domingo, 31 de maio de 2015

[1541] Pela elevação da MORNA a Património Imaterial da Humanidade - MORNA to Intangible Cultural Heritage (veja os três posts anteriores de apoio à MORNA)

Logótipo do Praia de Bote de apoio à MORNA

[1540] Fazer a morna

"O Galo Cantou na Baía" (1.ª edição, 1959, ed. Orion, Lisboa) - Manuel Lopes


Guarda Toi [da Alfândega] não tinha sono essa madrugada. Porque não tinha sono o guarda Toi? Há neste mundo tanta coisa capaz de nos arrancar o sono dos olhos...

Nunca Toi se sentira tão bem disposto como nessa madrugada. Trazia uma espécie de euforia no coração. Isso também tira o sono. No dia seguinte, entre rapaziada amiga, no reservado da Salibânia, Toi diria ao camarada guarda Jack da Inácia: "Sorte, moço, dois job na boca de taco. Acabava precisamente de fazer uma morna". 

Toi não tinha sono, Quem ignora que a inspiração tira o sono como qualquer dor de cabeça ou barriga? Ou melhor, de acordo com a nomencltura do próprio Toi, como a dor de parto? Uma inquietação formigava-lhe no espírito, coisa parecida com a inspiração. Talvez fosse inspiração, porque Toi - todo o mundo sabia - era fazedor de mornas, e as mornas que ele fazia eram dançadas uma semana depois de nascidas (Toi afirmava que as paria) em todos os bailes da cidade. Toi tinha uma equipa de propaganda bem instruída. Morna nova de Toi era coisa boa, era o delírio.

[1539] Falar da morna

"Cartas de Cabo Verde" (1948) – Eng.º Luíz de Saldanha Oliveira e Souza

(Ilha Brava)

(…) Certamente, como consequência deste meio naturalmente belo, harmonia sem igual, e permanente encantamento, o povo desta ilha é dotado de dotes artísticos excepcionais que se manifestam espontaneamente, e de que as "mornas" são a tradução na poesia e na música. Que delicada inspiração, que doçura de sentimento, que arte consumada, e, por vezes, que fina ironia se encontram nestas composições poéticas!

Eugénio Tavares
Um dos grandes poetas cabo-verdianos foi Eugénio Tavares, natural da Brava, onde viveu, e célebre pelas mornas que compôs. Recitadas na harmoniosa linguagem crioula, em que foram escritas, fazem vibrar a nossa sensibilidade lusíada, não só pela vaga saudade que transparece nas suas quadras, mas também pela beleza e verdadeira poesia que encerram. Não é nada que se pareça com a deprimente letra do fado cantado nas vielas de Lisboa; mas qualquer cosia muito mais artística e elevada, que muito se assemelha ao estilo do conhecido poeta Catulo Cearense.

A morna é acompanhada por música sentimental, mas inspirada e melodiosa; nada, contudo, que possa comparar-se com o monótono acompanhamento do fado. Executada com estilo e mestria pelos violinos e violas locais, ouve-se com o maior agrado. (…)

[1538] Cantar a morna, ouvir a morna...


(São Vicente)

Tratava-se de um antro mal iluminado – em que sobressaía o odor da aguardente de cana-de-açúcar misturado com o do tabaco e de suor –, ao fundo do qual a dona residia, num quarto separado da loja por velha cortina de folhagens. Viúva cinquentona, Joana de Jesus possuía lindos olhos azuis, reveladores da sua ancestralidade europeia, e uma opulência peitoral que atraía os homens que do botequim faziam a sua segunda casa. Mas só para Zezé tinha atenções mais demoradas. O copo dele estava sempre cheio e ao lado nunca lhe faltava o pires com uma rachinha de cuscuz. E quando a mulher pegava na garrafa, debruçando-se para lhe servir mais um pouco de cachaça, os olhos do pescador caíam gulosos sobre aquele decote e o longo e generoso vale que dentro se entrevia. Às vezes, noite alta, quando a dona do botequim já tinha feito as honras à casa com um ou mais grogues, os clientes pediam-lhe uma morna. Então, ela dizia: «Só se bucês tude bibê más um grôguin» Cumprida a exigência, Caló Monteiro, mecânico de automóveis e músico hábil na tocadura, rapava do seu violão e iniciava-se a desejada serenata. A voz quente de Joana enchia a casa e estendia-se à rua, atraindo fregueses dos botequins vizinhos, para raiva da concorrência: 

                   Bôs odjos, Xandinha
                   Tem doçura di mel
                   Tem magia di sonho
                   Ta cambá na mar azul.

