sexta-feira, 6 de julho de 2012

[0202] BANA, O PRIMEIRO DISCO EM DACAR

Bana é História. Bana não tem comparação. Jamais alguém poderá dizer com acerto que o enorme mnine de Soncente canta melhor ou pior que este ou aquele. Bana é único e irrepetível e sem dúvida o equivalente masculino de Cesária Évora no que toca a mornas e coladeras. PRAIA DE BOTE apresenta hoje o primeiro disco do mestre, gravado em Dacar. Não conhecemos a data de edição mas sabemos que é dos primeiros anos 60. A acompanhá-lo, a orquestra do igualmente importante saxofonista, clarinetista e maestro Luís Morais.

Claro que há un certain monsieur Valdêmárrrrr Pêrrêrrá (pronúncia de Tours) que nos poderá falar do assunto com mais detalhe. Esperemos que o dito monsieur surja - a não ser que esteja distraído a beber um apetitoso tinto da Maison des Vins de Loire. Ou outros por ele, que saibam do assunto. Aqui ficam então a capa, a contracapa e a face A do EP ou 45 rotações, como então se dizia. Uma preciosidade, nada descaderóde, apesar do Nhontono...



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quinta-feira, 5 de julho de 2012

[0201] DA MINDELENSE CASA CONFIANÇA, PARA A SUÍÇA

Em mais um dia comemorativo da independência de Cabo Verde, o PRAIA DE BOTE resolveu dar uma volta pelo seu arquivo, para aqui deixar algo de interessante (como é uso) para os leitores do blogue. Depois de vasculhar durante um bocado, encontrou esta carta enviada da Casa Confiança, sediada na Rua da Luz (perto da nossa praia), para a Suíça. 

Remetida para JENNY, SPOERRY & CIE., em Ziegelbrüke, na Suíça, a cartinha parece ser de 1972 e a empresa à qual se dirigia, fundada em 1863 e encerrada em 1992, era de têxteis, na área do algodão.  Encomenda? Pagamento? Mistério que pouco interessa resolver, já que o facto de demonstrar mais uma vez as importantes ligações do arquipélago (e sobretudo do Mindelo) ao Mundo só por si chegam para nos entusiasmar. Ou seja: ilhas sim, mas isoladas, nunca...

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[0200] 5.JULHO.1975 - 5.JULHO.2012

Nesta data em que colocamos o post n.º 200 e em que simultaneamente se comemora mais um aniversário da independência de Cabo Verde, deixamos no PRAIA DE BOTE uma memória (que alguns já conhecerão mas desejarão relembrar) dos dois primeiros dias do novo país que tanto amamos. Clicando no final do filme, é possível ver outros (dois deles alusivos aos cabo-verdianos nos EUA), entre os quais um com Amílcar Cabral.

Aproveitamos a ocasião para desejar a todos os cabo-verdianos, nas ilhas e na diáspora, as maiores felicidades e a continuação de uma caminhada segura rumo a um tempo de paz e progresso.

terça-feira, 3 de julho de 2012

[0199] AMANHÃ, É O DIA ANTES...

4 de Julho, dia de vésperas na festa dos 37 anos de independência de Cabo Verde. Assim, hoje também vamos colocar algo do "antes". E esse "antes" é uma medalha comemorativa da viagem que o último Presidente da República de Portugal do regime anterior ao 25 de Abril empreendeu a Cabo Verde e à Guiné, em 1968. Chegará o dia em que contaremos com detalhe pormenores curiosos desse acontecimento, mas hoje ficamos pela dita cuja e pouco mais.


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O trabalho foi feito pelo escultor Leopoldo de Almeida, homem de muitas obras para o regime, de que se podem citar, entre outras, a estatuária do Padrão dos Descobrimentos e as estátuas equestres de D, João I na Praça da Figueira (Lisboa) e de Nuno Álvares Pereira (Batalha). Lá estão os escudos de armas da Guiné e de Cabo Verde, lá estão as âncoras alusivas ao facto de Américo Thomaz ser oficial da Armada (ou de a viagem ter sido realizada por via marítima), até as ondas do Atlântico, antes e depois da data. O material é o bronze, o peso 138g e o diâmetro 60mm.

Levantemos um pouo o véu, no que concerne à viagem, na parte que toca à nossa ilha (Américo Thomaz visitou todas, excepto Santa Luzia). Em S. Vicente, na recepção no Palácio (400 convites!!!), actuou o brilhante conjunto "Ritmos Cabo-Verdianos", dos manos Marques da Silva e Amândia Furtado (aluna da Escola Técnica) cantou uma morna especialmente dedicada a Sua Ex.ª. Mas isto já é contar muita coisa... Lá chegará a altura de dar mais detalhes. Só outra coisinha, para os ávidos: o "supremo magistrado da Nação", como então se dizia, viajou no paquete "Funchal". Ou julgavam que tinha aproado ao Mindelo no "Maria Sony"?...

ADENDA

Dadas as mais que excelentes participações do João e do Zito, PRAIA DE BOTE  sentiu-se forçado a oferecer recompensa condigna aos rapazes. Vai daí, foi ao arquivo e deu com dois petiscos adequados. No primeiro caso, não encontrou nem a garrafa de cristal nem o seu conteúdo, mas descobriu dois velhotes centenários de Assomada, Francisca Monteiro e Joaquim Donge, que foram recebidos pelo Presidente. Quanto ao Zito, confirma-se que os comes e bebes para jornalistas foram de estalo. A notícia continua noutra página que já não integrámos nesta adenda. E o "Voz de Cabo Verde" estava em forma. Obrigado a ambos pela participação e recebam aquele braça que se impõe. Resta dizer que as notícias são respectivamente de 14 e 15 de Fevereiro de 1968, embora se refiram a dias anteriores próximos.




