terça-feira, 29 de novembro de 2016

[2727] Um texto do senador Augusto Vera-Cruz

Sempre na senda de desenterrar materiais úteis para a compreensão do que foi e é Cabo Verde, aqui fica mais um artigo escrito pelo senador Augusto Vera-Cruz, sem dúvida um grande homem e um dos mais acérrimos defensores da sua terra e das suas gentes. Ver também outro artigo publicado no Pd'B, AQUI






segunda-feira, 28 de novembro de 2016

[2726] Porque já é (quase) Natal...

Praia de Bote, como de costume, não deixa para as últimas o que devem ser... as primeiras. E por isso, prestes a atingir os 1000 posts em 2016 (número relativo apenas ao presente ano, pois que como podemos ver no início deste post já vamos em 2726), bem como o blogue parceiro "Arrozcatum" que está à beira dos 10.000 desde sempre, deseja aos seus amigos cabo-verdianos e a todos aqueles que não o sendo são fanáticos das ilhas e das suas gentes, umas festas natalícias felizes.


[2725] Cabo Verde na Exposição Colonial do Porto, 1934


Incluimos neste post duas fotografias que já antes aqui colocáramos. Mas agora, com o texto a ilustrá-las, elas próprias terão melhor leitura. As fotos foram tiradas na baixa lisboeta, junto à Agência Geral das Colónias, Rua da Prata, 34. Colocámos também uma foto de Machado Saldanha, delegado de Cabo Verde à Exposição e capa de uma obra sua publicada no âmbito do certame. Já depois do post pronto, ainda encontrámos a presença do Liceu Central Infante D. Henrique, (Mindelo), antecessor do nosso Gil Eanes (ver no final do post). Por fim, a memória de alguns representantes da indústria do arquipélago. Não os colocamos todos, por agora, sequer a representação da Câmara Municipal da Brava que enviava ao Porto os "tchapéu di padja" locais, tipo "panamá"... Fica para outra vez.










sexta-feira, 25 de novembro de 2016

[2724] Achega relativa ao afundamento do "Guahiba" e do "Acary" no Porto Grande durante a Grande Guerra

Por indicação do Sr. A. Mendes, interessado pelas coisas do mar de Cabo Verde, aqui deixamos uma achega que recortámos e montámos a partir do pdf original do n.º 11 da revista "Portugal Colonial", de Janeiro de 1932. E com relato na primeira pessoa, de quem esteve por dentro do acontecimento, o comandante Henrique Corrêa da Silva. O livro de sua autoria sobre a guerra no mar, de onde foi retirado este texto, poderá ser comprado por 15 euros no seguinte alfarrabista (ver AQUI) Ver também AQUI

Para quem está mais desactualizado relativamente a este assunto, informamos que o "1 de Novembro" citado no texto é o de 1917.






quinta-feira, 24 de novembro de 2016

[2723] Novo artigo de reflexão de Adriano Miranda Lima

AFLORAÇÕES DE UM DIÁLOGO SOBRE A SITUAÇÃO DE CABO VERDE

Adriano Miranda Lima
Já lá vão quase dez anos, José Fortes Lopes lançou um repto ao grupo dos seus ciber-correspondentes mais chegados, em que me incluo, no sentido de uma franca e aberta troca de ideias sobre a situação política e social de Cabo Verde. De então a esta parte, muita água correu debaixo da ponte que iríamos construir entre as nossas idealizações e a nossa vontade comum de pugnar pelo bem da nossa terra.

No contexto de um diálogo entabulado e já arquivado na nossa memória, recupero o que ambos afirmámos a certa altura, por entender que tudo se mantém actual. Disse o José Lopes: 

“Efectivamente, há dois observadores da realidade de Cabo Verde: os insiders, residentes, e os outsiders, que incluem a diáspora e os observadores externos ou internacionais. Se por um lado o insider pode ter uma visão micro do que se passa no país, capturando os detalhes, se não estiver armado de bagagem intelectual e espírito crítico suficientes, poderá só ver os detalhes, algumas árvores, mas não toda a floresta. O outsider poderá ter alguma vantagem em ver a fotografia macro, do conjunto, de fora e de longe, sem todavia poder aperceber-se dos detalhes. Nalguns casos a mesma pessoa pode ser insider e outsider. Pode acontecer, como realça o Adriano Miranda Lima, que o outsider se enriqueceu de outras realidades e ganhou assim vantagem sobre um insider umbilical. O ideal é alguém que esteja entre o insider e o outsider, alguém que tenha tido também uma longa vivência fora de Cabo Verde e que agora aí reside”.