Era sempre a morna de Amândio Cabral que abria o canto, porque Joana sabia que ela impregnava as almas e impunha mais um copo. E à medida que as canções se sucediam, o balanço daquela voz doce, os harpejos lamentosos de Caló e os vapores do álcool espalhados na atmosfera iam embalando o público até ao sono. Chegada enfim a hora de fechar, os clientes arrastavam-se a caminho de suas casas, Joana varria as cascas de mancarra e as beatas que inundavam o chão e por fim cerrava as altas portas vermelhas do estabelecimento. A partir de dada altura, passou a ser Zezé o encarregado desse serviço. Só que agora, ele não seguia para o Monte Sossego, onde vivia com a velha mãe, como fazia antes. Ficava do lado de dentro. Os olhos e o corpo de Joana também tinham a doçura do mel...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

[1531] Continuação da continuação...

Ver 1.ª parte AQUI; 2.ª parte AQUI

3 - Diário Popular, 17.05.1954

(continuação)

Fornecimento de energia eléctrica

Como se disse já, a obra de maior vulto realizada pela Câmara é a do fornecimento de energia eléctrica, com a montagem da nova central de 285 Kw. Impõe-se a obra não apenas pelo inestimável benefício (antes do resgate da concessão, a iluminação era péssima, tendo-se chegado a um ponto verdadeiramente insustentável) como, ainda, pelos obstáculos com que o presidente do Município teve de haver-se, as divergências quase irredutíveis, surgidas com os concessionários, etc. Felizmente, foi ganha a batalha e, com o facto, o presidente deu mais uma prova do tenaz interesse com que encara e procura resolver os problemas da cidade.

Abastecimento de água

A montagem do serviço de água para abastecimento domiciliário, por meio de um barco-tanque, depósitos, etc., é outra obra de vulto que tem constituído grande preocupação do Município e lhe vai custando muita energia, esforço e, como é evidente, algum investimento de capital.

Adquirido o barco-tanque bem como as bombas e instalações, e arrumados certos assuntos burocráticos como os depósitos, etc., vai iniciar-se o transporte da esplêndida e conhecida "água da Mesa", de Santo Antão, para abastecimento ao público da cidade. A princípio esse abastecimento será feito em escala reduzida, embora eficiente, para, depois, se tratar do do fornecimento ao domicílio, com todas as vantagens que de tal serviço advirão para os munícipes.

Num dos altos que dominam a cidade e ligado ao cais de desembarque (um dos da Companhia Millers e por ela cedido) encontra-se um depósito para 500 toneladas de água e, no extremo norte, próximo da Catedral em construção [divulgámos em tempos no Pd'B uma foto em que se via esta igreja da qual ninguém soube explicar a origem e sobretudo falta de conclusão e que ainda assim estava em 1965; hoje desaparecida totalmente], um fontanário para fornecimento ao público.

Animada do propósito de bem servir, a Câmara está na disposição de adoptar outras medidas para o abastecimento de água à cidade, se assim o aconselharem as circunstâncias e sem quebra da sua convicção da importância da obra realizada, que libertará a população, quando o serviço tiver atingido o desejado aperfeiçoamento, das dificuldades e pesados encargos hoje existentes para aobtenção de boa e abundante água.

(continua)

[1530] Embaixada de Cabo Verde convida


[1529] Continuação do texto do "Diário Popular" sobre melhorias municipais em São Vicente

Ver 1.ª parte AQUI

2 - Diário Popular, 17.05.1954

(continuação)

À medida que iam sendo feitos os trabalhos de calcetamento a que aludimos, outras ruas, avenidas ou largos, já anteriormente calcetados, mostravam carecer de regularização dos pavimentos, cujo estado era de molde a causar apreensões especialmente a senhoras e aos condutores de veículos.