NOTA: o próximo post é o n.º 200 e será comemorado com foguetes, fogo de artifício e algo altamente apetitoso ao olhar, à curiosidade e à memória. Vale a pena, garante-se... embora alguns possam já ter visto.

[0198] UM FEITO! AMERICANO ATRAVESSA MAR DE CANAL A NADO, EM POUCO MAIS DE 5 HORAS. ILHAS DE S. VICENTE E SANTO ANTÃO MAIS UMA VEZ UNIDAS

Agradecemos a divulgação à nossa amiga cabo-verdiana Maria Helena Pinto e Neto.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

[0197] EM BREVE, EM PAPEL


A VERDADEIRA, CELESTIAL-TERRENA E ATÉ AGORA DESCONHECIDA HISTÓRIA DO NASCIMENTO DO COLÁ SANJON, NA RIBEIRA DE JULIÃO, post n.º 0194 do PRAIA DE BOTE, será publicado em breve em Cabo Verde, em papel. Não há dúvida: a verdade vem sempre ao de cima, mesmo aquela que é inventada...

Na altura, daremos notícias...

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[0196] AUTÁRQUICAS 2012 EM S. VICENTE - RESULTADOS PROVISÓRIOS



domingo, 1 de julho de 2012

[0195] João Branco

JB. JB pode ser marca de whisky. Mas também pode querer dizer "Jamaica Blues", se nos referirmos à velha musiquinha de Azie Lawrence. Ou "Já boue", se for um luso-nortenho a explicar que já vai. Enfim, muitas são as possibilidades jotabescas das duas letras que no caso querem apenas dizer João Branco. Poderíamos juntar-lhe antes um E de encenador e a coisa estava feita. E se mais adiante agregássemos um A, estaríamos perante um Encenador João Branco Aniversariante... Enfim, ginástica de palavras... 

Ora, para comemorar a data, aqui vai um documento dele, quando o rapazin tinha menos 10 anos. Oferecido à entrada do Auditório Nacional da Praia, algures em Abril de 2002, numa noite tépida e de casa cheia. Vinha a rapaziada do GTCCPM mostrar-se à capital e aqui o PRAIA DE BOTE teve a sorte de estar na cidade em lançamento de livro e ir ver o espectáculo com amigos, de bilhete oferecido. Noite memorável, sem dúvida. Beckett, em som crioulo e com direcção branquesca, só podia agradar. Menos lhe agradou saber que o Auditório, feito pelos chineses, tinha então (e talvez ainda tenha) encaixes de lâmpadas onde só cabiam luminárias vindas da China... Verdade? Mentira? Não o sabe o PRAIA DE BOTE que vende a stóra como lha venderam e era gente de respeito... E que para as substituir, estas tinham de ser mendigadas na respectiva representação diplomática, por não estarem à venda em nenhum local de Cabo Verde... 

Cá ficam então as quatro páginas mais importantes do documento, religiosamente guardado junto a cento e tal livros cabo-verdianos, no lado mais sabe da nossa biblioteca.







sexta-feira, 29 de junho de 2012

[0194] A VERDADEIRA, CELESTIAL-TERRENA E ATÉ AGORA DESCONHECIDA HISTÓRIA DO NASCIMENTO DO COLÁ SANJON, NA RIBEIRA DE JULIÃO

Nova  e última excepção nos próximos tempos, eis mais um texto longo, escrito hoje de manhã, melhorado em início de tarde e pronto para publicar agora. Cheira a pó, suor e peixe frito, mas ainda assim achamos que será bem apetitoso para os leitores. Chega uma semana depois da data de que fala, mas isso não o invalida porque para o ano que vem há novo Sanjon...

Como todos sabemos, depois de ter criado o Mundo, Deus sacudiu as mãos da terra que elas ainda continham, atirando-a para um sítio no Atlântico, mais ou menos entre as latitudes 14 e 17 Norte e longitudes 22 e 25 Oeste, perto do continente africano - o que deu dez ilhas, alguns ilhéus e mais umas quantas rochas anónimas. Tratava-se de Cabo Verde. Depois, Deus lavou as mãos nas águas do oceano e esqueceu-se do arquipélago que inadvertidamente tinha criado. Ainda por cima, nem gente lá pôs.

Coube essa tarefa a uns rapazes que da cara da Europa saíram nos alvores do século XV para o Mundo, em busca de comércio, aventura e terras para expandirem o pequeno rectângulo onde viviam. Claro que, a partir daí, os ditos cujos fizeram algumas tropelias. Mas também se portaram com categoria, noutras ocasiões. E numa dessas, em que estavam bem dispostos, após terem chegado às ditas ilhas, criaram o Homem e a Mulher cabo-verdianos, simpáticos seres como não há outros iguais à face da terra... excepto os portugueses, claro está, e talvez os brasileiros! Simpáticos, os ilhéus, porquê? Porque para além dos genes e cromossomas que muitos deles traziam de África, de onde emigraram forçadamente, herdaram dos mondrongue os de árabes, visigodos, celtas, romanos, lusitanos e sabe-se lá mais de quem que os portugas de há muito transportavam no sangue... Concluindo, tudo boa gente! Nem mais!...