A este juízo certeiro e ponderoso, retorqui nos seguintes termos, corroborando o pensamento do meu interlocutor: 

“Penso que acertaste em cheio na metáfora da floresta e da árvore. O outsider está para a floresta assim como o insider para a árvore, se bem que o primeiro também pode, à distância, enfocar a árvore junto da qual permanecem os seus familiares ou amigos residentes na terra e de quem recebe inputs constantemente. O outsider não pode é ser excluído do debate nem olhado com suspicácia, quantas vezes acusado por alguns espíritos mesquinhos de se resguardar numa cómoda posição de observador à distância em vez de assentar arraiais na terra natal. Ora, se Cabo Verde é um país diasporense, é inaceitável criar barreiras mentais e artificiais entre os seus filhos em função da maior ou menor lonjura em que vivem. A história do país, se bem analisada e interpretada, só tem de enaltecer o protagonismo da emigração, como amiúde vem lembrando o sociólogo Luiz Andrade Silva, emigrante em França. 

Para termos uma noção dos diferentes níveis de focagem em que pode incorrer a observação da realidade, há poucos dias perguntei a um amigo como iam as coisas na terra e a resposta foi que tudo estava bem, fazendo-me ver que, felizmente, sem as cores sombrias com que as notícias públicas pintavam, à data, a situação portuguesa. Estávamos a sofrer os primeiros efeitos da crise de 2008. Ora, aí tínhamos um olhar optimista ou acomodado à aparência da árvore local, com o seu quê de ilusório. Olhar optimista porque a avaliação local pode estar privada de variáveis só perceptíveis à distância e mediante uma maior amplitude da bitola. Olhar acomodado porque a habituação ao real materializado numa circunstância restrita, pode induzir a considerar como natural um quadro de privações menos comum ou menos aceitável numa perspectiva mais alargada.”

Disse a seguir o meu correspondente, e com real fundamento: 

“Presentemente, a fotografia macro que Cabo Verde oferece ao outsider é de manchas e nuvens cinzentas a pairar sobre o horizonte: da democracia e do estado de direito, da organização interna do país, dos problemas de auto-suficiência e da sustentabilidade do país, da energia, da água, da segurança, da paz social, etc. É claro que nesta fotografia estão incluídos os avanços indiscutíveis nos últimos 40 anos, e não podia ser diferente.”
    
Reanalisando, na actualidade, o teor da nossa conversação, é indubitável que o José Lopes pintou bem a floresta mas sem deixar de retratar o perfil de algumas árvores. Na altura, parecia que o comum das pessoas se convencia de que a onda de choque da crise financeira mundial não iria atingir a nossa terra. Mas a pergunta que devia colocar-se, com toda a pertinência, era até quando iriam manter-se os equilíbrios macroeconómicos que vinham sendo conseguidos à custa da providencial ajuda externa, que, verdade seja dita, não fora delapidada ou desviada para fins ilícitos, como aconteceu com alguns países beneficiários. Isto porque se países dotados de recursos naturais e infra-estruturas industriais avançadas estavam a braços com a grave crise do sistema financeiro mundial, como admitir que Cabo Verde poderia sobreviver à mesma sem sentir os seus efeitos gravosos, directa ou indirectamente, e sempre com o risco de reeditar situações dramáticas como em outros tempos da sua história? 

