domingo, 19 de agosto de 2012

[0239] LIVRO "MORNAS - CANTIGAS CRIOULAS" DE EUGÉNIO TAVARES (4 - NÁ, Ó MENINO, NÁ...)

Ná, ó menino, ná...
À alma do malogrado comandante Adelino de Oliveira

Ó rosto doce de ojo maguado,
Es bo cudado
Botal pa traz!
Nhor Des ta dano um bida de paz,
Ó nha Pecado
De ojo maguado!

Ná, ó menino, ná,
Sobra rum fugi de li!
Ná, ó menino, ná,
Dixa nha fijo dormi...

Sono de bida, sonho de amor,
Ou graça, ou dor,
Es é nós sorte...
Se Deus, más logo, mandano morte,
Quem que tem medo
Ta morrê cedo.

Toma nha ombro, encosta cabeça,
Ja'n dabo peto,
Amá ragaz!
Ó esprito doce, ca bo tem pressa:
Deta co geto,
Dormi na paz...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

[0238] CONCURSO 11

 Adriano Miranda Lima  venceu esta edição do concurso do PRAIA DE BOTE. Parabéns ao "winner"! Marcos Soares merece um prémio de consolação (uma folha de acácia) porque também lá chegou - só que um pouco atrasado (apenas três minutos). Mas antes atrasado que a zero. Parabéns para os dois.

A "boa vida com música" era a Praça Nova, obviamente; a "guerra" era o antigo quartel, acho que ainda hoje com a televisão de Cabo Verde lá instalada. A escola fica entre ambos, do lado esquerdo quando se sobe. Os algarismos 1, 2, 3 e 4 eram as classes da escola e o "acesso ao Gil" era o facto de depois da 4.ª classe se ir para o Gil (ou para a Escola Técnica próxima). Cabe dizer que foi aqui que fiz o meu exame da 4.ª classe (apenas o exame, pois frequentei a escola do Lombo, na Rua do Sol, com vista para o Hospital). Ao contrário de outros escudos portugueses, este, tal como o do Palácio, foi modificado mas talvez por mero acaso manteve as cores verde e vermelha.


Prémio para AML


Prémio para Marcos Soares

Pergunta: a que edifício pertenceu (e ainda pertence) este escudo alterado (mas curiosamente mantendo as cores verde e vermelha)?

Ajudas: O edifício ficava (e ainda fica) entre a boa vida com música e a guerra;  tinha a ver com os algarismos 1, 2, 3 e 4. Servia para saltar para o Gil.

Está a ser difícil mas é facílimo. O edifício situa-se entre a "boa vida com música" e a "guerra". A "boa vida com música" continua desde tempos ancestrais; a guerra mudou de lugar, acho eu mas esteve muito tempo no anterior sítio. O 1, 2, 3 e 4 é simplicíssimo e merecia "orelhas de burro" para quem não acertou (atenção que não estou a chamar burro a ninguém - apenas falei em ORELHAS DE BURRO). Ainda por cima, por dar acesso ao Gil...  


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

[0237] CONCURSO 10

 Fernando Frusoni  estreia-se como vencedor da 10.ª edição do Concurso do Praia de Bote. Tratava-se de facto de uma porta do mítico Café Royal (Royal - não era republicano) onde havia grandes pianadas (teclas) pelas mãos mágicas de D. Tututa (nominha parecido com Tuta do Parque Miramar) que fazia ginástica aos dedos, claro, tocando.


Foi assim desvendado com enorme rapidez o enigma e aqui fica não só o ramo de acácia para o cabo-verdiano-genovense como a foto do café, nos anos terminais (1999), com o então proprietário à porta, Sr. Tchuna. É quase certo que esta foto irá aparecer no filme sobre D. Tututa que estreará em breve, bem como outra documentação saída do arquivo do PRAIA DE BOTE. Esperemos para ver. A expectativa é enorme, pois os excertos já divulgados são de óptima qualidade.


Pergunta: a que edifício e estabelecimento icónico do Mindelo pertenceu esta porta?

Ajudas: não era republicano, havia lá teclas e tinha sabores finos. Ali brilhava alguém que tinha nominha parecido com um proprietário da 7.ª arte mindelense e fazia ginástica aos dedos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

[0236] POST ALUSIVO AO COMENTÁRIO DE ADRIANO MIRANDA LIMA NO POST ANTERIOR

De facto, não só o médico-escritor Henrique Teixeira de Sousa nutriu um grande gosto por escrever no "Terra Nova" (colaborou nele por dez anos consecutivos) como o jornal retribuiu esse interesse, dedicando-lhe no seu número 349 de Março de 2006 (à época do seu trágico desaparecimento) uma sentida homenagem de que aqui vemos parte, em exemplar fotocopiado oferecido na altura pelo AML que conservamos com muito gosto.