Passou o tempo e os portugueses também se foram esquecendo de algumas das ilhas, sobretudo da de S. Vicente, talvez por esta ser uma das mais carecas de vegetação. Até que, para contrariar a incomodativa pirataria que nela de vez em quando se alojava, os lusos acordaram e resolveram povoá-la, quase no final do século XVIII. Segundo rezam as crónicas, vinte casais e cinquenta escravos foguenses, chefiados pelo capitão-mor João Carlos da Fonseca Rosado, natural de Tavira, criaram a pequena aldeia de Nossa Senhora da Luz à qual, o futuro governador Pusich se lembrou de dar em 1819 o estapafúrdio nome de Leopoldina... Graxa, dizemos nós, graxa queria ele dar à família real, pois Leopoldina era a austríaca esposa do príncipe Pedro, então em forçado (e dourado) exílio brasileiro, futuro imperador do Brasil e Rei Pedro IV de Portugal (neste caso, apenas por uma semana)...

Imagem eBay - Rbera d'Julion, talvez a horta de nha Camila de Café Cantante, de que muitos ainda se lembram

Mindelo foi o nome definitivo, liberal e chamativo, que no crioulo da ilha acabou por perder o finalizante "o", ficando ainda mais falável. E a ilha e a cidade foram crescendo, sob a égide de S. Vicente, o santo marítimo do dia do achamento e padroeiro de Lisboa que emigrou para Cabo Verde ao mesmo tempo que os descobridores aproaram ao território. Mas faltava qualquer coisa. Sentia-se uma necessidade de folia que ainda não tinha o Carnaval para ser saciada. Que se poderia fazer, que se poderia arranjar, para a suprir? Foi então que entrou em cena o santo onomástico. Que diabo, afinal era ele o defensor maior da ilha, aquele a quem, em caso de necessidade de qualquer ordem - embora sempre sob a égide de Nossenhora da Luz - competia interceder pelos mindelenses, sobretudo os que se aventuravam no Mar de Canal ou lá longe nos States, na pesca da baleia. Ora o santo, aproveitando um dia em que Jesus e S. João estavam a conversar, sentados numa nuvem do quadrante 46898/3 do céu, resolveu falar-lhes no assunto. E foi este, exactamente, sem tirar nem pôr, o teor da conversa tripartida que aqui relatamos:

Disse S. Vicente, ao chegar junto a eles:
- Jesus, S. João, bons olhos vos vejam, há que tempos não nos encontrávamos.
- É verdade, Vicente, há muito que não nos vemos. Senta-te aqui nesta confortável ponta da nuvem e diz-me: que tal a tua ilha? Como vai aquele pessoal? - perguntou Jesus, mostrando-se interessado.
- Triste, Senhor. Aquilo é muito boa gente, do melhor que há na Terra por Vós criada, mas falta-lhes qualquer coisa, algo que os divirta e lhes dê energias para prosseguirem o dia-a-dia com outro vigor. Eles bem trabalham, coitados, mourejam, tiram das rochas escalavradas e do mar o sustento mas andam sempre abatidos, sem nenhum ligria. Senhor, morabeza ca ta tchegá pa ser feliz (cabe dizer que S. Vicente já arranhava o crioulo...).
- E que achas que se pode fazer? - perguntou João, o santo pastor.
- Sei lá, talvez inventar-se uma festa. Um farra, um fistinha anual, qualquer cosa divertide, pa tude munde fcá filiz, c'um missa, dança, coladera, funaná, pastilim de midge c’pêxe, sucrinha, um grogue… Talvez, tude djunte.
Jesus cofiou as longas barbas, pensou, pensou e repensou, e ao fim de mais de meia hora resolveu responder:
- Uma festa religiosa, adoçada com coisas do mundo, queres tu dizer?
- Sim, Jesus, por exemplo no meu dia – avançou São Vicente, pensando dar mais cor ao seu 22 de Janeiro.
Mas João, sábio e expedito (e um pouco molestado, diga-se), retorquiu logo:
- Jesus, acho que aqui o Vicente quer açambarcar tudo. Desde 22 de Janeiro de 1462 que a ilha, mesmo sem gente, comemora o seu dia – que foi o da descoberta. Já lhe chega, acho eu. Bem podia ser no meu, que no Mindelo ainda não tem grande significado. Mas Tu, na Tua imensa sabedoria é que tens a última palavra.
Jesus coçou a cabeleira, afagou o bem delineado nariz, olhou para ambos – para o expectante João e para o não menos ansioso Vicente –, espreitou durante uns minutos por um vasto buraco que havia na nuvem e depois de matutar mais alguns uns minutos, disse:
- Tens razão, João, tens imensa razão, como sempre, meu bom amigo. O Vicente já é amado em toda a ilha, até possui uma bonita imagem na igreja de Nossenhora da Luz, de barquinho na mão e tudo, e a ti ninguém te liga, ao contrário do que acontece na terra do dragão, no norte do país dos descobridores, onde até martelinhos em seu nome inventaram e têm um São Jorge Qualquer Coisa da Costa, de carne e osso, para competir contigo. E virando-se para São Vicente, acrescentou: - Bitchenta, tu és bom rapaz, já se sabe, mas agora é a vez do Djon. Estive a observar aquilo lá em baixo e perto do Mindelo está um terreno mesmo adequado para um arraial anual a 24 de Junho: acho que lhe chamam Rbera d’Julion ou coisa parecida, até ali cresce milho quando é época de azágua. Bom sítio para a festa, acho eu, com espaço para as barracas de comes e bebes e para o bailarico. Assim, o Mindelo fica com festa religiosa vicentina, no início do ano, e joanina mista, a meio. Isto, para não falar das restantes como a de Nossenhora da Luz. Contenta-se a santidade toda. Que tal? Que dizes? Achas bem?