Praça ou praceta do Dr Regala
Dando remédio a tais inconvenientes, o Município foi, também, prestando a melhor atenção a outros aspectos urbanísticos e não esqueceu o aproveitamento de largos cujo aspecto era indigno e que serviam de vazadouro público. Daqui resultaram a Praça do Almirante Reis, com obelisco olímpico e coreto de música; a Praça do Dr. Regala, com busto do médico  do mesmo nome; a reconstrução da Praça do 1.º de Dezembro, a construção da Esplanada da Inglaterra, a reconstrução da Esplanada dos Aviadores e o arranjo do Largo dos Barreiros [ainda hoje, 2015, conhecida como Rua de Coco ou Largo do Cruzeiro], com padrão comemorativo do duplo centenário da Pátria.

A Esplanada de Inglaterra constitui um aprazível miradouro da cidade; a dos Aviadores dá-nos a medida do culto da Câmara pelos heróis nacionais [será a praça conhecida como da Dr.ª Francisca, a da sede da PIDE?].

Dos terrenos baldios já dotados de construções mas ainda sem cota e condições como centro urbano resultaram as seguintes novas artérias: João Machado (prolongamento); Rua de Isidoro José Maria Martins; corte das avenidas de Teófilo Duarte, de Marechal Carmona e Vial do Poeta Jose Lopes; Rua do Dr. Luís Terry; rua sem denomonação ao norte, passando pelos prédios de Manuel Velosa; ruas ao longo da encosta do Alto de Santo António; Rua Nova ao lado do Hospital; Ruas da Fonte de Cónego, do Monte, da Ribeira Bote, etc., algumas oferecendo boas perspectivas e constituindo motivo de agradável deambular.

Para que tais obras representassem, verdadeiramente, o que delas era de esperar no conjunto urbanístico, o Município não descurou as de higiene e salubridade, promovendo a existência de serviços sanitários, retretes, casas de lixo e esgotos, em grês e alvenaria, numa extensão de 2000 metros.

(continua)

terça-feira, 26 de maio de 2015

[1528] Grande e interessante texto sobre São Vicente, no "Diário Popular" (Lisboa) de 17 de Abril de 1954

A coisa resulta das nossas investigações cabo-verdianas na Biblioteca Nacional de Lisboa e é de reputado interesse para nós mindelenses. Aqui vai ela, portanto, em "fascículos", para não cansar muito o escriba nem os leitores.

1 - Diário Popular, 17.05.1954

PARA REALIZAR AS OBRAS NECESSÁRIAS, A CIDADE DO MINDELO RECLAMA A ATRIBUIÇÃO DO IMPOSTO DE 3% "AD VALOREM"

A presidência da Câmara Municipal de S. Vicente, com sede na cidade do Mindelo, é ocupada pelo sr. Júlio Bento de Oliveira, homem activo e empreendedor, dotado daquele entusiasmo no empreendimento que se chama tenacidade. Pessoa habituada às responsabilidades do trabalho e ao estudo, a João Bento de Oliveira - que no cargo de presidente da Câmara sucedeu ao sr. dr. Luís Terry, homem também dotado de espírito de iniciativa - algo ficará devendo (e deve já) a cidade.  A sua obra de dez anos à frente do Município é digna de apreço e não encontrámos na ilha quem lhe regateasse aplauso que não pode deixar de reputar-se de justo, atendendo aos relativamente  pequenos recursos de que dispõe a Câmara para a solução dos seus problemas.

Sirva o apontamento que vai seguir-se  de registo do que tem sido a sua operosa actividade desde 1934.

