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terça-feira, 14 de agosto de 2012

[0236] POST ALUSIVO AO COMENTÁRIO DE ADRIANO MIRANDA LIMA NO POST ANTERIOR

De facto, não só o médico-escritor Henrique Teixeira de Sousa nutriu um grande gosto por escrever no "Terra Nova" (colaborou nele por dez anos consecutivos) como o jornal retribuiu esse interesse, dedicando-lhe no seu número 349 de Março de 2006 (à época do seu trágico desaparecimento) uma sentida homenagem de que aqui vemos parte, em exemplar fotocopiado oferecido na altura pelo AML que conservamos com muito gosto.

Para além de um longo editorial de Frei António Fidalgo de Barros, pode ler-se o último texto de Teixeira de Sousa para o jornal "Latim, língua morta?" (talvez o derradeiro da sua vida) e textos de Gilda Barbosa ("O meu primeiro andar") e Ondina Ferreira ("Lembrando o Dr. Henrique Teixeira de Sousa no "Terra Nova"). O texto "Selô, Selô, senhor Dr. Teixeira de Sousa", anunciado na p. 1, não surge nas fotocópias, o que é esquisito, porque pensamos que será de AML. Grande mistério que só o nosso amigo poderá resolver...


domingo, 6 de novembro de 2011

[0146] Henrique Teixeira de Sousa, quase seis anos... (ver três posts anteriores)

Foto Joaquim Saial. Os meus livros de Henrique Teixeira de Sousa, alguns autografados (clique na imagem)

Conheci Henrique Teixeira de Sousa como presidente da Câmara Municipal de S. Vicente de Cabo Verde e como pai do meu amigo e condiscípulo do Liceu Gil Eanes Aníbal Orlando "Landim" Teixeira de Sousa, nos idos de meados de 60 do século passado. Nunca soube na altura (eu era um simples miúdo de onze ou doze anos, preocupado com outras coisas) da sua importância como médico, homem de letras ou até que era filho de um capitão John da longa carreira à vela entre os Estados Unidos da América e Cabo Verde.

Um dia, súbita e precocemente, a esposa faleceu. Nao fui ao funeral mas estive no velório, realizado na sua casa quase fronteira ao liceu. Lá estava o Landim, a quem dei um abraço, naquele quartinho com beliches onde ele dormia com o irmão mais velho. Dia mais que triste, como não podia deixar de ser...

O tempo passou. A ligação perdeu-se por décadas. Mas foi reatada, algures nos anos 90, lá por 1998, mais ou menos. O Landim, agora médico em Portugal, esteve em minha casa a almoçar, com a esposa. Tarde inesquecível, de reavivar de memórias comuns, sempre com Cabo Verde como pano de fundo.

Em 12 de Novembro de 2005 (há seis anos quase certos), revi o Dr. Henrique Teixeira de Sousa, no Restaurante Caravela de Ouro, em Algés, onde a Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde (da qual sou sócio) lhe fez justa homenagem. 

Foto Joaquim Saial. Henrique Teixeira de Sousa, discursando na homenagem feita pela AAAESCV no restaurante Caravela de Ouro, Algés, em 12.Novembro.2005 (clique na imagem)

Em 14 de Dezembro do mesmo ano, reencontrei-o no lançamento do seu derradeiro livro, "Ó Mar de Túrbidas Vagas", na Casa da Morna, em Lisboa, e fiz aquelas que serão eventualmente as últimas 24 fotos da sua vida.

No dia 3 de Março de 2006, um estúpido acidente ceifou-lhe a vida. Faleceu nessa data, vitima de atropelamento, em Algés. Fui ao seu velório, como já fora ao da primeira esposa, décadas antes. A 9 de Março, foi cremado no cemitério dos Olivais, onde esteve presente um conjunto de cerca de uma centena de pessoas, familiares, amigos e admiradores que o quiseram acompanhar no último acto da sua passagem pela terra. Coube-me, a pedido da presidente da AAAESCV, Nominanda Fonseca, a oração fúnebre, singelas palavras que duraram três ou quatro minutos, antes de o seu corpo se transformar em cinza que agora repousa no Fogo natal.

NOTA: Ver também excelente texto de Adriano Miranda Lima no blogue "Na Esquina do Tempo".