Imagem eBay - Quando o milho crescia do nada e a verdura não era miragem

São Vicente, que de facto era compreensivo, embora tenha ficado algo triste por perder uma festa que desde logo se afigurava bem divertida, acabou por cedê-la ao companheiro. E logo regressou ao arquipélago, numa longa jornada, desde lá acima até cá abaixo, incorporando de novo a imagem que ainda hoje vemos na igreja matriz do Mindelo, do lado direito ou da Epístola. De modo que foi dali que durante alguns meses inculcou nos fiéis, sem que eles disso se apercebessem, essa ideia que obviamente frutificou e no sítio pretendido, a Rbera. Claro que houve uns quantos exageros picantes na liturgia mundana da festa, como aquel stóra de “colá Sanjon”, que agora já é impossível remediar, de tão arreigada que está no coração do povo: está feito, está feito. Jesus não se tem mostrado preocupado com isso, Sanjon ainda menos e Sanbitchenta, esse continua todos anos à espera do 22 de Janeiro para comemorar com brilhantismo o seu dia e depois sair a correr da igreja da pracinha a caminho do aeroporto Cesária Évora, para apanhar o avião que o levará a Lisboa onde continua a festa, na Sé, à vista do Tejo que faz estrada com o Atlântico e o Porto Grande. E, quando no Verão tem tempo, ainda dá um saltinho ao lisboeta bairro do Alto da Cova da Moura, para ver o amigo Djon que ali também tem poiso certo a 23 de Julho, com homens dançando dentro de barquinhos embandeirados e apitos a soar e tudo…

Joaquim Saial


Barcos de Colá Sanjon, na Biblioteca Municipal do Mindelo
 Continua...

quinta-feira, 28 de junho de 2012

[0193] VIAGEM A SANTO ANTÃO - 23-25.Julho.1999 (09)


Continuação do post 0189

De súbito, numa curva da estrada, encontro um jipe acidentado. Parece coisa recente, pois ainda há óleo a escorrer da zona do motor que alastra estrada abaixo. Lá dentro, ninguém, nem sinais de que tenha havido problemas de maior com o condutor ou possíveis passageiros. Nas imediações, também não se vislumbra vivalma. Venho a saber depois que se tratava de uma viatura dos serviços judiciários.


A paisagem continua avassaladora. É o Santo Antão de que se fala nos folhetos e roteiros turísticos e que não foge ao que dele se diz. Em país de secas e terras escalavradas, a ilha foge ao padrão habitual, embora também possua zonas falhas de vegetação. Não é que haja exuberância de verdes, pelo menos nesta altura do ano e nesta zona, mas por todo o lado essa cor faz a sua aparição, com maior ou menor intensidade. Nos cumes mais altos, sempre uma bruma que tudo cobre.


Em mais uma curva do caminho, dou com uma casa em construção, no lado da estrada virada para o mar. Há alguns miúdos que me pedem para lhes tirar fotografias. "Tráme um foto, tráme um foto", pedem em coro, mas a película está racionada e como não sei que maravilhas ainda solicitarão cliques da máquina, limito-me a fotografar os tijolos dispostos em várias filas, fabricados no local com recurso a cimento e moldes de madeira. É hábito antigo fazer tijolos deste modo, aqui como em toda a ilha, devido à falta de argila. É este material que dá a cor predominante à paisagem urbana, em quase todo o Cabo Verde. Segundo me contaram, uma casa inacabada, sem reboco ou pintura, não paga impostos ou pelo menos a sua totalidade. Daí que muitas famílias terminem as casas por dentro mas as mantenham com os tijolos à mostra, por fora...


Vou espreitando o mar que ruge lá em baixo e que vejo através de gargantas profundas e perigosas. O rebentamento das vagas produz sons estranhos que se repercutem no ar até ao sítio onde estou.  
[Mais ou menos por aqui iria morrer em desastre de viação o músico Vadu, em 12 de Janeiro de 2010, quando a viatura em que seguia caiu ao mar.]


Estou próximo de Ponta do Sol. Do lado de terra, um pouco antes da localidade, perfila-se uma fiada de prédios, ainda em construção, com três andares e muito bom aspecto que não parecem corresponder à frase presente no cartaz que os dá como sendo de habitação social. O dono da obra é a Câmara Municipal de Ribeira Grande e os financiadores são esta e o Grão Ducado do Luxemburgo, um do maiores benfeitores estrangeiros de Santo Antão e país onde muitos santantonenses mourejam.

Passa por mim o casal de portugueses que não via desde o dia anterior, ao que suponho de regresso a Ribeira Grande. Não se vê mais ninguém na estrada. Cumprimentamo-nos com um educado aceno de cabeça mas não chegamos à fala. Suporão eles que também sou português? Pode ser que sim, embora não me tenham ouvido falar. A verdade é que não metem conversa e eu agradeço interiormente a gentileza...

 .CONTINUA

quarta-feira, 27 de junho de 2012

[0192] DE COMO UMA FOTO COM DONO PASSA A FOTO SEM DONO...