Aliás, independentemente de crises conjunturais, o pano de fundo da nossa realidade humano-geográfica é marcado indelevelmente por ciclos naturais que nos aprisionam e tendem a condicionar a nossa existência se não os enfrentarmos com uma atitude desassombrada, realista e em permanente reavaliação das metodologias e dos procedimentos no campo político. O cenário de incerteza, ou a sua iminência, é um espectro que paira sempre sobre o país, a desafiar quem tem a responsabilidade da governação. Por isso, hoje é cada vez mais nítido que uma renovação do tecido partidário, como defende José Lopes, assim como uma profunda reforma do Estado e uma cidadania mais dinâmica e actuante, são condições essenciais para reagirmos aos desafios de um futuro que não se adivinha benfazejo. 

Ora, o tecido partidário só pode reformular-se, actualizando-se, mediante um debate ideológico que permita uma mais rigorosa clarificação da identidade de cada força política, em especial as do arco da governação. Para o senso comum, o PAICV e o MpD são as duas forças partidárias que em Cabo Verde representam a dicotomia entre a Esquerda e a Direita, cuja diferença ideológica é, lato sensu, aferida pelo pêndulo entre a promoção das políticas sociais e o grau de liberalização da economia. Mas sucede que os dois partidos têm a sua génese num contexto revolucionário ou de ruptura com as suas incidências, pelo que, decorrido todo um tempo de vida democrática em que a poeira foi assentando, é natural que se imponha agora uma reavaliação e redefinição da sua linha ideológica e da sua prática política, em ordem a uma relativa diferenciação identitária entre ambos, para evitar o juízo popular que vem sendo recorrente: “é tudo a mesma coisa”.

No entanto, reconheça-se que em Cabo Verde, pelas suas limitações, essa dialéctica não tem grande margem para alimentar todas as expectativas, como certamente ninguém ignora. Com efeito, e por exemplo, como pode o mercado assumir rédea larga e livre num país de parcos recursos e em que o atractivo para o investimento se resume praticamente ao sector do turismo? E, por outro lado, como sustentar o estado social sem uma economia razoavelmente consistente e progressiva? Esta constatação pode induzir que, mercê das circunstâncias geoeconómicas, e também das nossas fatalidades naturais, os governos são obrigados a ater-se a um certo pragmatismo na sua acção governativa, mas não parece líquido que tenham de ficar reféns das circunstâncias, incapazes de afirmarem a sua própria identidade na forma de encarar e resolver cada problema concreto.   

Nesta conformidade, o que pode então diferenciar os partidos políticos? Ou seja, em que medida os principais partidos podem distinguir-se nitidamente no plano ideológico e dentro do contexto económico-social que caracteriza o país? Este é o desafio e caber-lhes-á a devida resposta. Se a diferenciação não é muito plausível na sua substancialidade a ponto de gerar políticas sociais e económicas que no plano ideológico se distingam na sua essência, nas vias, nos métodos e nos objectivos, será sempre de esperar que ao menos o tentem no plano da ética política e da exemplaridade da sua conduta perante o país. Aqui estão dois aspectos que, refinados, contêm matéria para uma base de emulação entre os partidos e, porque não, fundacional de uma doutrina conceptual cujo grau de observância e aplicação poderá configurar a diferença que norteará a adesão do eleitor. Recorrendo a uma imagem alegórica, dir-se-á que as circunstâncias são de uma tal exigência no nosso país que os políticos têm de ser morigerados e rigorosos na sua conduta pública, devendo envergar, no seu quotidiano, o fato-macaco em vez de fato e gravata do último modelo, e, nas suas deslocações, preferir o jeep à mercedes luzidia. Não podem encarar o múnus político como um trampolim para um rendoso tacho futuro. Servir o povo de Cabo Verde deve ser o móbil dos seus anseios, a realização pessoal mais engrandecedora. 