Para além de um longo editorial de Frei António Fidalgo de Barros, pode ler-se o último texto de Teixeira de Sousa para o jornal "Latim, língua morta?" (talvez o derradeiro da sua vida) e textos de Gilda Barbosa ("O meu primeiro andar") e Ondina Ferreira ("Lembrando o Dr. Henrique Teixeira de Sousa no "Terra Nova"). O texto "Selô, Selô, senhor Dr. Teixeira de Sousa", anunciado na p. 1, não surge nas fotocópias, o que é esquisito, porque pensamos que será de AML. Grande mistério que só o nosso amigo poderá resolver...


[0235] TEXTO NO "TERRA NOVA" DE JULHO.2012


Na página 6 do "Terra Nova" de Julho saiu "A verdadeira, celestial-terrena e até agora desconhecida história do nascimento do Colá Sanjom, na Ribeira de Julião", texto nosso que oscila entre o histórico e o fantasioso-humorístico.

A partir de Setembro, a página passará a ser de publicação regular, com o título "Crónicas do Norte Atlântico", já aqui divulgado. O texto inicial será alusivo ao primeiro dia da árvore que se comemorou em Cabo Verde. Esse trabalho será divulgado no PRAIA DE BOTE em Outubro.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

[0234] A HISTÓRIA DA ÁGUA EM SÃO VICENTE, UM VALIOSO PATRIMÓNIO DE ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL DESPREZADO

Do nosso estimado colaborador Zeca Soares (já o podemos considerar assim, em virtude de alguns muito bons materiais que nos tem enviado), recebemos estas fotos e o texto que se segue. Ao Zeca, o nosso agradecimento, em nome dos que amam o Mindelo e São Vicente.



«O abastecimento de água à ilha de São Vicente sempre teve uma história, mas existem pessoas que insistem em apagá-la, ou a minimizá-la, não lhe dando o seu divido valor. Quem não recorda das filas de mulheres da Vascónia e do Madeiral, da Ferro & Companhia, dos fontenários espalhados pelos subúrbios de Mindelo, da JAIDA?


A cidade do Mindelo foi pioneira na história da dessalinização em Cabo Verde. As fotos aqui apresentadas são dos dois "monstros" que fazem parte integrante dessa História. Vemos as duas caldeiras, agora sem as respectivas chaminés, componentes principais da primeira Instalação de Dessalinização de Água, instalada na Matiota há 40 anos, e que estão a ser ou já foram vendidos como ferro velho.Tanta falta de dinheiro!!! Deixo ao Praia de Bote, Campeão da História desta Ilha, a sua consideração.»

É de facto lamentável este desprezo pela arqueologia industrial e pela história da água, um dos bens mais raros em Cabo Verde e em São Vicente. Assim se vai perdendo um património insubstituível que, sendo estimado, poderia produzir dividendos em termos de turismo. Juntamos três imagens, já divulgadas no PRAIA DE BOTE, que ajudam a relembrar a história da água na nossa ilha: duas da medalha comemorativa do nascimento da dessalinização; e uma da fila de mulheres que iam adquirir água na Vascónia da Ferro & Companhia aqui pertinho da nossa PRAIA DE BOTE.

Foto eBay


Foto eBay
Foto de Narciso Silva. Só se vislumbra um pedaço da parede da Ferro & Companhia mas vê-se toda a fachada da "Staçon" e ao fundo a Shell. À direita não podemos observar o "plurim d'pêxe" mas nota-se parte da antiga serração de um madeirense.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

[0233] QUANDO A ARTILHARIA ANTI-AÉREA VIGIAVA OS CÉUS DO PORTO GRANDE, por Adriano Miranda Lima

Adriano Miranda Lima
Como diz o título, à época da segunda Guerra Mundial, a artilharia anti-aérea  vigiava o Porto Grande. E a nossa “Praia de Bote” estava, implicitamente, sob o chapéu protector, claro está. Que isto fique desde já assegurado, ou não tivesse a dita Praia sobrevivido até agora, vivinha da silva.

Ora, esta antiga peça de artilharia anti-aérea de calibre 9,4 cm presente nas fotos pertencia, entre outras, a uma das baterias (unidade táctica elementar de artilharia comandada por um capitão) instaladas no cimo do Monte de Sossego. A outra bateria era equipada com peças de 4 cm. Fazia também parte desse dispositivo artilheiro uma unidade de referenciação, constituída por projectores (holofotes), fonolocalizadores, preditores de tiro (1) e seguidores visuais. Desconheço se integrava também radares tácticos e de tiro.  Uma vez que este conjunto integrava duas baterias, de comando de capitão, é de supor que o conjunto justificasse o comando de um major. A ser assim, aquelas duas unidades constituiriam um Grupo de Artilharia, embora reduzido nas suas componentes orgânicas, que é sempre de comando de oficial superior (major ou tenente-coronel). Mas admite-se que o conjunto pudesse estar sob o comando apenas de um capitão, já que nessa altura não havia grande abundância  de oficiais superiores e o posto de capitão se mantinha até idade bem madura (mais de 40 anos), o que conferia um saber de experiência acumulada ao longo de anos.

Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)
Este dispositivo e outros disseminados pela ilha de S. Vicente fazia parte das Forças Expedicionárias Portuguesas a Cabo Verde durante a Segunda Guerra Mundial (activadas entre 1941 e 1945).
                                        
Quem for ao cimo do Monte de Sossego encontra ainda quase intactas as estruturas entrincheiradas, tipo bunker, desse antigo dispositivo militar, construídas então pela engenharia militar portuguesa. E tem também oportunidade de reparar em algumas peças enferrujadas (só se mantiveram as de calibre 9,4 cm) e amputadas de alguns componentes.

  Foto colhida no blogue de Luís Graça
Eu fui lá em 2003, e pela primeira vez na minha vida. Não estavam lá soldados nem equipamentos, à excepção das referidas peças enferrujadas. Estavam, sim, pessoas a viver no que resta daquelas instalações construídas em subsolo. Disseram-me que eram pessoas de S. Antão que chegavam a S. Vicente à procura de trabalho e não tinham outra hipótese de abrigo senão os bunkers. Mas penso que actualmente essas instalações estão desocupadas, conforme parecem demonstrar fotos de data mais recente que tive oportunidade de ver mas que não possuo. Tenho de dizer que me impressionou o estado deplorável em que vivia aquela gente. Cheguei ao local acompanhado de um tio e de um primo e fomos imediatamente rodeados  por um rancho de crianças, que nos olhavam como se fôssemos extra-terrestres.

Foto colhida no blogue de Luís Graça
Como afirmei atrás, eu nunca tinha ido ao local, mas ao longo da minha meninice algumas manifestações da existência desse dispositivo artilheiro chagavam até mim de vez em quando. Sim, porque alguma coisa ainda lá se manteve depois da saída das Forças Expedicionárias. Lembro-me, nos anos da década de 1950, dos ensaios nocturnos dos projectores (holofotes). Iluminavam tudo em redor e até a distâncias consideráveis. Morava em Fonte Cónego e era uma festa, para a meninada, quando os focos de luz atingiam as casas e mesmo os nossos corpos. Interrompíamos as brincadeiras de “mangatchada” (brincar às escondidas) para nos deliciarmos com o espectáculo de luz que subitamente quebrava a rotina.

Mas voltarei em breve a escrever sobre este e outros factos relacionados com as Forças Expedicionárias a Cabo Verde durante a Segunda Guerra Mundial.

(1) Aparelho que calcula a posição futura do alvo aéreo

Tomar, Agosto de 2012
Adriano Miranda Lima

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

[0232] CONCURSO 9

Não tendo havido desta vez uma resposta explícita ao nosso concurso, houve porém uma que teremos de considerar certa: a do  Valdemar Pereira  que assim se junta aos três vencedores que já contam cada um com duas sessões premiadas. Como é sabido, ele entra em pânico quando se trata de ramo de acácia e por isso temos sempre disponível para as vitórias do nosso amigo um talo de alho francês.


Tratava-se, tal como ele deixou adivinhar,do Joaquim Stoessel de Sousa (nhô Juquinha ou Djuquinha), chefe da secretaria da Capitania dos Portos que ali trabalhava (daí o "navegava em terra") juntamente com outro excelente profissional, o Sr. Manuel Ferreira Lima.

Mas melhor que aqui o PRAIA DE BOTE, o vencedor Valdemar poderá dar preciosas achegas, sobretudo em relação aos filhos cantantes.

Já agora, sem confirmação, tenho quase a certeza de que a Caixa Postal n.º 7 era a da Capitania dos Portos.  É que tenho as cartas que nos foram dirigidas para Cabo Verde noutro local que não aqui em casa. Mas logo que possível tirarei isso a limpo.


Mais um cartão de visita e novo desafio, neste concurso extraordinário, feito mais ou menos a meio da semana. Parece-me que será talvez o enigma mais difícil de desvendar, de todos os já aqui apresentados. Mesmo assim, há gente capaz de lá chegar, entre as hostes amigas do PRAIA DE BOTE. Isso sei eu...


Pergunta: quem é este Joaquim?

Ajudas: trabalhava com papéis, era competentíssimo, pessoa muito estimada e navegava em terra. Posso estar um pouco equivocado, mas acho que morava num prédio de primeiro andar que dava para a Praça Estrela, na mesma faceira da antiga casa do Firrim - ou seja, a que partia da Praia de Bote e ia percorrendo os terminais de várias ruas: Matijim, São João, Sá da Bandeira (hoje acho que de Moçambique) Luz, Moeda e Suburbana. Fui a casa dele despedir-me, quando me vim embora, e penso que era mesmo aí.