A coisa começa no dia 7 de Maio de 2012, em "A Semana", num artigo intitulado "Movimento para a salvaguarda da residência do químico Roberto Duarte Silva: edifício vai ser exploratório de ciências". E continua a 13 do mesmo mês, em "Funco - Portal de Arquitectura de Cabo Verde" (que cita como fonte, e bem, o dito artigo de "A Semana").

A imagem que ilustra ambos os artigos é aqui do PRAIA DE BOTE, digitalizada por ele, a partir de foto em papel que o mesmo PRAIA DE BOTE fez em Santo Antão no dia 23 de Julho de 1999 e mandou revelar em S. Vicente.

Esta nota é só para ficar o registo de propriedade intelectual. Que quanto ao resto, que se lixe, pois o excepcional Roberto Duarte Silva merece a apropriação e o PRAIA DE BOTE até sabe que só se copia o que é bom... Mas, com franqueza, o nome do PB podia ter sido inserido na primeira notícia... ai podia, podia, mas não o foi...

Aqui vai ela, mais uma vez, que noutro local do blogue também pode ser vista.


terça-feira, 26 de junho de 2012

[0191] PRAIA DE BOTE regressa, agora de vez!

Hoje: Um trailer do documentário "Dona Tututa", que alguns eventualmente já viram. Ao que parece, o filme estará pronto em breve. Nele, o PRAIA DE BOTE colabora com uma ajuda mínima mas ainda assim...

CLIQUE NA IMAGEM, PARA VER O TRAILER
PRAIA DE BOTE foi contactado, por causa de artigo que publicou em tempos no "Liberal", no qual citava um texto do "Diário Popular" de Lisboa (1952), sobre as noites do Mindelo, onde o correspondente anónimo dizia a dado passo: «Visitámos, à hora adiantada da noite, o Café Royal, onde uma negra toca melancolicamente piano numa alegria que se perdia nas trevas da noite, sem público que contagiasse… Depois, os músicos, negros também, acompanham os jornalistas que percorrem a cidade e vão, tal como numa serenata coimbrã, acordando a população com as suas mornas tristes, nostálgicas, cantadas por vozes dolentes e tocadas em ritmos cheios de sentimento pelo Mochinho do Monte – um cantor ambulante cheio de intuição e de talento. A noite cabo-verdiana ia-nos cercando gradualmente…»

Este excerto do dito texto, desenterrado pelo PB, um dos mais de 4000 que já armazena no seu arquivo sobre as ilhas, completará o documentário, o que muito nos honra. Esperemos, então, pela estreia...


Amanhã: Colocação do texto integral até agora escrito sobre a famosa viagem a Santo Antão
Destina-se a recordar o trabalho já feito - que será continuado, sempre em episódios e com fotos ilustrativas.

Depois de amanhã: Continuação da viagem a Santo Antão.

Em data oportuna: Talvez (repito!... talvez), muito boas notícias acerca de algo sobre Jorge Barbosa.

Obrigado por  terem esperado por este regresso.
Braça pa tude munde e leitura sabe.
Djack

sábado, 31 de março de 2012

[0190] O regresso do Praia de Bote

Regressa o PRAIA DE BOTE, após longa espera no seu passeio a Santo Antão. Digamos que a praia ficou congelada no tempo... por algum tempo. Assim, continuará em breve a dita viagem à ilha irmã. Entretanto, que melhor maneira de recomeçar que com Santo Antão, mas em forma de navio? Sim, o "Santo Antão", de curta vida, lançado ao mar em 1957 mas afundado prematura e ingloriamente em 1966, ao esbarrar numa rocha junto a Santa Maria, no Sal. A notícia que aqui colocamos é do "Diário de Notícias" de New Bedford, de 5 de Junho de 1957, e os dados técnicos retirámo-los com a devida vénia do blogue "Finisterra".


Só uma precisão: embora se diga que o navio era de carga, ele levava passageiros, sempre que necessário. O meu pai viajou nele, pelas ilhas, visitando faróis e outras instalações marítimas. E eu poderia também ter tido essa sorte se os meus progenitores me tivessem deixado fazer uma viagem da Mocidade Portuguesa que muitas dezenas de colegas meus realizaram e a cuja chegada assisti, invejoso, no cais acostável de S. Vicente. Medos de pais receosos...

Navio "Santo Antão"

Tipo ... Navio de carga
Construtor ... C.U.F. - Companhia União Fabril
Local construção ... Estaleiro Naval da A. G. P. L. - Lisboa
Ano de construção ... 1957
Registo ... Capitania do porto de Lisboa, em 2 de Novembro de 1957, com o número H 448
Sinal de código ... C S D L
Comprimento fora a fora ... 53,30 m
Boca máxima ... 9,02 m
Calado à proa ... 3,35 m
Calado à popa ... 3,63 m
Arqueação bruta ... 543,31 Toneladas
Arqueação Líquida ... 253,92 Toneladas
Capacidade ... 450 m3
Porte bruto ... 585 Toneladas
Aparelho propulsor ... Um motor diesel, de 5 cilindros, construído em 1955 por Burmeister & Wain, em Copenhague, Dinamarca.
Potência ... 500 cavalos
Velocidade máxima ... 11,0 nós
Velocidade normal ... 9,0 nós
Tripulantes ... 14
Armador ... Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes - Lisboa

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

[0189] VIAGEM A SANTO ANTÃO - 23-25.Julho.1999 (08)

