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Adriano Miranda Lima |
O PRAIA DE BOTE que, como se sabe é um espaço cabo-verdiano assumido e reivindicativamente marítimo, fica mais que contente quando lhe oferecem petiscos como este que AML lhe enviou para publicação. O sentimento que fez com que o coronel-escritor-poeta tenha tido vontade de escrever o presente poema, teve-a o administrador do blogue quando viu o "Carvalho" jazer no cais acostável em 1999, como cão lazarento votado ao abandono. Será uma história, com contornos políticos nebulosos (ainda por cima britânicos), para contar noutra altura. Limitemo-nos, por enquanto, a ilustrar o "falucho" de Adriano Miranda Lima com a dramática foto de há 12 anos do palhabote que tantas vezes cruzou o Mar d'Canal.
Meu Falucho
Cavername é o que resta de ti, no rochedo a apodrecer,
Navio de outra era, nostálgico veleiro.
Há quanto tempo já as ondas te não embalam inteiro?
Em sonhos ainda te vejo a todo o pano, ao entardecer...
Mas tu também sonhas às vezes, eu sei...
Se o vento sopra de feição, não resistes ao incitamento
Das ondas, das toninhas e das estrelas do firmamento,
E retomas as rotas centenárias do mar da velha grei.
Ainda vives imanente nas pupilas dos meninos da beira-mar,
Herdeiros da genética memória das lides marinheiras,
Agora teus tripulantes no cavername das suas brincadeiras.
E continuas vivo nas histórias do povo insular,
Meu falucho, modesto barquinho de carga e passageiro.
Só eu sei quanto desejas voltar a um estaleiro.
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Foto Joaquim Saial - "Carvalho", palhabote do armador Henrique Ferro (clique para ampliar) |