Desenvolvimento em zonas urbanas

Desde o resgate da concessão da iluminação eléctrica, que vinha a funcionar em péssimas condições e que é, sem dúvida, a obra de maior vulto durante este período, o Município encarou todos os problemas e necesidades da cidade, resolvendo uns, dando a outros algum remédio e, ainda, a terceiros as soluções adequadas às circunstâncias, embora nem sempre com aquela profundidade e extensão que seria para desejar, mas em todo o caso fazendo o que era possível e não esquecndo nenhum dos aspecto da vida municipal. Assim, a Câmara, tendo em vista a necessidade, verificada em várias ruas, de pavimento térreo, realizou as seguintes:

Vial do poeta José Lopes; Ruas Augusto Ferro, Dr. Terry. João Carlos, da Esperança, e Rua do Sol [onde o "dono" do Pd'B fez a segunda parte da 4.ª classe, transferido da da Rua de Coco, por doença prolongada da professora]; Avenidas Amadeu de Figueiredo e de Guedes Vaz; continuação das Ruas Dr. Nunes de Oliveira, do Alto de Santo António, da Boa Vista e de São Nicolau; parte da Rua de D. Angélica, Travessa João Baptista Guimarães; Ruas dr. Martinho Nobre de Melo e Entre Clubes; Largo Almirante Reis; Ruas Barreiros e Guibara [devia ser grafada como Guibarra]; Largo Owen Pinto; parte norte da Rua Camões e Rua do Douro - escada.

Patente aos olhos de todos (mesmo dos que, por habituados, quase já não vêem) a obra de abertura e arranjo de arruamentos é, sem dúvida, uma das de maior interesse do Município, pelo que permite de alargamento  e beneficiação da área urbana, já relativamente extensa, o que faz da cidade maior  que a da Praia, em Santiago, e a de S. Filipe, no Fogo.

(continua)

[1527] Concurso que não é concurso...

Você que é mindelense e sabe tudo sobre a sua cidade, diga-nos lá: onde fica ou ficavam as Praça do Almirante Reis e a Esplanada de Inglaterra? Perguntas difíceis, talvez, mas não para si que... sabe tudo. O Praia de Bote conhece a resposta da primeira mas ignora a da segunda. Veremos como os nossos leitores se portam... Entretanto, deixamo-los com mais uma foto da Foto Melo, a grande casa de imagem de São Vicente.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

[1526] Duas grandes obras da literatura claridosa: "Chuva Braba" (1956) e "O Galo que Cantou na Baía" (1959), ambos de Manuel Lopes

Chuva Braba

Primeiro romance de Manuel Lopes (clique no nome, para ver a biografia de ML), "Chuva Braba" (1956) foi galardoado com o prémio "Fernão Mendes Pinto" de Literatura do Ultramar (Lisboa, 1956, em edição patrocinada pelo Instituto de Cultura e Fomento de Cabo Verde). Chamamos a atenção dos nosso leitores para o facto de tanto a capa como as duas ilustrações do texto (no final de cada uma das duas partes) serem do autor. Há também que referir que segundo parece ML nasceu em São Nicolau e não em São Vicente (como se lê em quase todas as suas biografias), embora tenha vindo cedo para a ilha do Monte Cara, com escassos meses de vida.

Eis a sinopse do livro, retirada do site Wook:

Mané Quim, jovem camponês da Ilha de Santo Antão, vive confrontado com um dilema - aceitar o convite do padrinho e emigrar para a Amazónia, onde o espera uma terra rica, abundante em água e de colheitas fáceis e fartas, ou ficar, com a velha mãe, labutando nas ressequidas courelas, sonhando com a água que lhes dê vida. 

Chuva Braba conta a história de Mané Quim dando-nos um retrato veemente desse extraordinário povo que habita Cabo Verde, com a sua doçura, a sua pureza, o seu estoicismo, o seu apego à terra, no quadro grandioso da paisagem de Santo Antão. 

Sobre Chuva Braba escreveu Vitorino Nemésio: "uma pequena obra-prima da novelística islenha".