A noite decorreu bem, em cama confortável, e a manhã acordou sorridente e soalheira. O dia parece perfeito para a passeata prevista. Dirijo-me à casa de banho ao fundo do corredor e enfrento a primeira grande decepção em Ribeira Grande – e afinal única, como depois verificarei. Não há palavras para descrever o antro, bem equipado mas incrivelmente imundo pela passagem de hóspedes desconhecedores dos mínimos requisitos civilizacionais. Em bicos de pés, num chão alagado, com a toalha num ombro e um sabonete (meu) na mão esquerda, lavo-me com a outra, em malabarismos que nunca pensei praticar. Barba feita e cara lavada, constituem a reduzida ablução matinal. Impossível tomar duche em tais condições…

Saio do hotel e passo de novo pela igreja matriz que agora fotografo. Alguém abre a porta do templo, para a missa da manhã. Entram os poucos fiéis que já estavam por ali e eu também. Olham-me com curiosidade, mas nenhum me interpela. Daí a pouco entram mais pessoas, algumas das quais encontrara no dia anterior. Minutos após, volto à rua, para continuar a minha volta. O Fony deve estar a chegar. Tem coisas para resolver e o nosso passeio está previsto para a parte da tarde mas combinámos encontrar-nos antes para acertarmos pormenores, pois reservei a manhã para ir a pé a Ponta do Sol.


Foto Joaquim Saial - Igreja de N.ª Sr.ª do Rosário, Ribeira Grande

Antes, ainda vou procurar a casa onde nasceu o reputado químico Roberto Duarte Silva (1837-1889), uma das maiores personalidades científicas que as ilhas cabo-verdianas deram ao mundo. Como a terra é pequena, não demoro a encontrá-la. Mais uma vez verifico que para se ser um grande homem não é necessário nascer em rico palácio. A casa, modestíssima e a precisar de pintura, alberga hoje a Mercearia Cipriano Cruz. Registando a memória do notável ribeiragrandense que passou pela China e por Lisboa e em Paris atingiu raras honrarias, subsiste uma placa indicativa por cima da porta da loja. 


Foto Joaquim Saial - Casa natal de Roberto Duarte Silva, Ribeira Grande

Junto a escola primária próxima, encontro o Fony. Estamos a conversar, quando chega uma senhora, a professora primária D. Isabel, que o conhece. Trocamos impressões sobre a Ribeira Grande e o que eu já vira naquele e no dia anterior. Nisto, ela aponta-me para o pedaço de calçada sobre o qual nos encontramos. Custa-me acreditar no que os meus olhos vêem: um escudo português, em pedra branca, remanescente dos tempos coloniais, incrustado no negro vulcânico do pavimento. A D. Isabel descreve ponto por ponto os sinais do símbolo nacional lusitano. Não me admiro, pois é de uma geração próxima da minha, em que nas escolas do Império os miúdos eram obrigados a ter esse e outros conhecimentos. É famosa, pelo seu ridículo, a situação que obrigava alunos dos confins de Angola ou Moçambique, para não falar dos da Índia, Macau e Timor, a saberem todas as linhas de comboio de Portugal continental… São cerca de dez horas. Despeço-me e dirijo-me para o lado do oceano, para bordejar a ilha pela estrada que leva à Ponta do Sol. Aproveito para fazer fotografias, entre as quais venho a encontrar duas das mais interessantes da campanha de Cabo Verde: a primeira retrata a ravina junto à estrada, por onde passa um homem carregado com lenha e a outra duas crianças que observam uma galinha a correr em velocidade acelerada, sem motivo aparente que o justifique (que não coloco aqui, por motivos óbvios, embora já se tenham passado mais de dez anos). No percurso, ainda perto da cidade e junto ao mar, repetem-se as pocilgas, cada uma com um ou dois porcos. A estrada vai subindo, o ar torna-se cada vez mais puro. Montanhas pela esquerda, sol por cima, Atlântico à direita. A paisagem é perfeita.


Foto Joaquim Saial - Estrada Ribeira Grande / Ponta do Sol

Foto Joaquim Saial - Estrada Ribeira Grande / Ponta do Sol (pocilgas)

Foto Joaquim Saial - Estrada Ribeira Grande / Ponta do Sol (pocilgas)

Foto Joaquim Saial - Estrada Ribeira Grande / Ponta do Sol (ao fundo, a últimas casas de Ribeira Grande)
.CONTINUA

domingo, 22 de janeiro de 2012

[0188] CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE DO MINDELO ELEVADO A PATRIMÓNIO NACIONAL DE CABO VERDE




Aleluia, aleluia!!! Milagre, milagre!!!
Finalmente foi feita justiça à urbe do Porto Grande e do Monte Cara! O Centro Histórico da cidade do Mindelo é hoje elevado a Património Nacional de Cabo Verde (e consequentemente a Praia de Bote, também!)




19 Janeiro 2012  (in jornal "A Semana")

O centro histórico de Mindelo é agora património nacional de Cabo Verde, anunciou esta quinta-feira, 19, aos vereadores e presidente da Câmara Municipal de São Vicente, o director desta área do Instituto da Investigação e do Património Culturais, Jair Hamilton.

Com esta classificação a cidade do Mindelo passará a usufruir de um plano de preservação legal e valorização do seu património, que tem interesse histórico, arqueológico, artístico, científico e social, a ser elaborado em conjunto pelo Estado, autarquia e munícipes.