Foto Joaquim Saial. Lançamento de "Ó Mar de Túrbidas Vagas", em 14.Dezembro.2005. Na mesa, Elsa Rodrigues, o editor da Plátano, Henrique Teixeira de Sousa e José Luís Hopffer Almada. Atrás, Tito Paris (clique na imagem)

domingo, 4 de setembro de 2011

[0105] Outro baile e jantarada, desta feita no Fogo (implicando Henrique Teixeira de Sousa, filho adoptivo de S. Vicente) - VER POST ANTERIOR

A notícia é de Junho.1949. O motivo base era a despedida do Dr. Mendes Belo, médico e delegado de saúde no Fogo que fora destacado para a capital do arquipélago. E de Timor, onde tivera colocação inicial, viera o filho da terra Henrique Teixeira de Sousa, para o substituir. Licenciara-se em Lisboa, quatro anos antes, e no Fogo iria criar o hospital e a maternidade. A sua vasta e meritória actividade não iria parar, dividindo-se com sucesso entre a medicina, a coisa pública (presidente da Câmara Municipal de S. Vicente) e a literatura. Exerceu a profissão e escreveu até ao fim da vida.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

[0102] Um texto de Adriano Miranda Lima sobre Henrique Teixeira de Sousa (antigo mas muito interessante)


A propósito da nota ontem inserida no PRAIA DE BOTE sobre o médico e escritor cabo-verdiano Henrique Teixeira de Sousa (com foto da casa onde viveu em S. Filipe, Fogo), o nosso colaborador Adriano Miranda Lima enviou-nos este texto escrito a 7 de Março de 2006, escassos quatro dias após a morte do médico e escritor de Ilhéu de Contenda.

Aqui oferecemos aos leitores do blogue a excelente prosa de AML, com a qualidade a que nos tem habituado. A foto, de nossa autoria, regista um momento do almoço promovido pela Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, no Restaurante Caravela, em Algés, Portugal, em 12 de Novembro de 2005. Está truncada, pois na original surge uma terceira pessoa muito nossa amiga. Mas é política do PB não colocar fotos de terceiros sem pedir autorização aos mesmos (excepto em casos de fotos com mais ou menos meio século). E para isso não houve tempo, dado que era imperioso colocar o texto de AML já, por questão de oportunidade. 

HENRIQUE TEIXEIRA DE SOUSA

Singelo testemunho de um amigo

Adriano Miranda Lima
No passado dia 3 deste mês, um brutal atropelamento ceifou a vida do médico e escritor cabo-verdiano Henrique Teixeira de Sousa, deixando o país em que nasceu mergulhado em profundo luto e na mais sentida consternação. Henrique Teixeira de Sousa era médico conceituado e um alto expoente das letras cabo-verdianas, de que era escritor dos mais produtivos. Especializado em nutricionismo, a ele se deve o principal contributo na elaboração de um estudo publicado sob o título “Plano de Abastecimento de Cabo Verde em Época de Seca”. Para além deste plano, outras mais intervenções e publicações pontificaram o seu empenho em servir Cabo Verde com o melhor do seu saber científico nesta vertente do conhecimento médico – o nutricionismo, particularmente útil numa terra marcada por séculos de dolorosas secas. Escritor influenciado pelo Movimento Claridoso e pelas correntes libertárias do homem, Teixeira de Sousa deixa-nos belos romances que retratam de forma sublime a realidade cabo-verdiana, com os seus costumes e as suas peculiaridades existenciais, com os seus sonhos e as suas angústias. 

Tinha 86 anos, idade em que o comum das pessoas se acolhe ao aconchego do lar a aguardar o fim da vida. Mas Teixeira de Sousa não era desses. Vendia saúde, graças à sua boa condição genética, e, homem de têmpera, continuava a viver intensamente, exercendo ainda clínica privada e intervindo activamente na literatura. Ainda no ano passado, publicou o seu último romance Oh Mar de Túrbidas Vagas e, segundo as suas palavras em entrevista publicada no suplemento “Kriolidadi” do jornal A Semana, tinha na forja uma obra de carácter histórico e um romance lírico. Intervinha ainda em colóquios, como aconteceu, em Lisboa, em fins do ano passado, sobre Miguel de Cervantes e a sua obra.

Durante o meu tempo de menino e moço em Cabo Verde não me aconteceu  qualquer contacto pessoal com o doutor Henrique Teixeira de Sousa, nem sequer por recurso aos seus serviços clínicos. Contudo, não ignorava a projecção social da sua carreira médica e a sua intervenção na literatura cabo-verdiana.

Mais tarde, em Portugal, o lançamento dos seus sucessivos romances viria a torná-lo alvo da minha especial atenção, leitor interessado que sou de temáticas sobre a realidade cabo-verdiana. À minha curiosidade como leitor começou a juntar-se uma grande simpatia por alguém a quem a distância não parecia arrefecer o amor acrisolado à terra onde nasceu, nem desarmar a busca incessante de temas originais para as suas criações literárias. O conteúdo das suas obras denotava um louvável esforço para manter vivo e estuante o filão da literatura genuinamente cabo-verdiana.