E não tenhamos ilusões, tem de se remunerar condignamente, e dentro das possibilidades, quem se disponha a dar a cara e a arrostar os sacrifícios pessoais da governação, porque estes são iniludíveis. A compensação moral, essa, é absolutamente justa e necessária, e exigível, e só pode rever-se na boa prática política e nos seus resultados concretos e visíveis. É sobretudo nestes requisitos, que não apenas no discurso retórico, muitas vezes vazio, que o eleitorado colherá a motivação e o alento cívico, inspirado no exemplo dos governantes, para não se furtar aos actos eleitorais e para fazer as suas escolhas conscienciosamente. Digamos que aqueles princípios devem ser os principais mobilizadores do pensamento ideológico e da prática política, os mandamentos que devem nortear a acção de quem se compromete a servir o país. 

Todavia, e retornando à nossa realidade nua e crua, penso que Cabo Verde é um país que não pode descurar uma protecção social mínima, dentro da margem de acção consentida aos governos, pois não é previsível que a iniciativa privada alicerçada no mercado livre consiga ser a mola real da política social. Até porque também não é crível que possa vir a florescer no horizonte mais próximo uma economia liberal capaz de assumir proporções condizentes com as exigências de uma parceria social com suficiente relevo. Apenas a expectativa num maciço investimento externo no turismo poderia abrir um olhar prospectivo nessa direcção, mas não somos ingénuos a ponto de pensar que o turismo será a solução para todos os problemas. Ainda mais, quando o exemplo de algumas facetas negativas do comportamento desse sector em algumas regiões do mundo menos desenvolvido, nos aconselha a pôr um certo travão ao entusiasmo lírico. E a aprender com as experiências alheias, evitando repetir os mesmos erros.

Deste modo, Cabo Verde tem de explorar ao máximo as potencialidades da sua agricultura mediante um judicioso aproveitamento e armazenamento das águas pluviais, prosseguindo a construção de barragens e pequenos diques. Neste particular, é preciso olhar para o exemplo das ilhas Canárias, como o Dr. Arsénio de Pina recomenda constantemente nos seus artigos. Por outro lado, a indústria pesqueira e outras actividades ligadas ao mar são igualmente potencialidades exploráveis. É nestes dois quadros precisos que se encaixam as expectativas mais realistas e de resultados mais controláveis. De resto, o “MANIFESTO PARA UM S. VICENTE MELHOR”, que o nosso Grupo da diáspora publicou em 2010, é uma expressão de medidas possíveis que se recomendam não apenas para a nossa ilha (S. Vicente) como para país como um todo, obviamente onde elas forem aplicáveis.

O nosso diálogo não se esgotou. Prosseguiu o seu curso e, de discussão à flor das ideias à abordagem mais aprofundada dos problemas de Cabo Verde, viria a proporcionar-se a criação do Grupo de Reflexão da diáspora, cuja principal agenda é a Regionalização do país.


Tomar, 16 de Novembro de 2016

                                                                 Adriano Miranda Lima

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

[2722] Santo Antão, quase uma Califórnia, segundo o Núncio Michael Wallace Banach

Michael Banach - Foto Rádio Vaticano
Excerto da entrevista que o Núncio apostólico Michael Wallace Banach (que entre outros países serve Cabo Verde - Ver AQUI e ver e ouvir AQUI) - deu ao jornal "Terra Nova", a sair em breve:

Terminou a sua segunda visita a Cabo Verde e primeira a São Vicente. Como é que avalia esta visita?

Foi um grande prazer, como na primeira. Na primeira vim à Praia para apresentar as minhas cartas credenciais ao Presidente. Era uma visita mais formal mas já naquela ocasião tive oportunidade de conhecer algumas realidades da Igreja aqui em Santiago. Desta vez, considerando que os bispos tinham uma sessão ordinária da Conferência Episcopal, a primeira deste ano, no Mindelo, convidaram-me a participar. A participação nesta sessão é o motivo desta segunda visita. 

Fiquei muito impressionado com a natureza do país. As coisas que vi em Santo Antão, são coisas incríveis. Alguém chega a Porto Novo e 15 minutos depois está em meio da montanha envolvido por pinheiros, cedros, etc… pareceu-me estar no Estado de Califórnia. Vê-se também a presença antiga da Igreja e a sua proximidade com as pessoas e vê-se também o amor e o respeito que as pessoas têm para com a Igreja, para com os padres. São coisas boas.