O anúncio ao povo mindelense será feito no domingo, 22, dia do município de São Vicente, por Mário Lúcio Sousa, ministro da Cultura, durante a sessão solene em comemoração dos 550 anos de descobrimento da ilha do Porto Grande.

Além de Mindelo, neste ano também serão classificadas como património nacional a zona do Plateau, na capital Praia, a cidade de Nova Sintra, na ilha Brava, e a Baixa de São Filipe, no Fogo. Classificações que resultam do inventário do património nacional feito em 2011 pelo IIPC.

O momento é de enorme alegria e por isso o PRAIA DE BOTE interrompe a viagem a Santo Antão para as devidas comemorações. Como não podia deixar de ser, regozijamo-nos com esta notícia, esperando que o galardão anunciado constitua de facto início de um novo ciclo de prosperidade da ilha de S. Vicente e afaste de vez o conjunto de malfeitorias que lhe têm sido feitas, nomeadamente na área de lesa-património. Sendo possível que S. Vicente tenha tido miraculosa influência na decisão que já tardava, aqui vai (e no dia em que o mesmo se comemora) uma fotografia da veneranda imagem do santo presente na igreja de N.ª Sr.ª da Luz.



sábado, 7 de janeiro de 2012

[0180] Mais dez minutos de sodade num dos melhores filmes sobre o "Dia de Cesária"

[0179] Divertido texto de Zito Azevedo

O ENGATE…

Zito Azevedo
Estava frio em Lisboa, nesse Outono de 1956, enquanto eu e mais uma mão-cheia de amigos aguardávamos ordem de embarque para Luanda, todos futuros Aspirantes do Quadro Administrativo de Angola, todos oriundos de Cabo Verde, principalmente de S. Vicente e da Praia… Lembro, além dos meus fieis companheiros na viagem desde o Porto Grande a bordo do “Ganda” (Dick Ferro e Adriano Lima), do Caldeira Marques, do Serra, do Lúcio e muitos outros pois, ao que recordo, éramos uns dezasseis, ao todo.

Os que tinham chegado antes de nós deram-nos algumas dicas sobre como tratar das coisas no ministério do Ultramar ou seja, não devíamos levar de uma só vez todos os documentos que nos eram exigidos, como declarações, estampilhas fiscais, certificados, etc., mas, apenas, uma parte. O funcionário do ministério dava-nos um raspanete e concedia mais dez dias para entregarmos os documentos em falta. A gente desculpava-se com a nossa ignorância, devida a falhas de informação, e dez dias depois lá íamos com mais alguns papeis… Bem, quando, finalmente, embarcámos em Lisboa para uma viagem de cerca de doze dias que nos havia de levar até S. Paulo de Luanda, tinham já passado trinta dias desde a nossa chegada de Cabo Verde…


Claro que isso deu-nos tempo para calcorrear Lisboa de lés-a-lés, ir à Casa das Fardas comprar calças, calções, camisas, boné, tudo em caqui, verde garrafa, meias altas,  botins castanhos e uma espécie de crachás de metal amarelo com as quinas pintadas a azul, que se fixavam às pontas dos colarinhos e eram o pormenor que nos identificava profissionalmente. Eu, que tinha perdido toda a minha melhor roupinha, num desagradável incidente no Porto da Praia (Santiago), fiz uma peregrinação à Avenida Almirante Reis que era, na altura, a Babel das compras, de onde regressei de calças de feltro cinzento clarinho e um casaco bem quente cor de tijolo. Era o conjunto da moda, como hoje acontece com as calças cinza e os “blazers” azuis.

Nós, os três que tínhamos viajado juntos, víamo-nos todos os dias e era rara a noite que não íamos beber umas cervejitas ao “Bolero”, um bar-dançante, “cabaret” ou como lhe queiram chamar. O “Bolero” ficava (e parece que ainda fica…) ali no começo da Rua da Palma, que sempre teve má fama, vá-se lá saber porquê. Era um sítio acolhedor, o consumo mínimo era uma cerveja que já não me lembro quanto custava, e tinha um conjunto musical com uma pinta especial: era um saxofonista, que também tocava clarinete, um acordeonista e um baterista; eram três, dos quais, dois, eram cegos… Nos intervalos das suas actuações, dava gosto ver o cuidado com que o baterista, o único que via, guiava os seus companheiros para fora do palco, diligentemente os acomodava a uma mesa onde três cervejinhas frescas os aguardavam e onde entabulavam animada conversa. Durante estes intervalos, contudo, o baile continuava, graças às músicas de uma “jukebox” bastante gasta, estrategicamente colocada a meio da maior parede do salão. Há coisas que a gente jamais esquece, por muitos anos que passem e o que se passou quando faltavam cinco dias para embarcarmos para Luanda certa noite, no “Bolero” é disso paradigma.

Dizia-se à boca pequena que o “Bolero” era um lugar de “engate”, que por vezes se viam uns parzinhos saírem sorrateiramente, fazendo os possíveis e os impossíveis para parecerem invisíveis e que umas vezes não regressavam e outras voltavam parecendo  pouco à-vontade. Claro que nós não dávamos grande importância às más-línguas: a nossa intenção era passar umas horas divertidas, dar uns pezinhos de dança, beber umas cervejas, ocasionalmente um “whisky” baptizado, comer uma tapas… Nessa noite, os músicos descansavam e a máquina tocava – tenho a certeza - “No Man Is An’Island” e o Adriano dançava com uma moça cuja cabeça lhe dava pelo ombro,  de corpo bem feito moldado por um vestido de malha cinzento, sapatos pretos e cabelo solto. Dançava bem, a moça, embora coxeasse levemente, com a perna esquerda. Passou-se um  minuto, dois minutos e a cabeça do Adriano emergia acima da turba dançante, lá no fundo da sala quando ouvimos a exclamação disparada pelo vozeirão do nosso companheiro e que nos gelou o sangue: “O QUÊ? QUINHENTOS PAUS?”

