro inglês Tielbank, vítima de um torpedo lançado pelo U-124, na madrugada do dia 8-3-41, como aliás vimos na crónica anterior.
Ainda não tinha passado uma hora após este primeiro ataque, já se ouvia uma nova explosão em pleno coração do comboio, desta vez tratava-se do Harmodius, cargueiro inglês de 5.229 toneladas brutas, construído em 1919, com um carregamento pleno de 4000 toneladas de carga geral e 2000 toneladas de ferro gusa, pertencia ao armador Houston Line Ltd.
Como foi mencionado na crónica anterior, este comboio foi vítima de um ataque combinado de vários submarinos, nomeadamente o U-105, o U-106 e o famoso U-124. Foi precisamente o U-105, que torpedeou o Harmodius, outro submarino da temível classe (IXB) comandado por um outro ás da Kriesgmarine, Georg Schewe, mais um herói alemão que sobreviveu à guerra com um curriculum invejável, condecorado com as cruzes de ferro de 1.ª e 2.ª classe, com 340 dias de navegação em 10 patrulhas, e com um score total de 16 navios inimigos destruídos assinalados no seu diário de bordo.
Infelizmente, o torpedeamento do Harmodius custou a vida a 14 membros da sua tripulação, tendo os restantes 61 tripulantes, entre os quais se encontrava o seu capitão Robert James Parry, sido salvos pelos contratorpedeiros Faulknor e Forrester que os transportaram de seguida até Gibraltar, onde chegaram a 16 de Março.