Santo Antão, saída de Ribeira Grande para Ponta do Sol - Foto Joaquim Saial

sábado, 19 de novembro de 2016

[2719] Uma pérola mais ou menos esquecida da literatura cabo-verdiana: "O Rapaz Doente", de Gabriel Mariano

"O Rapaz Doente", de Gabriel Mariano, foi publicado em Novembro de 1963 na famosa colecção Imbondeiro, de Sá da Bandeira, Angola (n.º 55). Capa, comum a todos os volumes, de Fernando Marques. Temos aqui um dramático enredo em que a principal personagem é um rapaz tuberculoso que chega ao Mindelo, vindo da Praia, depois de ter estado como contratado em São Tomé, em trabalho duro "enterrado na lama", caso perdido que ninguém quer tratar nem recolher. A acção do conto (ou curta novela) de 26 páginas passa-se em vários locais da cidade do Porto Grande, nomeadamente, como não podia deixar de ser, na Praça Nova mas também na rua de Lisboa e no velho hospital, hoje de Baptista de Sousa. Para os nossos leitores, digitalizámos a capa e duas páginas.


[2718] "Silvenius": foi ontem, no Grémio Literário, Lisboa

Aconteceu ontem, no centenário (clicar) Grémio Literário (fundado em 1846, na Rua Ivens, em pleno Chiado) o lançamento de "Silvenius", antologia poética de Arménio Vieira. Na primeira foto, Márcia Souto, editora da Rosa de Porcelana, Arménio Vieira, o diplomata brasileiro Carlos Kessel e o poeta e também editor da Rosa de Porcelana, Filinto Elísio. Entre o público, puderam ver-se os poetas José Luís Tavares e José Luis Hopffer Almada, Ana Cordeiro, antiga directora do Centro Cultural Português do Instituto Camões do Mindelo e vários membros da Associação de Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, entre outras personalidades da comunidade cabo-verdiana de Lisboa. Praia de Bote, claro que também não faltou. O livro poderá ser adquirido em http://europresseditora.pt/categoria-produto/editoras-distribuidas/rosa-de-porcelana/

Foto Joaquim Saial
Foto Joaquim Saial


Foto Joaquim Saial
Foto Joaquim Saial

[2717] Mergulho para a Paz, em São Vicente

Do nosso colaborador Emmanuel d'Oliveira "Monaya"

"Tenho estado aos pulos, com mergulhos e filmagens, para o documentário sobre o património subaquático e os eventos de Mindelo, centenário do 'Acary' e 'Guahyba', por isso sem muito tempo para frequentar o blogue, mas ja estou de volta... aos poucos.
Foi muito interessante o que aconteceu no Mindelo. Estamos agora a trabalhar para ver se conseguimos a nossa conferência internacional no próximo ano para assinalar o 1º centenário dos naufrágios do 'Acary' e do 'Guhayba', mas também tratar do património subaquático."

Mergulho para a Paz
(Dive for Peace Day)

Mindelo 5 e 6 de Novembro de 2016

Nos dias 5 e 6 deste mês, Mindelo mexeu-se mais do que o habitual à volta do tema  mergulho. O M_EIA (Instituto Universitário de Tecnologia, Arte e Cultura) promoveu uma série de actividades sobre a matéria.

Foi organizada uma pequena conferência para esclarecer sobre o Mergulho para a Paz (acção lançada pela UNESCO internacionalmente para assinalar o centenário da 1ª Grande Guerra); uma palestra sobre o património cultural e histórico subaquático de Cabo Verde e homenagem aos submarinistas mindelenses dos anos 50 e 60. Djibla e Djo Borja foram os digníssimos representantes “daquela malta” do clube de pesca submarina.