Várias folhas estão por abrir, incluindo as primeiras quatro
Primeira imagem, à p. 209

Segunda imagem, à p. 310

Composto e impresso em Lisboa

Edição da Editorial Caminho (1997), que também existe na nossa biblioteca. Ilustração de José Serrão. Esta edição tem um glossário de termos cabo-verdianos que a de 1956 não apresenta. Imagem Internet

O Galo Cantou na Baía / O Galo que Cantou na Baía / Galo Cantou na Baía


O livro contem seis contos:

- O Galo que Cantou na Baía

- O Jamaica zarpou
- As férias do Eduardinho
- No terreiro do bruxo Baxenxe
- O "Sim" da Rosa Caluda
- Ao Desamparinho

A questão do título é algo deconcertante. Saído o conto que dá o nome a esta compilação em 1936 no n.º 2 de Claridade,  o título na capa do livro é "O Galo Cantou na Baía" (sem reticências); porém, em todo o miolo (frontispício, folha de rosto, topos de página e índice) lê-se "O Galo que cantou na Baia...". A edição de 1988 da Caminho (Portugal) indica-o sempre como "Galo Cantou na Baía", tal como surgiu no n.º 2 de Claridade (sem confirmação, porque não conseguimos ver o original ou cópia, embora tenhamos referências deste nome em alguns estudos). 

Temos particular simpatia pelos dois contos iniciais: o do galo - no texto, bicho de "pescoço pelado" (ao contrário do que as imagens de capa de Cipriano Dourado e José Serrão mostram) - que denuncia com o seu canto inesperado a presença de contrabandistas de grogue a Toi, incorruptível guarda da Alfândega e "mornador" e ""O Jamaica zarpou" em que Rui desiste de embarcar num navio que lhe poderia dar segurança e fortuna, ficando a trabalhar, talvez em São Vicente, talvez nas terras da tia Gêgê em Santo Antão.

O livro recebeu prémio do mesmo nome que o anterior (1959).

Capa de Cipriano Dourado (1921-1981), artista português neo-realista com actividade nas áreas da gravura, pintura, desenho e aguarela. A sugestiva imagem da capa prolonga-se na contracapa, numa idealização poética do Mindelo e do Porto Grande




Edição Caminho (Portugal) de 1998, que também possuimos. Image Internet

domingo, 24 de maio de 2015

[1525] Anúncio e agradecimento pela pausa...

No ano do 10.º aniversário da morte do escritor Manuel Lopes (25.Janeiro.2005), próximo post do Pd'B será alusivo a este autor com divulgação de primeiras edições de "Chuva Braba" (1956) e "O Galo Cantou na Baía" / "Galo Cantou na Baía" / "O Galo que Cantou na Baía" (1959) que recentemente entraram na nossa biblioteca cabo-verdiana.

Fotos internet

Enquanto não se completam os cinco comentários no post anterior (condição actual para que haja novo post), Pd'B dorme uma soneca e agradece penhoradamente as férias que os leitores lhe têm dado


sexta-feira, 22 de maio de 2015

[1524] Um concurso com "lions", nada concorrido...

O concurso do post 1518 não foi participado (ver AQUI) e acabou em zero. Mas era bem fácil, dada a imagem mostrada. A palavra inglesa "Lion" e cabeça de leão, só poderiam remeter para a Casa do Leão (ver logótipo junto ao orifício dos discos).

Ora quanto a produtos cabo-verdianos comercializados por esse saudoso e multifacetado estabelecimento comercial em São Vicente, em Cabo Verde e no Mundo, com aquele logótipo e na tempe de diazá, só poderiam ser... discos (musicais, claro). Enfim, concedo que da Casa do Leão também partiam televisões e rádios de transistores Sony, Philips e Philco e tapetes de Dacar para todo o mundo (entre outras mercadorias), mas não eram coisas cabo-verdianas...

Aqui vão dois deles, dos muitos que através da casa da Pracinha da Igreja e da Rua de Lisboa levaram mornas e coladeras de nôs terra a todo o mundo. Ou julgam que a Cesária nasceu de geração espontânea? 





[1523] Corvos da Brava

Novamente, um excerto de "Cartas de Cabo Verde", 1.ª edição de 1946, da autoria do Eng.º português Luíz de Saldanha Oliveira e Souza

Ilha Brava…

(…) Fazem assim a sementeira: um homem dá, com enxada, duas ou três cavadelas e abre uma pequena cova, que ficará com um palmo de profundidade; e vai abrindo outras a eito, sem qualquer alinhamento ou ordem. É seguido por mulher, que em cada uma dessas covas deita quatro grãos de milho e dois de feijão, sendo as covas tapadas por ela mesma, com o pé! A isto se resume todo o trabalho dos que semeiam.