Foto Joaquim Saial - AML e Teixeira de Sousa (clique na imagem)
O início da minha relação com o doutor Teixeira de Sousa tem apenas cerca de 5 anos. Depois de uma releitura de Capitão de Mar e Terra, contactei o doutor a fim de lhe solicitar alguns esclarecimentos sobre certas figuras e factos referidos nesse romance, ao mesmo tempo que lhe manifestava o meu reconhecimento e apreço pelo seu contributo para a valorização da nossa literatura. A partir daí iniciámos uma regular troca de correspondência postal, além de esporádicos contactos telefónicos, relação que parecia destinada a prosseguir, sempre renovada de motivos de interesse, enquanto vida e saúde houvesse. Porém, jamais me passaria pela cabeça que tudo isso viria a ser brutalmente interrompido por um maldito atropelamento. Todos temos consciência da nossa finitude e a idade é o barómetro que, sem ilusões, nos vai dando o distanciamento da esperança de vida. Todavia, a energia física que o doutor alardeava e o vigor mental que animava todos os seus actos quase faziam dele um jovem no viço da idade, para quem a vida reservava ainda muitas páginas por virar, sedento das realizações espirituais que são o verdadeiro substrato da existência humana. Estava sempre atento aos fenómenos sociais e políticos da actualidade, aquém e além fronteiras, demonstrando uma perfeita sintonia com os novos tempos e emitindo juízos e opiniões em coerência com os princípios em que acreditava e os valores em que construiu e cimentou a sua vida.

Uma nota curiosa da personalidade do doutor Teixeira de Sousa era também o seu notável espírito de humor, aliado a uma surpreendente jovialidade, invulgar num homem já octogenário, assim como a sua simpatia e simplicidade como pessoa humana. Disso tive provas sobejas, em toda a nossa correspondência e no único encontro ocorrido entre nós – em homenagem que lhe foi prestada em Lisboa.

Merece ser ainda destacada a sua rica memória histórica, dotado que era de um extenso reportório de factos, situações e personagens, desde os mais variados sectores da cultura até às realidades e facetas mais singulares do povo da sua terra. Muito desse reportório foi publicado nas páginas do jornal Terra Nova, sob a forma de crónicas ricas de conteúdos factuais e existenciais.

Pela sua profícua acção como médico, pelo seu importante papel na literatura e pela grandeza da sua postura cívica, Teixeira de Sousa é, sem dúvida, um grande vulto da cultura cabo-verdiana e um dos arquitectos do imaginário do povo das ilhas. Dele não consigo dizer mais palavras que não pertençam a essa imensa ovação que, em Cabo Verde e na diáspora, se ouvirá na hora di bai.

Doutor, obrigado pela sua amizade e consideração e obrigado também pelo exemplo de vida que a todos nos lega. Até sempre.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

[0101] Uma homenagem do Praia de Bote, no rescaldo das comemorações do 100.º post: a casa de Henrique Teixeira de Sousa em S. Filipe, Fogo

(clique na imagem)
Recebida por correio electrónico hoje mesmo, esta imagem retrata a casa/sobrado que foi residência do Dr. Henrique Teixeira de Sousa em S. Filipe, Fogo. A foto é da autoria de Adriano Azevedo e foi-nos enviada pelo seu parente (primo, suponho), nosso amigo e condiscípulo do Liceu Gil Eanes Aníbal Orlando "Landim" Teixeira de Sousa, filho do saudoso médico e romancista.

Foto Joaquim Saial (imagem reduzida)
Tivemos o prazer de conhecer o ilustre foguense há longos anos, na sua faceta de presidente da Câmara Municipal de S. Vicente (aí sem sequer falarmos com ele, pois miúdos não têm voz na matéria...) e, em anos recentes, na de escritor, em alguns eventos (por exemplo, no lançamento do seu derradeiro livro "Ó Mar de Túrbidas Vagas", na Casa da Morna, em 14 de Dezembro de 2005, pouco antes de falecer tragicamente, e num almoço organizado pela Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, em Lisboa). Desses momentos temos uma boa colecção de imagens, entre as quais estarão eventualmente as últimas fotografias que foram feitas retratando a sua pessoa.

Henrique Teixeira de Sousa nasceu em 9 de Setembro de 1919, no Fogo, Cabo Verde, e faleceu por atropelamento em Algés, Portugal, em 3 de Março de 2006. Coube-nos, para surpresa e orgulho nossos, a sua oração fúnebre no Cemitério dos Olivais, onde foi cremado.