No domingo, dia 6, foi a vez do mergulho em si, "Dive for Peace Day", com partida do cais da ONAVE. Não compareceram só mergulhadores, mas também organizadores e simpatizantes da causa da Paz. O mergulho foi feito nos recém-descobertos destroços do "Acary". A fotografia de praxe será divulgada pelo departamento de património cultural subaquático da UNESCO.









quinta-feira, 17 de novembro de 2016

[2715] Horace Silver - "Peace" (ao piano, em gravação de 1959)

[2714] Norah Jones - "Peace" (do "nosso" Horace Silver)

[2713] Duke Ellington - "African Flower"

[2712] 50 "Crónicas do Norte Atlântico", em Dezembro


A 50.ª "Crónica do Norte Atlântico" sairá em Dezembro, como sempre, no jornal "Terra Nova", de Cabo Verde. Publicadas ininterruptamente desde Agosto/Setembro de 2012, a elas se juntam mais quatro textos vindos a lume no mesmo periódico, em Fev.2007, Jun.2009, Dez.2010 e Jul.2012. Para a devida comemoração, está previsto um texto especial (eventualmente com imagens a cores) sobre assunto até agora nunca tratado, alusivo a obras clássicas da literatura cabo-verdiana. Até lá, fica um abraço norte atlântico àqueles que se têm interessado pelas crónicas do dito oceano...

[2711] Excerto da 49.ª "Crónica do Norte Atlântico" para o "Terra Nova" (Novembro.2016)








CABO-VERDIANOS DA AMÉRICA: TRÊS EXEMPLOS

Antigas, as relações entre Cabo Verde e os Estados Unidos da América assentam para o comum público, no que toca à emigração primordial, supostamente apenas na participação de homens da ilhas na pesca da baleia, na apanha de bagas e em pouco mais. De facto, os cabo-verdianos terão chegado pela primeira vez a Nantucket no início ou meados do século XVIII, como refere Yvonne Smart, filha de cabo-verdiana e uma das responsáveis do Cape Verdean Museum Exhibit de Providence, Rhode Island. Mas não apenas da caça de cetáceos se faz a história dos naturais do arquipélago (ou seus descendentes) nos EUA. Assim, recolhemos para os nossos leitores três exemplos sobre outras actividades a que se dedicaram estes imigrantes e documentam a ligação do povo da morabeza à terra do Tio Sam, nomeadamente nos finais do século XIX.

(...) A terceira notícia, ainda do mesmo jornal mas cerca de dois anos posterior [1897], remete-nos para algo que uma vez por outra notamos nesta época (digamos, demasiadas vezes) nos jornais de língua portuguesa dos EUA, em geral propriedade ou com forte influência de açorianos: um racismo algo boçal, entre portugueses – de que esta história é resumido exemplo –, embora não tão radicalizado como o que se vivia então nos EUA, mas ainda assim… 

Trata-se de um lamento sobre questões de atropelo de trabalho com botes de transporte de turistas em Providence, Rhode Island, consubstanciado na coluna "Correio do Leste" que aqui reproduzimos integralmente para que se possa perceber o que antes afirmámos, em toda a sua extensão: "Os nossos patrícios andam aí aos grupos em busca de trabalho, e a esperança, creio, os abandona. Esperavam encontrar um recurso nos botes de excursão, mas esse perderam-no pela oposição que lhe fizeram os naturais de Cabo Verde, oferecendo-se por um salário miserável. Ainda há pouco todos se queixavam dos italianos neste sentido, mas agora, não sei o que direi daqueles. Daqui a pouco isto fica reduzido a mais que nada."

Não parecia saber (ou fingia desconhecê-lo) o articulista anónimo que "os naturais de Cabo Verde" eram tão patrícios portugueses como os patrícios açorianos, madeirenses ou continentais que por ali havia. A verdade é que esta divisão em "patrícios" e "naturais de Cabo Verde" nos diz muito sobre uma maneira de olhar as gentes do Império português que era comum na época e se arrastou, mais ou menos disfarçada, mais ou menos atenuada, até à época das independências. Ressalve-se no entanto que não se chega ao ponto de falar em cor de pele, pondo os cabo-verdianos de baratos preços ao nível dos italianos, uns como outros tentando sobreviver na selva americana do trabalho portuário, dominada por sindicatos de orientação obscura e outros constrangimentos de que meio século depois "On the Waterfront " de Elia Kazan será significativo sinal.