Em menos de um fósforo, o Adriano atravessou a sala e saiu porta fora. Ficámos três dias sem o ver!

Zito Azevedo
Queluz, 3 de Janeiro de 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

[0177] "Mindelo e Porto Grande", poema de Valdemar Pereira

Valdemar Pereira
Porto Grande, a bela concha orlada pelo anfiteatro da cidade do Mindelo e montanhas circundantes em que avulta o Monte Cara, sempre foi motivo de inspiração de poetas e músicos da nossa cidade. Lá longe, na diáspora, em terras gaulesas, o nosso colaborador Valdemar Pereira não foge a essa sina (nem quer fugir), talvez com uma garrafa de Bordeaux por perto, comedidamente bebida (como sabe melhor)... à falta de um grogue di terra mais animador em momentos de escrita.

Praia de Bote agradece ao autor e amigo e oferece o petisco aos seus banhistas, em mais um tempo de sodade de nôs Mindelo e de nôs Porto Grande.




Mindelo e Porto Grande

O mar do Porto é belo com seu reflexo azul
sobre a água o fulgor de uma incrível cor anil
onde o ilhéu dos Pássaros, rochedo cinzento,
salta misteriosamente ampliando o momento
onde as almas, sem palavras, com harmonia
se encontram para um deleite dessa sinfonia
do Mar Eterno sem fundo sem fim d'Eugénio
ilustre e perene, já que foi egrégio e génio.

Infinitamente presente, a ventania lancinante
conta os estrofes duma Morna emocionante
com suas palavras de alegria ou melancolia
ou mesmo qualquer outra singular melodia
enquanto apreciamos o divino Monte Cara
e Porto Grande, que já não é o de outrora
com paquetes, veleiros e barcos de carga
onde havia azáfama dia e noite até aurora.

Enquanto seus poetas escreviam os versos
e os pintores criavam painéis mais diversos
o povo tinha seus sucessos e seus reversos
momentos de algum júbilo e muita tristeza.
Havia certamente uma escondida pobreza
mas, no fundo, dissecado, digo de certeza,
embora as alturas de fome e de gravidade
que houve no Mindelo e no Porto Grande
tivemos gente de coragem e de dignidade.

[0176] Nova embaixadora de Cabo Verde em Portugal - Notícia e foto do site da embaixada

A economista Madalena Neves, ex-ministra do Trabalho, Família e Solidariedade Social, é a nova embaixadora de Cabo Verde em Portugal, adiantou o chefe do Governo. José Maria Neves anunciou o nome da nova embaixadora em Lisboa numa entrevista à Televisão Independente de Cabo Verde (Tiver), transmitida na quinta-feira a noite.

Na mesma entrevista Neves garantiu que o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, deu o seu consentimento para a nomeação de Madalena Neves e que as autoridades portuguesas já concederam o seu aval à nova diplomata cabo-verdiana.

O Chefe do Governo anunciou também que, até finais de janeiro de 2012, serão conhecidos os novos embaixadores de Cabo Verde em Espanha, França e Alemanha.

Formada em Economia na Ex-URSS, Madalena Neves chefiou nos últimos dez anos vários ministérios dos governos de José Maria Neves, tendo estado até março deste ano como ministra do Trabalho, Família e Solidariedade Social.

Cabo Verde estava sem embaixador em Portugal desde o início do ano, quando Arnaldo Andrade, que ocupava o posto, foi eleito deputado, a 06 de fevereiro de 2011, pelo círculo da Europa na lista do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).

O PRAIA DE BOTE deseja à novel representante dos interesses de Cabo Verde em Portugal os maiores sucessos, a bem da estimada comunidade cabo-verdiana a residir e a trabalhar neste país.

domingo, 1 de janeiro de 2012

[0175] No início do novo ano

Foto Narciso Silva - Banda Municipal de S. Vicente (clique para ampliar)

Neste dia 1 de Janeiro de 2012, o PRAIA DE BOTE renova-se "na continuidade", com nova folha de rosto e mais espaço para as fotos que numa primeira abordagem já não precisarão de ser ampliadas (excepto se o visitante desejar ver pormenores). Era o mínimo que se podia fazer a quem em menos de um ano nos ofereceu mais de 18 000 cliques...

E, oferta por oferta, aqui vai uma foto que já divulgámos noutras circunstâncias mas que merece carinho especial, nesta data também especial, de abertura do ano. A Banda Municipal de S. Vicente a tocar no mesmo dia de 1964 (tempo de nhô Reis ta dirigile) as Boas Festas ao Patrão-mór da Capitania dos Portos, na Rua de Praia ou Avenida da República, como a artéria verdadeiramente se chama e se pode ver na placa aparafusada na parede do quintalão de Vascónia da antiga Ferro & Companhia, sob anúncio da cerveja angolana Cuca. No fim, uma nota de 20 paus recompensou a atenção da banda para com a autoridade marítima... e bem merecida a nota foi!

Abraço para todos os banhistas da PRAIA DE BOTE e continuação de bom ano.

Djack d'Captania