Mas, semeado o milho, começa a vigilância apertada contra os dois inimigos que o querem arrebatar e são os corvos e as galinhas do mato, a que nós chamamos pintadas.

Dada a disposição do terreno, com vales profundos e separados por estreitas colinas, colocam-se rapazes, mulheres e raparigas nestes altos pontos estratégicos, armados de fundas, feitas de fibra de carrapato, que é a piteira a que, salvo erro, chamam agave; e daí vigiam vastas zonas. Vivem temporariamente, para isso, em pequenas cabanas feitas de folhas de carrapato, a que dão o nome de funco, sem dali saírem, pois que lhes levam lá a comida.

Quando os corvos se aproximam, os que os avistam dão gritos e berros, anunciando assim aos outros vigias a aproximação do inimigo. Gritam: "Ó nhô preto! (Ó senhor preto), Ó ladrão!", insultando as aves, e ao mesmo tempo disparam pedras com a funda, ou com esta dão estalos, como se faz com o chicote. Por vezes, é formidável a gritaria que vai alastrando à medida que os corvos se deslocam. (…)

[1522] Regras


Hoje, pelas 10h44, 10 pessoas nas ilhas viam o Pd'B (fora as restantes, em Portugal e nos EUA; o/a visitante da Bielorrússia deve aqui ter caído por engano), tude calóde, gatchóde na sê cantim. Ora não é justo que assim seja. Se as pessoas vêm ao blogue, é porque ele tem interesse, Portanto, se não falam, se não participam, então não merecem o trabalho que a nossa vastíssima equipa de uma só pessoa tem. Querem blogue? Façam por merecê-lo! Braça pa tude munde.

[1521] Motivo de esperança num futuro melhor (em alimentação e... em bom português e crioulo)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

[1520] Quando o Mindelo enlouquece, por causa do futebol. Neste caso, o do Benfica

[1519] Correio de Cabo Verde (São Vicente, 2) - O Nicolau Tolentino que veio de Bissau para São Vicente

Pois é verdade. O Joaquim Nicolau Tolentino veio de Bissau para São Vicente (talvez em regresso definitivo), onde estaria estabelecido com negócio cujo conteúdo desconhecemos (aparelhagem electrodoméstica, talvez), por volta de 1941. E ainda gastava os envelopes que antes utilizara na Guiné, riscando o "Bissau - Guiné Portuguesa - A.O. (África Ocidental)", substituindo esses topónimos por "São Vicente (Cabo Verde) A.O.". Era o tempo da II Guerra Mundial, havia que poupar, até nos envelopes. Atrás, no sítio do remetente, pregou-lhe uma carimbadela do mesmo teor, quando ainda, pelos vistos, nem tinha alugado uma caixa postal nos correios de São Vicente. Quanto ao papelinho colado num e no outro lado do envelope, já sabemos de que se tratava, nesta época de conflito mundial - tanto mais quando havia um Djack a escrever para a Mérca sobre rádios...

E enviava a carta para a Zenith Radio Corporation, em Chicago, a fábrica que inventou maravilhosos rádios que mais pareciam torradeiras e a rádio FM, hoje prestes a cair em desuso, devido ao digital. Honra seja feita então ao Joaquim Nicolau Tolentino que contribuiu para a modernidade da cidade do Monte Cara. Claro que o Zito sabe decerto alguma coisa sobre este tema...



quarta-feira, 20 de maio de 2015

[1518] Concurso 35 do Pd'B - Concurso encerrado, sem vencedor

Pergunta simples, directa e sem ajudas (é escusado pedir uma, sequer): que produto cabo-verdiano era comercializado em São Vicente, em Cabo Verde e no Mundo com este logótipo na tempe de diazá?...

Estamos nos anos 60/70... E está um maravilhoso ramo de acácia em jogo! Pedimos desculpa pela distorção da imagem mas foi necessário ampliar bastante uma foto de pouca definição. Seja como for, percebe-se bem. O concurso estará aberto até amanhã, pelas 22h00 (hora de Lisboa, como sempre).